Nonato Guedes
A senadora Daniella Ribeiro foi enfática, ontem, ao rechaçar insinuações do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, de suposta “traição” devido à decisão da parlamentar em aceitar o convite de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, para assumir o comando da legenda na Paraíba. Salientou que não houve orquestração deliberada nesse sentido mas que não poderia recusar o convite de Kassab. Daniella lembrou que em um evento político, no ano passado, em Brasília, já havia recebido proposta para integrar a bancada do PSD no Senado e explicou que os fatos evoluíram, ficando honrada com a possibilidade de dirigir a agremiação no Estado. Romero chegou a se considerar “expurgado” do partido ao ter de Kassab a confirmação da perda do controle do PSD.
Outras versões que circularam ontem davam conta de que a destituição do comando do PSD paraibano teve a ver, realmente, com a dificuldade demonstrada por Romero, na condição de presidente estadual, para fazer a legenda avançar e se projetar nos espaços de poder nos maiores centros ou colégios eleitorais influentes. Rodrigues não se revelou um “tarefeiro” competente na estruturação do partido, a ponto de capacitá-lo para participar de chapas majoritárias cobiçadas. Ao mesmo tempo, falhou no empenho que vinha anunciando para a montagem de uma chapa proporcional forte às eleições legislativas, sobretudo à Câmara Federal, de que ele mesmo faria parte. O dirigente nacional Gilberto Kassab resolveu, então, intervir no processo e passar o bastão à senadora, que, inclusive, passará a reforçar a bancada na Alta Casa do Congresso Nacional.
O PSD já teve como dirigentes na Paraíba o falecido ex-deputado Rômulo Gouveia, o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, que, depois, migrou para o PV e ultimamente retornou ao PT, e o ex-prefeito Romero Rodrigues. Em relação a Rômulo, ele fora eleito vice-governador em 2010 pelo PSDB em coligação com o PSB na chapa encabeçada por Ricardo Coutinho. Em abril de 2011, Rômulo protagonizou reviravolta ao anunciar a desfiliação da sigla tucana e seu consequente ingresso no PSD, recém-criado graças a uma articulação de Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo. Diante de críticas sofridas na época, por seu gesto, Rômulo explicou que estava reproduzindo o que Ronaldo Cunha Lima e Cássio Cunha Lima haviam feito, ao deixar o PMDB por falta de espaços de convivência, ingressando, então, no PSDB. Ou, como Ricardo Coutinho, que havia migrado do Partido dos Trabalhadores para o PSB.
Rômulo chegou a desabafar: “Gosto de me sentir bem na legenda em que estou militando”. Queixava-se que até então não havia recebido qualquer mensagem de cumprimento por parte da direção nacional do PSDB pelo fato de ter sido eleito vice-governador da Paraíba. Em paralelo, era visível o incômodo de Rômulo com as divergências entre o ex-governador Cássio Cunha Lima e o ex-senador Cícero Lucena como rescaldo das eleições de 2010. Gouveia tinha a expectativa, igualmente, de que seria ouvido na tomada de decisões referentes ao cenário político paraibano no ninho tucano, mas não fora levado em consideração, daí resultando que sentiu necessidade de migrar. Ingressava no PSD com carta branca, com a condição de fortalecer o partido. Isto não foi feito por Romero Rodrigues, que se acomodou ou ficou assoberbado demais com outros problemas e prioridades e deixou em aberto a retaguarda do PSD, perdendo, assim, o controle de uma agremiação influente na política nacional e, novamente, na Paraíba.
Sob o comando da senadora Daniella Ribeiro, a expectativa é de dinamismo e de fortalecimento dos quadros partidários. Nas suas declarações, a parlamentar colocou o PSD no âmbito de um grupo de cinco legendas, entre as quais PP, Solidariedade e Patriotas, em que o esquema a que pertence pretende ter atuação proativa, influenciando no tabuleiro político e na composição de chapas majoritárias. A senadora reafirmou a sua linha de independência ao enfatizar que nunca foi e nem é da base política do governador João Azevêdo, salientando que algumas alianças políticas feitas com ele no PP foram pontuais, como a que elegeu Cícero Lucena prefeito de João Pessoa. Em Campina Grande, o filho de Daniella, Lucas, do PP, é vice-prefeito, tendo sido eleito na chapa liderada por Bruno Cunha Lima, do PSD.
Daniella deixou claro que o compromisso com a candidatura do seu irmão, deputado federal Aguinaldo Ribeiro, ao Senado, haverá, naturalmente, por parte do PSD, sob nova direção. Foi muito objetiva ao pontuar que tal compromisso independe de apoio ou não do governador João Azevêdo ao projeto de Aguinaldo de ascender ao Senado. Pelos posicionamentos que tem transmitido, Daniella dá a entender que está pronta para exercer um papel de protagonismo na corrida eleitoral deste ano. Ela se acautela, porém, quando abordada sobre posicionamento em relação a candidaturas ao governo do Estado, com a justificativa de que não deseja atropelar os fatos nem o cronograma estratégico pelo qual está se pautando. Quanto a Romero Rodrigues, deverá mesmo focar na conquista de mandato à Câmara Federal em outra legenda como tábua de salvação para se redimir de revezes que tem enfrentado nos últimos anos, provocados por erros de cálculo ou de avaliação sobre a conjuntura local.