Nonato Guedes
O comunicador Nilvan Ferreira ganhou a queda-de-braço com outras figuras do cenário político paraibano para ter o “status” de candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao governo do Estado nas eleições de outubro. Nomes de expressão na órbita bolsonarista chegaram a ser cogitados, como o do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, “cacifado” por ter dado partida à aceleração da campanha de vacinação contra a covid-19, ou o do pastor Sérgio Queiroz, que foi secretário de Modernização do governo federal, é respeitado pela sua fluência na oratória e acabou se registrando como pré-candidato ao Senado no PRTB. Foram mencionadas, ainda, opções como o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) e o deputado estadual Cabo Gilberto, que chegou a participar de manifestações políticas fora do Estado ao lado do presidente da República.
Romero deu marcha à ré na pretensão de concorrer ao governo e migrou do PSD para o PSC depois que a senadora Daniella Ribeiro tomou-lhe o comando pessedista, numa articulação que teve o aval do presidente nacional, Gilberto Kassab. Pedro está firme como postulante do PSDB ao governo e atraiu para a sua chapa o deputado federal Efraim Filho, do União Brasil, que até então orbitava na esfera do governador João Azevêdo, mas alegou ter esperado demais uma definição sem qualquer aceno concreto, muito menos garantia de espaço na chapa majoritária. Mesmo tendo votado favoravelmente a importantes matérias do governo Bolsonaro na Câmara, Pedro nunca se apresentou na Paraíba como bolsonarista-raiz e chegou a divergir de ministros e criticá-los por posturas polêmicas, como se deu com o ex-titular da Educação, Milton Ribeiro.
Nilvan Ferreira, que fez sua estreia na disputa política em 2020 como candidato a prefeito de João Pessoa e surpreendeu com sua passagem para o segundo turno, onde deu combate a Cícero Lucena (PP), o vitorioso, tem tido uma ascensão meteórica no quadro paraibano, o que desperta inveja entre expoentes políticos veteranos. Lançado candidato a prefeito da Capital pelo MDB, quando era vivo o senador José Maranhão, Nilvan migrou depois da eleição municipal para o PTB e foi ungido presidente estadual do partido com apoio explícito do dirigente nacional Roberto Jefferson. Especulava-se que sob o pálio petebista concorreria a mandato legislativo, ou na Assembleia ou na Câmara Federal. Não foram poucos os que duvidaram do seu fôlego para encarar uma disputa majoritária estadual. Eis que ele deu o pulo do gato e, na undécima hora dos prazos de filiação abertos pela janela partidária, debandou do PTB e ingressou no PL, presidido pelo deputado federal Wellington Roberto. Foi proclamado pré-candidato ao governo, tendo Bruno Roberto, filho de Wellington, como pré-candidato ao Senado.
Os movimentos desencadeados pelo comunicador do Sistema Correio de Comunicação tiveram lastro, na verdade, para se concretizarem. Conforme ele mesmo revelou à imprensa, tudo foi conversado previamente em Brasília, e em articulações que envolveram diretamente o presidente da República, que, aliás, patrocinou ofensiva, sobretudo nas últimas semanas, para turbinar o PL com vistas às eleições vindouras, abandonando a postura de inação que havia adotado desde que rompeu com o antigo PSL e permaneceu sem partido por um bom tempo. A mudança de sigla por parte de Nilvan – do PTB para o PL – foi concebida dentro da estratégia de proporcionar alinhamento que vincule de forma clara o nome dele ao do presidente. A aposta do comunicador é que a polarização nacional seja reproduzida na Paraíba. Se isso viesse a ocorrer, haveria um candidato ligado ao ex-presidente Lula (PT) na disputa do segundo turno ao governo do Estado contra um candidato ligado a Bolsonaro.
A missão de Nilvan Ferreira passa a ser, agora, a de sensibilizar setores conservadores no Estado para fecharem tanto com sua pré-candidatura a governador como com a candidatura de Bolsonaro à reeleição. O comunicador vinha dizendo, em suas falas, que o atual mandatário não ficaria sem palanque na Paraíba, numa alusão direta a candidatos anti-Lula que não assumem, porém, a bandeira de Bolsonaro, embora tentem obter apoio colateral desta candidatura. “A estratégia que foi fechada tira o discurso de pessoas que trabalhavam a busca do voto casado em Bolsonaro e no deputado Pedro Cunha Lima, que não vota em Bolsonaro, o que torna impossível um alinhamento”, detalhou Nilvan. Cabe ressaltar, nesse contexto, a sincronização que se estabeleceu entre o pré-candidato Nilvan Ferreira e o deputado federal Wellington Roberto. Este saiu fortalecido desde que Bolsonaro ingressou no PL.
Mesmo abdicando da presidência estadual do PTB, Ferreira mantém traços de influência na legenda trabalhista, cujo comando no Estado foi confiado ao vice-prefeito do Conde, Dedé Salles. A avaliação que se faz nos meios políticos é que, dependendo das pesquisas que forem feitas sobre a disputa ao governo da Paraíba e, colateralmente, da posição de Nilvan Ferreira, ele pode amealhar apoios decisivos para um segundo turno, na hipótese de confronto com o governador João Azevêdo (PSB), que é favorito na corrida eleitoral e que conseguiu, finalmente, ingressar na base de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ressalte-se, em meio a toda essa conjuntura, uma particularidade: Nilvan Ferreira vem demonstrando que não está na política por acaso e que não é candidato ao governo apenas para ser reconhecido novamente como fenômeno político. Com o apelo populista e o carisma de locutor de televisão que tem, ele vai construindo o perfil de autêntica liderança política entre os quadros “emergentes” do cenário tabajara.