Nonato Guedes
Começou a “Era Veneziano” no MDB paraibano, segundo se depreende dos movimentos que têm sido feitos pelo presidente regional, senador Veneziano Vital do Rêgo, para ampliar seus tentáculos e imprimir sua própria marca. Em paralelo, ele tenta se fortalecer como pré-candidato ao governo do Estado, apostando na aliança com o ex-governador Ricardo Coutinho, do PT, pré-candidato ao Senado. O grande trunfo em que Veneziano investe, porém, é mesmo no anúncio de apoio à sua postulação por parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aparece como favorito em inúmeras pesquisas de opinião pública já realizadas. Embora seja discutível a capacidade de Lula de transferir votos a candidatos nos Estados, o senador paraibano luta para ter, mesmo, a exclusividade do palanque do líder petista na Paraíba.
Nesse aspecto, ele sustenta acirrada queda-de-braço com o governador João Azevêdo, que é pré-candidato à reeleição pelo PSB. Veneziano tem se empenhado visivelmente em ampliar sua conexão com Lula, diante da possibilidade que se abriu para Azevêdo figurar na base lulista, após a filiação ao PSB do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que consta nas bolsas especulativas como o nome “in pectoris” do líder petista para vice na chapa que encabeçará, dando combate preferencial ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Ainda anteontem à noite, Veneziano esteve no jantar articulado pelo emedebista Eunício Oliveira em Brasília em torno de Lula, a pretexto de debater a conjuntura, mas, na verdade, para “fechar” apoios já no primeiro turno ao ex-mandatário. Fala-se em movimento de “fritura” da pré-candidatura própria da senadora Simone Tebet (MS), dentro do MDB, à Presidência, por não ter decolado em levantamentos de intenção de votos.
Dentro do MDB paraibano, Veneziano tem feito uma “razzia” interna para depurar quadros em proveito da ascensão de outros que lhe são ligados. Essa depuração não tem poupado emedebistas históricos como o ex-governador Roberto Paulino, destituído da vice-presidência estadual do partido, por ser um apoiador declarado da candidatura de João Azevêdo, em cuja gestão ocupa a Casa Civil. Lá atrás, o deputado estadual Raniery Paulino, filho do ex-governador, já aproveitara a chamada janela partidária para migrar para o Republicanos e, desta forma, garantir vaga à sua pretensão de disputar uma cadeira na Câmara Federal nas eleições de outubro. Raniery reagiu, ontem, ao que chamou de “golpe pelas costas” contra seu pai, substituído pelo deputado estadual Anderson Monteiro. Mas as versões sinalizam que Roberto vem atuando como um “rebelde sem causa” dentro do MDB, já que os tempos realmente são outros e o comando é de Veneziano, que ascendeu com a morte de José Maranhão.
Como parte da sua estratégia à frente da direção da legenda, o senador Veneziano Vital do Rêgo promoveu ultimamente filiações aos quadros do MDB, independente do prazo da “janela partidária”. Não foram expressivas numericamente nem de grande peso político-eleitoral que possam fortalecer efetivamente o partido que foi comandado por longo tempo na cena paraibana pelo senador Humberto Lucena. Mas, na avaliação de Veneziano, as filiações patrocinadas guardam homogeneidade e coerência e possibilitam o atingimento de uma meta mínima e imediata – a elaboração de nominata de candidatos às eleições proporcionais, tanto para a Assembleia Legislativa como para a Câmara Federal. Os postulantes que comporão a nominata oferecem, pelo menos, perspectiva de lealdade e identificação com o comando de Veneziano sobre os destinos do partido.
No que diz respeito ao alinhamento do pré-candidato emedebista paraibano com o projeto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está mais do que sacramentado, em contatos constantes intensificados por Veneziano e que têm sido facilitados pela circunstância, também, de que ele ocupa o estratégico posto de primeiro vice-presidente do Senado Federal, tendo influência na elaboração e tramitação de pautas legislativas contendo assuntos polêmicos que dividem atualmente a sociedade brasileira. Como já dissemos, o ex-presidente Lula tem valorizado a interlocução com Veneziano porque este lhe repassa informações privilegiadas sobre temas que estão no radar e sobre as chances de aprovação ou derrota em plenário. São subsídios importantes para a plataforma de governo que Lula da Silva tenta construir a muitas mãos, com o fito de sensibilizar segmentos refratários do eleitorado. Veneziano, aparentemente, está no “staff” de campanha de Lula, ainda que isto não tenha sido publicizado.
Em termos locais, no tocante à disputa ao governo do Estado, a avaliação que se faz é que a logística da pré-campanha do senador do MDB ainda carece de uma estruturação mais profissional e, até mesmo, de operacionalidade mais efetiva. O partido que Veneziano hoje comanda deixou de ser glorioso já há algum tempo no tocante às suas tradições ligadas à conquista do poder na Paraíba. Por outro lado, o parlamentar está há pouco tempo na direção e necessita, de fato, fazer uma rearrumação dos quadros para uniformizar táticas, linguagem e ações concretas. É um trabalho hercúleo o que Veneziano tem pela frente, em meio a uma disputa eleitoral que lhe será desigual na concorrência com o governador João Azevêdo. Por fim, ainda falta Lula falar à Paraíba sobre quem é realmente seu candidato ou se vai adotar o formato de palanques múltiplos, diante da diversidade de apoiadores da sua postulação. O trunfo maior de Veneziano, por enquanto, está encoberto pela própria demora que Lula está tendo de resolver impasses nos Estados e acomodar situações.