Nonato Guedes
Ontem, em Lagoa Seca, por ocasião do evento que marcou a saída do prefeito Fábio Ramalho, pré-candidato a uma vaga na Assembleia Legislativa, cumpriu-se o “script” e os deputados federais Pedro Cunha Lima (PSDB) e Efraim Filho (União Brasil) sacramentaram a aliança na disputa majoritária deste ano, com o primeiro concorrendo ao governo e o segundo disputando uma vaga no Senado Federal. Em meio a uma semana agitada de “bate e volta” de políticos no universo dos partidos, com acusações de golpes e traições, a reafirmação do pacto com Pedro foi um grande passo para o projeto de Efraim Filho, depois do rompimento anunciado com o governador João Azevêdo (PSB). Mas o desafio de Efraim continua sendo o de consolidar apoios prometidos para reforçar sua pretensão, colocada em pauta com antecedência de um ano.
O deputado do União Brasil não pode perder de vista o cerco que parece montado contra ele, tanto da parte de aliados do governador que não simpatizavam com sua candidatura como, em outro plano, da parte do grupo Ribeiro, de Campina Grande, que através da senadora Daniella, alçada à presidência estadual do PSD, dá prioridade absoluta ao projeto de candidatura do deputado Aguinaldo também ao Senado, sem ainda oficializar compromisso de apoio à reeleição do governador João. Daniella tem tomado posição ambígua no processo, afirmando que não se considera integrante da base de Azevêdo e insinuando que o projeto do irmão não está necessariamente atrelado à candidatura do chefe do Executivo a um novo mandato. Na prática, as coisas são totalmente diferentes.
A pré-candidatura do deputado Aguinaldo Ribeiro, a esta altura, depende, umbilicalmente, para se cristalizar, do apoio oficial, da parte do governador João Azevêdo. Afinal, o parlamentar – queiram ou não – vinha disputando a indicação na órbita palaciana juntamente com Efraim Filho, que alegou ter avançado para uma postura independente devido às “indecisões” de Azevêdo. Este, por sua vez, sentiu-se como que pressionado por Efraim e apoiadores a encampar essa postulação e decidiu passar recibo de que não aceita imposição de ninguém. Afinal, tem sido reconhecido como líder natural do processo de formação de chapa dentro do seu esquema e precisa de liberdade para fazer valer o seu próprio “timing”, que ninguém sabe ao certo qual é, mas que está condicionado, pelo que ele tem dito, à harmonização da agenda pré-eleitoral com a agenda administrativa que demanda urgência da sua parte e dos auxiliares que o acompanham no Palácio da Redenção. Com a migração de Efraim da órbita palaciana, a pista ficou livre para adoção da eventual candidatura de Aguinaldo, cabendo a este tornar-se mais ofensivo nos movimentos para demonstrar que realmente quer ser candidato a senador.
O deputado Efraim Filho, lá atrás, em sua jornada, chegou a ter o apoio declarado do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que também se dizia apoiador da candidatura de Azevêdo à reeleição. De repente, por causa de divergências suas com o chefe do Executivo – com quem não dialogava há bastante tempo – Veneziano protagonizou uma guinada espetacular, lançando-se pré-candidato ao governo pela sua legenda e levando o eixo de seu posicionamento para a esquerda, ao firmar pacto de dobradinha com o ex-governador Ricardo Coutinho, do PT, que tenta derrubar a inelegibilidade para poder disputar mandatos em 2022. Fechando “o firo”, Veneziano reiterou o compromisso de apoio à pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto, passando a batalhar para ter exclusividade do palanque lulista no Estado. A postura de Veneziano foi, sem dúvida, uma baixa valiosa para Efraim, ainda que o senador comece a pré-campanha ao governo patinando em intenções de voto do eleitorado.
Ficou, então, para o jovem deputado Efraim Filho, a lição de que precisa “amarrar” concretamente os apoios que lhe têm sido prometidos, tanto mais porque agora se colocou na linha de tiro do esquema governista, para o qual não há retorno, da mesma forma como não há possibilidade de recuo da “candidatura foguete” como a denominou o parlamentar do União Brasil. O principal desafio de Efraim, consolidada a aliança com Pedro Cunha Lima ao governo, é garantir o apoio do “Centrão” paraibano à sua postulação, uma referência ao Republicanos, do deputado federal Hugo Motta, que tem se estruturado para ser fiel da balança no processo sucessório estadual, numa ofensiva proporcional à capilaridade que o partido adquiriu nos últimos meses no Estado.
O Republicanos está notoriamente “rachado”: já externou apoio à reeleição do governador João Azevêdo, mas quebra cabeça para administrar a manutenção do compromisso assumido com Efraim Filho. O deputado federal Hugo Motta tem dado declarações de que será possível conciliar apoios distintos e tem sido bastante cioso ao fazer alertas sobre a autonomia do partido, com isso repelindo ou descartando tentativas de ingerência nas decisões que são restritas à sua esfera. Efraim precisa intensificar, a dados de hoje, a interlocução com o chamado “fiel da balança” para que possa vir a ter uma margem razoável de segurança na montagem do respaldo à sua pré-candidatura ao Senado. A perspectiva de um rolo compressor do governo para tentar destruir Efraim é hipótese que deve figurar no radar do pré-candidato do União Brasil. Mas ninguém tem monopólio de votos ou de liderança – e prevê-se que muita água ainda vai correr por debaixo da ponte na tumultuada equação política-eleitoral paraibana. Um apoio importante que Efraim exibe é o do ex-governador Cássio Cunha Lima, que fez dobradinha vitoriosa com seu pai, Efraim Morais, na distante campanha ao Senado em 2010.