Nonato Guedes
Da movimentação política que dominou a semana, estimulada pelo vai e vem decorrente da janela partidária que possibilitou migrações, algumas das quais inesperadas, resultou na mesa um impasse que precisa ser equacionado: o apoio dos Republicanos à pré-candidatura do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) ao Senado na chapa do governador João Azevêdo (PSB). O deputado Efraim Filho (União Brasil) já tomou seu rumo, aliando-se a Pedro Cunha Lima (PSDB) para o governo, enquanto mantém a sua postulação senatorial. Restaria a Aguinaldo se compor com Azevêdo, que tem liderança e estrutura respeitável na Paraíba, mas o parlamentar quer incluir no pacote o apoio fechado do Republicanos, que já tem compromisso com o governador.
Não faltam razões ao prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, e ao próprio deputado Aguinaldo Ribeiro, quando cobram unidade político-partidária na composição de uma chapa majoritária. O problema é que o governador, até prova em contrário, não tem ingerência sobre o Republicanos, embora se especule que tenha influência sobre as decisões de alguns líderes que estão fechados com sua própria candidatura. Em termos concretos, Aguinaldo deu demonstração de forças trazendo à Paraíba o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, que o lançou ao Senado e se mostrou confiante no fortalecimento do seu projeto. Em outra frente, tem atuado a sua irmã, a senadora Daniella Ribeiro, que acabou assumindo a presidência estadual do PSD e mantém linha independente em relação a Azevêdo.
Disse o deputado Aguinaldo Ribeiro que não existe condição para participar da chapa, existe regra. “Não é possível ter numa mesma chapa pessoas que estão dentro do mesmo projeto votando em projetos antagônicos”, explicitou ele. A batata quente deve ser descascada pelo governador João Azevêdo e pelo deputado federal Hugo Motta, que comanda o Republicanos. As articulações de bastidores têm se intensificado com foco na tese empalmada por Aguinaldo, ou seja, a de que é uma incoerência o partido Republicanos apoiar um candidato ao governo e apoiar ao Senado um candidato adversário do governador, que foi no que Efraim Filho se transformou, após alinhamento até então com João Azevêdo. A persistência do impasse foi que impossibilitou o deputado Aguinaldo Ribeiro de assumir, por enquanto, a pré-candidatura ao Senado. O parlamentar quer garantias da tal unidade.
Nos meios políticos paraibanos os adversários de Efraim Filho acusam-no de ter precipitado com bastante antecedência o processo eleitoral, num ritmo que surpreendeu ao próprio governador João Azevêdo, ainda às voltas com suas próprias demandas em termos de definição partidária, finalmente resolvida após embates travados e que a opinião pública conhece. A acusação contra Efraim é relativa porque a verdade é que sempre houve a narrativa de duas candidaturas concorrentes ao Senado no esquema do governador João Azevêdo – a dele e a de Aguinaldo. Em dado momento, o governador, abordado pela imprensa, chegou a considerar positiva a emulação entre os dois deputados federais, o que demonstrava, a seu ver, a existência de opções no seu bloco, o que não acontecia na oposição. Faltou a antevisão de que estava se criando o embrião de um sério impasse para a formação da chapa.
A mídia repercutiu que a diferença entre a movimentação de Efraim Filho e Aguinaldo Ribeiro como pré-candidatos que disputavam a preferência do esquema do governador para apoio ao projeto ao Senado estava no “timing” de cada um, ou no ritmo de estratégia que os dois haviam traçado – Efraim avançando nos contatos políticos, na transferência de redutos eleitorais para postulantes à Câmara, e Aguinaldo jogando parado, com atuação de gabinete, embora se saiba, hoje, que ele teve várias conversas com o chefe do Executivo tratando, justamente, da sua ambição. A situação agudizou-se quando Efraim tentou persuadir o governador a firmar uma posição – e esbarrou no “timing” de Azevêdo, ou no que o deputado do União Brasil chamou de “incertezas”. A esta altura o cenário já não era mais de uma simples emulação – mas, sim, de confronto aberto entre Efraim e Ribeiro.
A sequência do enredo é o que se conhece, com Efraim “desembarcando” do esquema oficial e mostrando-se diligente na costura com um segmento importante da oposição no Estado, representado pela figura do deputado Pedro Cunha Lima, filho do ex-governador Cássio Cunha Lima. Não há como retroceder nessa composição depois das fotografias do evento de Lagoa Seca, que foi testemunhado por Cássio e pelo ex-senador Efraim Morais, expoentes de uma aliança vitoriosa em 2002. A luta que Aguinaldo desenvolve, agora, é para envolver o governador no repatriamento de deputados da sua base que estão fechados com Efraim Filho, embora se digam alinhados com a reeleição do titular do Executivo. Uma missão árdua, que envolve interesses conflitantes – e cujo árbitro, por razões óbvias, passa a ser o governador, que já tem problemas demais na sua agenda para acomodar, ou para resolver. Aguarda-se o desenrolar dos próximos capítulos.
Meu caro Nonato. Esse burburinho todo pode dar em nada. O presidente Bolsonaro trama um golpe para se perpetuar no poder. Se esse protótipo de ditador sentir que vai fracassar no processo eleitoral, certamente promoverá o golpe antes das eleições. Só não percebe essa trama quem tem pouca preocupação com a evolução da democracia no país. Assim, a classe política poderia ser mais responsável, mobilizando discursos favoráveis ao processo democrático e a sua manutenção. Quem sabe procurando alianças em torno de candidatos ao Palácio da Redenção que se comprometam em lutar para que o país se afaste com pressa das viúvas da ditadura. As alianças políticas deviam ser formatadas com base em propósitos sólidos de reversão do autoritarismo e não em princípios mesquinhos montados pelos interesses familiares.