Nonato Guedes
O ex-todo-poderoso ministro da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, que atua nos bastidores da terceira campanha do líder petista à presidência da República, defendeu em análise no site “Poder360” a construção de um arco de alianças que atenda à expectativa do eleitorado que vota em Luiz Inácio Lula da Silva ou poderá vir a apoiá-lo. “É isso que justifica ter Geraldo Alckmin na vice-presidência e a construção de palanques amplos no Nordeste, desconstruindo os palanques de Bolsonaro. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, ao lado do Nordeste, são fundamentais para uma vitória segura e ampla. Nesses territórios será preciso construir palanques para Lula até com mais de uma candidatura em nosso campo, quando não for possível uma candidatura de consenso”, escreveu Zé Dirceu.
José Dirceu lembra que “temos menos de seis meses para dois de outubro” e que “eleição se ganha ou perde na campanha e na disputa política”. Ao comentar avaliações surgidas ultimamente sobre os riscos de reeleição de Bolsonaro, “seja por sua descarada e ilegal ação governamental eleitoreira ou por sua suposta resiliência em manter 30% de eleitores cativos”, Dirceu frisou que ainda não identifica esse risco, mas opina que não se deve subestimar um candidato que usa e abusa da máquina administrativa e do poder econômico que a Presidência da República dá ao candidato à reeleição, nem seu eleitorado conservador e religioso, bolsonarista de raiz e antipetista. “Apesar disso, é bom lembrar que da mesma forma que o eleitor brasileiro já elegeu Jânio Quadros, Collor e Bolsonaro, também deu quatro mandatos seguidos ao PT e seus aliados. Mesmo depois do massacre jurídico e midiático que sofremos de 2013 em diante, 32 milhões de eleitores votaram no primeiro turno em Fernando Haddad e quase 43 milhões em Haddad, Ciro Gomes e Guilherme Boulos”, pontuou.
O ex-ministro prossegue: “Numa eleição, como sabemos, contam fatores externos – desta vez é a guerra da Ucrânia – mas o que pesa decisivamente são os fatores internos: a situação real da economia, do emprego e da renda. Estão na nossa memória os efeitos nas eleições do Plano Cruzado e, depois, do Plano Real. Na campanha atual, o que conta, até agora, é a rejeição e reprovação do presidente e de seu governo por uma maioria dos cidadãos e cidadãs eleitores. Outro fator que se destaca é a debilidade extrema dos partidos da direita liberal não-bolsonarista, ainda que cúmplice de sua eleição e política econômica. A força eleitoral de Lula e do PT nos assegura afirmar que estaremos no segundo turno, e tudo indica que com Bolsonaro. Apesar de todo o massacre sofrido, da prisão ilegal e injusta de Lula, que recém-completou 4 anos, o PT se manteve em 2018 como maior bancada na Câmara dos Deputados e quase empatou em votos com o PSL. Elegeu governadores em Estados importantes do Nordeste, que são hoje base eleitoral estratégica para a eleição de Lula”.
Já Bolsonaro, de acordo com Dirceu, mantém-se estável no patamar de 30% de votos no segundo turno, perde no Nordeste e no Sudeste e empata com Lula em São Paulo, onde, em 2018, colocou 7 milhões de votos na frente de Haddad. Lula caminha para empatar com Bolsonaro no Norte, já empata no Centro-Oeste e, no Sul, tem mais de 30% dos votos. A título de dar um exemplo da fragilidade de Bolsonaro no segundo turno, Dirceu cita que na França a candidata da extrema-direita Marine Le Pen chega a 48,5% nas pesquisas, saindo dos 22% que alcança no primeiro turno, situação radicalmente à de Bolsonaro, que quase não cresce nas pesquisas do primeiro para o segundo turno. “Lula, por sua vez, não cai e se mantém no patamar mais alto que já alcançou (44%) no segundo turno na pesquisa XP/Ipespe. Nesta simulação, são 14 pontos percentuais de diferença pró-Lula, lembrando que essa diferença já foi de 4 pontos pró-Bolsonaro na primeira pesquisa da série em dezembro de 2019”, ressalta.
Zé Dirceu informa, ainda, que aqueles que não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro se mantêm em 61% e que esse percentual está acima de 60% desde julho de 2021. Já a certeza de voto em Lula se mantém acima de 40% desde novembro de 2021 e, na pesquisa desta semana, está em 44%, mesmo percentual de intenção da pesquisa estimulada. Ao mencionar que há uma forte rejeição a Bolsonaro entre os trabalhadores com renda de até dois salários mínimos, o ex-ministro frisa que não há, no horizonte, melhora na economia que possa mudar esse cenário. Outro fator de peso, a seu ver, é que uma parcela importante do eleitorado vê Bolsonaro como uma ameaça à democracia, à liberdade e ao próprio país e seu futuro. Diz que mesmo que parte desse contingente não seja eleitor de Lula nem de partidos de esquerda, há a intenção de votar nele para superar o bolsonarismo para evitar seu caráter autoritário, conservador, obscurantista e fundamentalista.
No fecho de sua análise, o ex-ministro da Casa Civil sugere que a campanha do ex-presidente Lula deve mostrar à sociedade “o que é Bolsonaro e o que é o bolsonarismo, partindo do princípio de que sempre haverá uma parcela importante do nosso povo que o apoiará”. O importante – emenda – é centrar a campanha em nosso eleitorado histórico e buscar ampliá-lo em direção ao centro democrático como estamos fazendo. Nada mais grave que os sinais de divisão no nosso meio. Erros e impasses, situações novas e desafios sempre existirão nas campanhas. Por isso, precisamos ter pronta capacidade de resposta ou de correção de rumos, a partir de três eixos: unidade, organização e profissionalismo”. Conclui Zé Dirceu: “Nos dias de hoje, subestimar o adversário ou conduzir uma campanha com amadorismo, desconhecendo as lições de campanhas passadas, vitoriosas ou não, é meio caminho, senão para a derrota, para a perda de terreno para o adversário. Não podemos nos dar ao luxo de tirar o ânimo de nossa militância nem de empurrar parte do eleitorado de centro para o colo do adversário. A prioridade é pôr ordem na casa e retomar a palavra de ordem prioritária, ou seja, derrotar o bolsonarismo”.