Nonato Guedes
Filiado a um partido, o PP, que é símbolo do “Centrão” na Câmara, e descendente, na Paraíba, de uma oligarquia familiar que se impõe no cenário político pela força do poder econômico e por bandeiras conservadoras, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro está sendo desafiado a vestir o figurino de pré-candidato da base oficial à única vaga ao Senado que estará em jogo nas eleições de outubro. Ele está praticamente ungido pelo governador João Azevêdo (PSB) como postulante, depois que o deputado federal Efraim Filho (União Brasil) se desligou da seara governista estadual protestando contra “indecisões” do chefe do Executivo e alegada falta de reciprocidade na relação política. De concreto, Aguinaldo quer fazer companhia no Senado à sua irmã, Daniella Ribeiro, que se tornou a primeira senadora eleita na história da Paraíba em 2018.
Além do apoio do governador João Azevêdo, Aguinaldo Ribeiro conta com o reforço do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, seu companheiro de legenda, para avançar numa disputa que se prenuncia acirrada e que envolve, além de Efraim, o ex-governador Ricardo Coutinho (PT), pendente de solução do problema da inelegibilidade, o candidato do PL, Bruno Roberto, filho do deputado federal Wellington Roberto e bolsonarista de carteirinha, e o pastor Sérgio Queiroz, também alinhado com o bolsonarismo e recém-filiado ao PRTB. Pesquisas realizadas lá atrás, quando ainda reinava a queda de braço entre Efraim e Aguinaldo pelo apoio na base oficial, sinalizaram liderança de Ricardo no páreo, seguido por Efraim, que aprofunda os laços com o pré-candidato ao governo pelo PSDB, Pedro Cunha Lima, formando chapa de oposição ao governo João Azevêdo.
A inclusão de Aguinaldo Ribeiro na chapa encabeçada pelo governador experime as contradições do jogo político-eleitoral este ano no Estado. João Azevêdo empenhou todas as suas fichas numa obsessão – a de ser aceito na base de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem tem afinidade. Para tanto, empreendeu uma volta olímpica em termos partidários que o levou de volta aos quadros do PSB, após permanência de um ano no “Cidadania”. O PSB tem o candidato a vice na chapa de Lula, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que a ele se filiou dentro dessa perspectiva de compor a dupla. Já o PP do deputado Aguinaldo Ribeiro tem um ministro influente no governo Bolsonaro, que é Ciro Nogueira, da Casa Civil, um crítico impenitente do ex-presidente Lula, a quem elogiou no passado. O PP é tido pela mídia sulista como um partido oportunista, que gosta de oferecer seus préstimos (votos no Parlamento) aos governos de plantão, sejam quais forem.
Já o deputado Aguinaldo Ribeiro tem um perfil oscilante. Remanescente das gerações que formaram o “Grupo da Várzea” na Paraíba, ele se permitiu algumas guinadas espetaculares na sua biografia para se compor com o poder. Foi assim que ocupou uma secretaria na administração de Ricardo Coutinho na prefeitura de João Pessoa e também registrou passagem pela administração estadual. Chegou a ser ministro das Cidades do governo da presidente Dilma Rousseff (PT), que o cumulou de atenções e, durante agenda na Paraíba, fez uma visita ao “clã” familiar de Aguinaldo nos domínios de Campina Grande. Nem por isso, Ribeiro foi incondicionalmente leal à mandatária. Ele figurou entre os deputados que apunhalaram Dilma votando pela aceitação do impeachment que foi movido contra ela e que se consumou, afinal. O PT criou o mantra de que “foi golpe” para se referir ao impeachment de Dilma, insinuando uma quartelada parlamentar para destituir a primeira mulher eleita presidente da República.
Sem verniz ideológico, Aguinaldo Ribeiro rege-se na militância política pelo pragmatismo, focado em alianças de ocasião que sirvam ao seu próprio interesse ou aos interesses do “clã” familiar a que pertence. Na legislatura passada, na Câmara Federal, foi aliado do então presidente Rodrigo Maia, que era filiado ao Democratas (hoje extinto, mediante a fusão com o PSL, que resultou na criação do União Brasil). Ribeiro ganhou, inclusive, a relatoria do texto original do projeto de reforma tributária, que depois lhe foi retirada – e esta é uma das poucas contribuições de repercussão que tem oferecido no desempenho na vida pública. Ultimamente procurou investir na atração e destinação de recursos para o Estado, beneficiando o governo Azevêdo e, prioritariamente, a administração de Cícero Lucena, que foi o maior defensor da sua postulação como pré-candidato ao Senado, diante da chance de acomodar outros interesses pessoais também no tabuleiro.
Dizia-se, do deputado federal do PP, até então, que ele vinha “jogando parado” no ensaio preliminar de lançamento de candidaturas às eleições majoritárias. Enquanto Efraim Filho foi ágil e habilidoso na costura de adesões de lideranças municipalistas e na conquista de apoios de parlamentares e dirigentes de partidos importantes na cena paraibana, Aguinaldo Ribeiro fechou-se em gabinete, operando nos bastidores junto a grupos políticos influentes em cidades do interior. Mas, pelo que se sabe, ao mesmo tempo, intensificava a pressão junto ao governo de João Azevêdo e junto ao prefeito Cícero Lucena para alcançar o desideratum que aspirava. O propósito foi conseguido. Mas a verdadeira batalha começa de agora em diante, com os questionamentos que Ribeiro terá de responder e com a desenvoltura que precisará mostrar para se tornar competitivo na jornada. Se não parte do zero na empreitada, igualmente não chega a colecionar grandes trunfos com antecedência. A batalha ao Senado será renhida, sob todos os pontos de vista, na atualidade política paraibana.