Em clima de campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro participou, ontem, em Brasília, do evento de filiações ao Partido Liberal, no qual ingressou após uma longa temporada sem partido. Antes mesmo de Bolsonaro começar a discursar, o locutor de rodeios Cuiabano Lima deu o tom que provavelmente deverá marcar a campanha da reeleição: “Estamos vivendo uma batalha que não é somente política, é espiritual”, disse Cuiabano. E passou a chamar Bolsonaro somente pelo nome do meio, “Messias”, que quer dizer “o escolhido”, a forma como Jesus Cristo era chamado.
As trajetórias de Bolsonaro e de Jesus Cristo começaram, então, a ser misturadas pelo locutor de rodeios. “Tentaram matar o Messias”, disse, referindo-se ao atentado a faca que Bolsonaro sofreu no final da campanha de 2018. “Soltaram o Barrabás”, prosseguiu, referindo-se não ao criminoso que foi solto no lugar de Cristo no momento da crucificação, mas da libertação do principal adversário de Bolsonaro na corrida eleitoral deste ano, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. “Da mesma forma como Pôncio Pilatos, vieram os tribunais”, adiantou, e, apontando para Bolsonaro: “Este homem é o escolhido. Deus não escolhe os capacitados. Deus capacita os escolhidos”. Em seguida, Cuiabano pediu a todos os presentes que rezassem um Pai Nosso.
No canto direito da plateia, Marilena dos Santos, 52 anos, levantava contrita nas mãos uma pequena Bíblia. “Eu vim de Unaí só para ver o escolhido”, disse a evangélica, adepta da Igreja Mundial do Poder de Deus. Em alguns momentos, Marilena pulava, empolgada, com a Bíblia nas mãos. O clima que misturava política e região foi confirmado logo depois por Bolsonaro no seu discurso. “Não é uma luta da esquerda contra a direita. É uma luta do bem contra o mal”. O evento ocorreu no Centro Internacional de Convenções em Brasília e inicialmente chegou a ser anunciado como o lançamento da pré-candidatura de Bolsonaro à reeleição. Alertado por advogados, o PL mudou o caráter do evento como um ato de filiação. E anunciou novas filiações. Faixas retratavam Bolsonaro como “O Capitão do Brasil”, indicando que esse pode ser o slogan da campanha.
– Agradeço a Deus pela minha vida e pela missão de estar no Executivo federal pelas mãos de pelo menos 58 milhões de brasileiros – disse Bolsonaro no início do seu discurso. E emendou: “O Brasil vive um momento difícil. Todo poder emana do povo, mas nós temos que ter lideranças sérias. Para defender a democracia, tomarei a decisão que for necessária, a quem quer que seja. Para isso, tenho um exército ao meu lado. E vocês sabem do que estou falando”. O presidente ainda afirmou: “Me embrulha o estômago jogar dentro das quatro linhas, mas a Constituição me obriga a isso”. (Com informações do “Congresso em Foco”).