Nonato Guedes
Houve outros motivos, é claro, mas o pretexto principal que inviabilizou a participação do deputado federal Efraim Filho (União Brasil) na chapa do governador João Azevêdo (PSB) como candidato ao Senado nas próximas eleições, na Paraíba, parece ter sido mesmo a dificuldade do parlamentar em apoiar a pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República. Foi o que deu a entender, ontem, em entrevista à rádio “Correio”, o deputado federal Gervásio Maia Filho, presidente estadual do PSB. Ele chegou a ser elegante com Efraim, admitindo que o deputado saiu da base governista pela porta da frente, mas foi enfático ao assinalar que o pré-candidato do “União Brasil” não tinha perfil que o credenciasse a estar num dos palanques de apoio à candidatura de Lula.
Segundo deu a entender Gervásio, seria constrangedor e até incoerente para o chefe do Executivo paraibano alinhar-se incondicionalmente ao projeto de Lula enquanto nomes da sua chapa têm posição contrária. Com base na revelação do presidente estadual do PSB, é possível acreditar que a sorte de Efraim no esquema de Azevêdo foi selada no dia em que o governador refiliou-se às hostes socialistas, não só por desejo de militar no campo da esquerda, mas pela vontade de alinhar-se a Lula contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. Embora não fosse considerado um bolsonarista-raiz, o deputado Efraim Filho sempre esteve mais próximo de Bolsonaro do que do ex-presidente Lula. Seu pai, Efraim Morais, que entregou uma secretaria que ocupava na gestão de Azevêdo, indispôs-se com Lula quando era senador e o líder petista ascendera à presidência da República. Na tribuna do Congresso, Efraim Morais proferiu inúmeros discursos de ataque ao governo petista, atraindo a irritação do presidente da República e de seus aliados do PT e de partidos convertidos ao lulopetismo.
O caso mais emblemático da tensão entre Efraim Morais e o então presidente Lula da Silva foi a projeção do senador paraibano na CPI dos Bingos, que chegou a respingar na imagem do governo petista. Abordado pela imprensa, e sem esconder a irritação visível que a CPI lhe provocava, o presidente Lula qualificou a Comissão Parlamentar de Inquérito como “CPI do fim do mundo”, numa ofensiva para descredenciá-la no conceito da opinião pública e na credibilidade junto a segmentos da mídia que abriram espaços para depoimentos e para outras informações sobre supostas irregularidades. Data daí o empenho do próprio Lula para prejudicar em 2010, como prejudicou, a eleição ou reeleição de senadores como Efraim, tido como “algoz” do petismo. Morais era originariamente dos quadros do PFL, que depois se chamou DEM, vindo este a fundir-se agora com o PSL para dar à luz o “União Brasil”.
Para as eleições deste ano, o presidente nacional do “União Brasil”, Luciano Bivar, chegou a cogitar a hipótese de liberar filiados seus, candidatos a cargos importantes nos Estados, para votarem em quem quiserem para a presidência da República, já que o novo partido não conseguiu levar adiante o objetivo de viabilizar candidatura própria ao Palácio do Planalto. Independente das articulações feitas em Brasília e em outros centros influentes de poder no país, o deputado Efraim Filho, na Paraíba, não demonstrou maior interesse em sufragar o nome de Lula ou em estar no palanque de apoio á sua pré-candidatura, tendo se reservado para uma definição melhor, possivelmente acompanhando a orientação da cúpula nacional do seu partido. A resistência de Efraim a Lula criou desconforto a Azevêdo que, na linha inversa, aprofundava canais de aproximação com Lula.
O governador, em paralelo, tinha outras pendências para resolver na conjuntura política local. Ninguém ignora o confronto aberto que o ex-governador Ricardo Coutinho passou a mover contra Azevêdo, com movimentos em círculos para tentar distanciar o gestor da base de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa obsessão de Ricardo fez com que ele estreitasse laços com o próprio Lula e fosse cumulado com gestos de consideração, como o que o levou de volta às fileiras do Partido dos Trabalhadores depois de bastante tempo de militância no PSB. Lula tem evitado envolver-se na briga pessoal entre Ricardo e João Azevêdo, até porque ambos são seus apoiadores no Estado, e possuem espaços próprios de liderança ou influência. Se não chegou a ser explícito em maiores demonstrações afetivas para com o governador, Lula em nenhum momento descartou o apoio dele.
O chefe do Executivo paraibano tem se colocado, em relação ao cenário eleitoral paraibano deste ano, na perspectiva de suas próprias circunstâncias. Atualmente, Azevêdo está remontando o Partido Socialista no Estado, que emergiu da chamada janela partidária indiscutivelmente forte e bem representado, principalmente na Assembleia Legislativa do Estado. Em paralelo, organiza de acordo com suas estratégias a base de apoio que vai lhe dar respaldo na árdua campanha majoritária a ser enfrentada para a reeleição ao Poder Executivo paraibano. A demora em resolver a questão senatorial estava ligada à tática de sobrevivência própria que Azevêdo vem buscando montar pacientemente. Ao condicionar a presença na sua chapa de eleitores de Lula, ele excluiu, naturalmente, a presença de Efraim. Que, como já havia precipitado a pré-campanha, agiu rápido e “fechou” com a candidatura de Pedro Cunha Lima (PSDB) ao governo. Resta aguardar o destino que está reservado para o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) nesse contexto.