Nonato Guedes
O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, é o principal articulador da operação para incluir o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) como pré-candidato ao Senado na chapa majoritária encabeçada pelo governador João Azevêdo (PSB) à reeleição. Em declarações, nas últimas horas, o gestor da Capital se disse confiante no êxito da articulação e, sobretudo, na unidade do esquema que apoia o governador, com o repatriamento, para a postulação de Ribeiro, de políticos do Republicanos que teriam assumido compromisso com a pré-candidatura do deputado Efraim Filho (União Brasil) a senador. Efraim é um dissidente do bloco governista e já fechou apoio à pré-candidatura do deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB.
Na missão que empreende para pacificar o bloco de apoio ao governador João Azevêdo, Cícero Lucena, que teve o apoio deste na campanha vitoriosa à eleição na Capital em 2020, da qual emergiu triunfante no segundo turno, tem dito que Aguinaldo está no “prazo de validade” para deflagrar contatos concretos que podem consolidar a sua postulação ao Senado. Até então, o parlamentar do PP vinha mantendo tática cautelosa, focada nos bastidores, diferente do caráter de exposição pública que Efraim Filho conferiu com bastante antecedência à sua pretensão. Aguinaldo, segundo versões, teria preferido esperar o fechamento da janela partidária para migração, o que ocorreu no final de semana, bem como um posicionamento mais firme da parte do governador João Azevêdo de alinhamento com a sua pré-candidatura.
A janela partidária possibilitou, na avaliação do grupo de Aguinaldo, uma conquista valiosa – a incorporação ao bloco de apoio à sua pré-candidatura do PSD, partido político que estava nas mãos do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, e que acabou passando ao controle da senadora Daniella Ribeiro, irmã de Aguinaldo, com demonstração visível de prestígio por parte do presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab, e de outros líderes de projeção nacional, como o senador Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso Nacional. Tão logo ascendeu ao comando do diretório estadual do PSD, em meio a declarações de que se sentiu bastante lisonjeada, a senadora Daniella deixou claro que a eleição do irmão Aguinaldo ao Senado é a prioridade maior do esquema de forças que reúne outros partidos.
A senadora, no entanto, foi reticente em declarações que formulou à imprensa, quando provocada a opinar sobre definição de apoio ou compromisso com a candidatura do governador João Azevêdo a um novo mandato. Tentou desconversar, alegando que a questão não estava em pauta ainda e que a prioridade estava concentrada na definição da candidatura de Aguinaldo ao Senado. Esse posicionamento confundiu meios políticos e setores da opinião pública da Paraíba, mas não chegou a ser encarado propriamente como um obstáculo para a adoção do nome de Aguinaldo pelo governador, até porque Azevêdo não vinha manifestando qualquer inclinação de apoio à pré-candidatura de Efraim Filho, não obstante os movimentos por ele ensaiados e os progressos alcançados no projeto para conquistar a única cadeira senatorial em jogo no pleito de outubro.
O prefeito Cícero Lucena avalia que a senadora Daniella Ribeiro não tem propriamente uma postura crítica ao governo de João Azevêdo, opinando que “ela ainda não assumiu o apoio ao chefe do Executivo”. Mas, no seu raciocínio, o engajamento torna-se inevitável à medida que os fatos estão sendo esclarecidos e que os entendimentos estão sendo acelerados para assegurar apoios a Aguinaldo dentro do próprio Republicanos. “O PP e a senadora, hoje no PSD, acompanharão as nossas decisões, até porque Daniella participa dessas decisões. E vamos exatamente levar a unidade do partido”, teorizou Cícero na sua fala. Ele ainda insistiu no que chamou de questão de princípios, aludindo à necessidade de concretização da unidade como requisito para que se obtenha a vitória. Concluiu Cícero prognosticando que restava apenas efetivar a data do anúncio, já que, fora daí, entende que não há maiores obstáculos.
O fato é que, após o rumo tomado pelo deputado Efraim Filho, compondo-se com políticos do PSDB que fazem oposição ao governador João Azevêdo, o chefe do Executivo, que vinha dando atenção especial à solução de outras pendências, já está admitindo a possibilidade de fazer avançar o “projeto Aguinaldo” dentro do esquema de forças políticas que ele conduz no Estado. Nessa empreitada, é fundamental o concurso dos chamados “emissários de confiança” que transitam bem tanto junto ao governador como junto à senadora Daniella Ribeiro. É o caso do prefeito Cícero Lucena, que permanece nas fileiras do PP mas não esconde que atua coligado com outras forças com quem tem afinidades. Não se está colocando na mesa, por enquanto, o apoio de Aguinaldo, Cícero e Daniella à pré-candidatura de Lula a presidente da República porque há tratativas mais urgentes a resolver. De resto, Aguinaldo – conforme se diz nos meios políticos – é a opção que o governador tem à mão para tentar eleger um senador e, também, para buscar penetrar em Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado.