Nonato Guedes
Coube ao prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), um interlocutor credenciado junto ao governador João Azevêdo (PSB), acirrar a polêmica de bastidores sobre a formação da chapa que o chefe do Executivo encabeçará nas eleições de outubro. Curiosamente, Cícero polemizou propondo união em torno de toda a chapa que for sacramentada, definindo que se trata de uma regra curial para quem quer ganhar a eleição e que, em tese, beneficia a todos – do governador aos deputados federais, estaduais e senador. A opinião seria impecável se não estivesse havendo, com antecedência, um descolamento de apoio a nomes na órbita governista. O deputado federal Hugo Motta, por exemplo, como presidente do Republicanos, reiterou apoio a Azevêdo mas para o Senado reafirmou intenção de apoiar a pré-candidatura do deputado federal Efraim Filho (União Brasil).
Como Efraim rompeu com a candidatura do governador à reeleição, fechando com a pré-candidatura do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), Cícero, que tem sido o grande articulador da candidatura do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) ao Senado, alertou que não é correto que haja aliados defendendo duas ou três candidaturas majoritárias diferentes. A temperatura elevou-se nos meios políticos porque estes foram surpreendidos com a articulação espetacular da senadora Daniella Ribeiro, que assegurou seu ingresso no PSD, praticamente tomando a legenda do controle do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues e sendo premiada com a direção estadual. A legenda é importante, inclusive, na contagem de tempo para o Guia Eleitoral – e a ação de Daniella permitiu aos Ribeiro ampliar seus tentáculos pelo quadro partidário paraibano, com isto ganhando capilaridade para disputar as eleições deste ano.
Não faltou quem especulasse que a própria senadora Daniella Ribeiro, em face da nova conjuntura que se desenha, volta a ser recolocada no eixo das especulações como alternativa para concorrer diretamente ao governo do Estado. É uma bandeira que tem sido agitada de forma recorrente nos meios políticos locais sem que Daniella seja afirmativa na disposição de encarar o desafio. Apenas numa oportunidade, e ainda assim vagamente, pautou no seu discurso como legítima a pretensão de ascender ao governo da Paraíba, quebrando mais um tabu – o primeiro foi quando se elegeu a primeira senadora da história, nestes domínios, em 2018. Mas apesar da lembrança sobre a “opção Daniella”, o que continua em foco, e com muita força, é mesmo a pré-candidatura do deputado federal Aguinaldo Ribeiro.
Nota-se que a partir do afastamento do deputado Efraim Filho da liderança do governador João Azevêdo, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro foi encorajado a se tornar mais agressivo na colocação do seu projeto de conquistar a única vaga ao Senado que estará em jogo no pleito vindouro, abandonando a postura “de gabinete” que até então vinha caracterizando o seu comportamento e a sua abordagem a políticos paraibanos para reforçar a empreitada majoritária. Como se fosse um movimento sincronizado, a partir dos sinais de encorajamento, Aguinaldo e o “clã” a que pertence correram para conquistar mais espaços e dar competitividade ao esquema, até no embate preliminar com outras alas interessadas em participar do jogo. A soma de convergências passa, agora, pela atuação de Daniella Ribeiro e a perspectiva de ingresso triunfal no PSD, com as bênçãos do presidente Gilberto Kassab e com o incentivo do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
O governador João Azevêdo, como já foi observado neste espaço, tem sido extremamente cauteloso na tomada de posições acerca do jogo político-eleitoral para este ano, tendo agido, durante certa fase, para refrear os ímpetos e interesses das correntes em conflito dentro da sua base. Não logrou êxito, ainda, nesse desideratum, diante da força das ambições que se entredevoram à sua sombra. Foi por não ceder a pressões ou interesses que Azevêdo perdeu aliados do porte do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), da vice-governadora Lígia Feliciano (PDT) e ultimamente do deputado federal Efraim Filho (União Brasil). O chefe do Executivo acabou se dando bem na luta titânica que empreendeu para se situar na base de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, apesar dos dissabores que seu ex-aliado Ricardo Coutinho, dentro do PT, tenta lhe causar.
Mas entre aliados mais próximos de João Azevêdo afirma-se que o contencioso mais grave que desafia a sua habilidade como líder político é concernente ao encaixe de situações locais, levando em conta os reflexos colaterais que isto pode ter para seu projeto de concorrer a um novo mandato nas urnas. Com o jogo de empurra entre partidos pugnando por mais espaços e pela cerimônia do governador em relação à ingerência nas decisões de legendas diferentes, a margem de manobra vai se estreitando para que o contencioso seja equacionado a contento. É evidente que ninguém mais do que o governador pugna pela unidade, princípio básico para o êxito de qualquer empreendimento. Mas, até onde se sabe, Azevêdo não pretende radicalizar posições que possam acarretar conflitos e mais defecções. E este é o xis da questão, a ser deslindado, de preferência, o quanto antes, já que os fatos estão se sucedendo à revelia do tempo de certos líderes políticos importantes no processo.