Nonato Guedes
Fontes ligadas ao governador João Azevêdo (PSB) revelam que ele está mais tranquilo e confiante quanto às chances de montar a chapa que considera ideal para dar respaldo ao seu projeto de concorrer à reeleição ao Executivo paraibano, agora que está livre de pressão dos aliados do deputado federal Efraim Filho (União Brasil), que saiu da base governista e decidiu se coligar com a pré-candidatura do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) no campo da oposição. Em declarações feitas nos últimos dias, tanto em Patos como em João Pessoa, Azevêdo procurou demonstrar que está mais à vontade, inclusive, para fazer valer o seu próprio “timing” quanto às definições que precisam ser tomadas e quanto ao objetivo de conciliar a administração com a questão política-eleitoral.
De acordo com essas fontes, estão criadas as condições concretas para o governador partir praticamente do zero para montar a chapa dos seus sonhos, ou, a esta altura, a chapa possível que dará combate a pré-candidatos de oposição como o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), o comunicador Nilvan Ferreira (PL) e o próprio Pedro Cunha Lima, do PSDB. Abre-se, então, pelo menos em tese, um campo de infinitas possibilidades para que o chefe do Executivo possa promover as acomodações que julgar necessárias no seu esquema ou base de sustentação. Alguns pontos não mudam no posicionamento de João Azevêdo, como o fato de que ele não abre mão de um milímetro sequer da sua autoridade para conduzir o processo de formação da chapa e a convicção de que ele procurará a companhia de políticos que estejam alinhados com o projeto de eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Jair Bolsonaro (PL).
Na bolsa de cotações, o nome do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do Partido Progressistas (PP) continua forte para integrar a chapa oficial como candidato ao Senado. Mas, ainda conforme as fontes, Aguinaldo terá que adotar um figurino que não contrarie o “script” ensaiado pelo governador João Azevêdo. Isto significa que o deputado do PP poderá já ir costurando apoios políticos importantes para reforçá-lo num páreo que contará com nomes como o do deputado Efraim Filho, de Bruno Roberto, do ex-governador Ricardo Coutinho e do pastor Sérgio Queiroz. Mas terá que ser uma costura habilidosa e afinada com as diretrizes do governador sobre composição no pleito vindouro, o que sinaliza que Aguinaldo Ribeiro precisará estar permanentemente articulado com o chefe do Executivo e, naturalmente, demonstrar sintonia fina. Embora seja filiado ao PP, que tem integrantes no governo de Bolsonaro, Aguinaldo seria assimilável por Azevêdo por ter canais de articulação com o PT nacional. Lá atrás, foi ministro das Cidades do governo de Dilma Rousseff. Mais recentemente, intermediou conversa de Azevêdo com Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, importante para situar o governador paraibano na base de apoio político à candidatura de Lula.
Aguinaldo terá como desafios na empreitada para se viabilizar candidato do esquema governista ao Senado a missão de conter a própria irmã, senadora Daniella Ribeiro, hoje comandando o PSD no Estado, que tem sido ácida com relação a Azevêdo em algumas das últimas declarações formuladas, e a tarefa de comprovar que sua fama de bom articulador político ainda persiste. Nesse sentido, deverá estar preparado para atrair o “Republicanos” do deputado federal Hugo Motta ao projeto de sua pré-candidatura, diante da constatação de que ainda há deputados daquela sigla dispostos a votar em Efraim Filho, mesmo que, na disputa ao governo, estejam “fechados” com a candidatura do atual gestor. A unidade do esquema é um ponto fundamental que Azevêdo proclama como regra básica para a vitória nas urnas, e o deputado Aguinaldo Ribeiro terá que ser engenhoso para repatriar apoios e dar sua contribuição na formação de um bloco compacto para as eleições de outubro.
Afora a equação vinculada ao Senado, o esquema do governador João Azevêdo terá que acertar o ponto na escolha do candidato a vice-governador, questão que interessa mais de perto ao chefe do Executivo por envolver a indicação do companheiro de chapa ou substituto imediato, implicando na validação do critério da confiança absoluta. João estará mais do que atento em relação a esse item até para evitar a repetição do “episódio Lígia Feliciano”, referência à atual vice-governadora, filiada ao PDT, que foi acolhida na sua chapa em 2018 mas que chega ao fim do primeiro mandato rompida com o titular, tendo tentado, sem muito êxito, viabilizar candidatura própria ao governo do Estado no campo dos apoiadores do ex-presidente Lula, inobstante sua ligação com o pré-candidato pedetista Ciro Gomes. O “Republicanos” cogita indicar nome à vice, se não houver vaga ao Senado. E continua em pauta a pretensão do deputado estadual Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa.
Na concepção original do seu projeto de reeleição, Azevêdo tinha um vasto contencioso a administrar, que passava pela acomodação do deputado federal Efraim Filho na vaga ao Senado, no prestigiamento ao senador Veneziano Vital do Rêgo e na possível atração do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (ex-PSD, hoje PSC) para compor chapa como opção a vice-governador. Com o afastamento de Veneziano, Efraim Filho e Lígia Feliciano da base governista e com a permanência de Romero no campo da oposição, Azevêdo passou a dispor de um mapeamento mais claro sobre aliados com quem pode contar para a jornada de conquista de um segundo mandato. Do ponto de vista partidário, parece mais aliviado. Tem fôlego, portanto, para enfrentar as turbulências que ainda virão, porque a verdade é que o jogo ainda está bem longe de começar em mais uma quadra decisiva da realidade política e de poder na Paraíba.