Nonato Guedes
O economista paraibano Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, em seu blog na revista “Veja”, alerta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve ceder a ideias de expoentes do PT sobre economia, que podem vir a ser “danosas” ao setor, caso se eleja presidente da República nas eleições de outubro. Tais ideias, conforme Maílson, podem colocar o mandato em risco, sendo preferível que Lula reedite a figura do candidato pragmático de 2003, quando desprezou o programa do partido, que assustava até no nome: “Uma ruptura necessária”. Maílson observa que Lula, naquela época, manteve o tripé macroeconômico do governo de FHC, convidou um banqueiro para o Banco Central e, de partida, a equipe econômica elevou a taxa Selic e o superávit primário.
– O choque de credibilidade fez cair a percepção de risco, o dólar os juros futuros. O país pôde beneficiar-se do boom de commodities decorrentes da ascensão da China, cujos ganhos contribuíram para financiar o aumento dos gastos sociais, inclusive os decorrentes da elevação do salário mínimo. A boa avaliação permitiu a reeleição de Lula – analisa Maílson. Para ele, a defesa de más ideias “pode ser uma estratégia para manter a base de apoio do ex-presidente, que as almeja. Assegurada a vitória, ele sinalizaria um rumo oposto, como fez após o segundo turno das eleições de 2002. Se, todavia, Lula preferir seguir tais ideias – o que tem assustado investidores e acentuado a rejeição de seu nome entre o eleitorado mais esclarecido, que começa a simpatizar novamente com Bolsonaro, o desastre é garantido”.
Mesmo que o Congresso Nacional rejeitasse propostas que Maílson considera absurdas, o simples ato de propô-las seria desastroso, conforme o ex-ministro. “A queda de confiança, a fuga de capitais e a alta do dólar provocariam, entre outros males, inflação sem controle, desemprego e forte perda de popularidade, o que colocaria novamente em risco a continuidade do mandato. Lula já provou que é mais esperto do que se pensa. É provável que ele promova a reedição do cenário de 2003, embora pareça difícil vencer o desafio de aprovar as reformas, sobretudo a fiscal, que possam livrar o país da armadilha do baixo crescimento”. Maílson da Nóbrega diz que, de acordo com as pesquisas, Lula é o favorito para as próximas eleições, “mas a situação pode mudar até a realização do pleito, porque alterações nessa área costumam acontecer”.
Entre as “ideias danosas” que causam receio, Maílson, citando petistas influentes, especula que o teto de gastos seria revogado e a privatização da Eletrobras seria revertida. Ao mesmo tempo, o que ele chama de “desastrada Nova Matriz Econômica” do governo de Dilma Rousseff seria renovada. E acrescenta: “Para Lula, a política de preços da Petrobras tende a ser mudada num terceiro governo de Lula, pois “estamos pagando gasolina em dólar quando recebemos salário em real”. O economista indaga: “O que ele (Lula) diria do preço do trigo?”. E elenca, ainda, que a reforma trabalhista seria abandonada e com ela a modernização que reduziu ações judiciais, aboliu a contribuição sindical e regulou o trabalho temporário, sem afetar direitos fundamentais dos trabalhadores. Sobre a prometida eliminação da reforma da Previdência, ressalta que isto provocaria impacto fiscal gigantesco, tornando insustentável a dívida pública.
No fundo, segundo avalia Maílson da Nóbrega, estão sendo defendidas ou sugeridas “impropriedades” que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deveria aceitar. Lembra que a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, disse que o partido é contra a âncora fiscal. “Isto significaria deixar a economia à deriva como um navio desgovernado, cujo efeito seria inflação alta e sem controle, prejudicando os mais pobres, com os quais o partido diz preocupar-se”. Conclui o economista paraibano que o pré-candidato Lula da Silva reconsidere “enquanto é tempo” propostas e sugestões que tem recebido e que, a seu ver, serão fatalmente desastrosas para o processo de desenvolvimento do país na hipótese de vitória dele no pleito de outubro.