Nonato Guedes
Debaixo de críticas à condução do processo por parte da presidente Gleisi Hoffmann, o diretório nacional do Partido dos Trabalhadores aprovou, por maioria, a indicação do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB) para compor uma eventual chapa presidencial ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no pleito deste ano. As mobilizações contrárias dentro da sigla, pelo fato de Alckmin ter sido do PSDB e adversário de Lula numa das disputas ao Planalto, foram abafadas, registrando-se 68 votos favoráveis e 16 contrários. A aliança em torno de Lula não ficará restrita aos socialistas. O PT deverá se unir em federação partidária com PV e PCdoB e fechar coligação, além do PSB, com o PSOL.
No texto da resolução aprovada pelo diretório, os membros indicam “às delegadas e aos delegados que participarão do Encontro Nacional a aprovação desta aliança e desta composição de chapa”. O texto ressalta que a eleição presidencial deste ano colocará em disputa dois projetos muito claros: o da democracia e o do fascismo. “Nossa política de alianças e a tática eleitoral, que já estão em construção e serão definitivamente aprovadas no Encontro Nacional de 4 e 5 de junho apontam para uma ampliação política necessária para derrotar Bolsonaro, num processo eleitoral que já se revela o mais duro desde a redemocratização do país”, acentua o documento. O ex-presidente Lula tem falado em “concertação ampla” para esmagar Bolsonaro nas urnas e, também, o bolsonarismo, pelo que ele representa em termos de retrocesso e de atentado ao regime democrático. Apoios importantes surgirão da parte do MDB, mesmo se uma ala insistir em manter o nome da senadora Simone Tebet, que não decola em pesquisas.
A respeito da coligação com o PSB, a resolução do PT nacional deixa claro que será importante passo na direção almejada. “Confirmará nossa disposição de, no governo, implementar um programa de reconstrução e transformação do Brasil, ampliando nossa base real”. O ex-governador de São Paulo foi indicado oficialmente pelo PSB para ocupar a candidatura a vice-presidente na última sexta-feira, 8. Em um evento com a presença de Gleisi, Lula e Alckmin em São Paulo, o presidente da sigla socialista, Carlos Siqueira, entregou uma carta de indicação à presidente do PT, Gleisi Hoffmann. No documento, Siqueira afirma que a eleição de 2022 é “um confronto decisivo entre democracia e autoritarismo”. Acrescenta que “para somar potência e amplitude à resistência contra o autoritarismo que será liderada pelo companheiro Lula, o PSB propõe para compor a chapa o nome do companheiro Geraldo Alckmin”.
Tratando a escolha de Alckmin como certa, Lula discursou em defesa do ex-governador de São Paulo. O ex-presidente afastou desentendimentos históricos e destacou que Geraldo Alckmin é, agora, “um companheiro”. Explicou Lula: “Ele foi vice do Mário Covas por seis anos, foi governador e tem experiência política. Nós vamos precisar da minha experiência e da experiência do Alckmin para reconstruir o país, conversando com toda a sociedade brasileira”. Antes do lançamento oficial no encontro nacional do PT em início de junho, Geraldo Alckmin deve estar ao lado de Lula em um ato no dia 7 de maio. Membros das correntes minoritárias do diretório acusaram a direção petista de não respeitar as demais instâncias partidárias antes de colocar o assunto em votação no diretório. Mas Gleisi acha que o posicionamento tomado pela maioria anula resistências eventuais.
A preocupação número um do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva é com a manutenção da vantagem que até aqui tem conquistado na maioria das pesquisas de intenção de voto junto a diferentes segmentos do eleitorado brasileiro. Por causa de oscilações verificadas em alguns levantamentos, nos quais Bolsonaro cresceu a pontuação, Lula tem evitado clima de triunfalismo dentro do PT e dos partidos aliados que comporão a chamada frente democrática, advertindo que a campanha será dura e que adversários não devem ser subestimados. O ex-presidente e líder petista também está sendo aconselhado a ser mais cauteloso na abordagem de temas polêmicos para não assustar parcelas conservadoras da sociedade. Na própria reunião que manteve com senadores e caciques do MDB houve ponderações a Lula para dosar a linguagem sem perder de vista a ênfase no combate ao bolsonarismo. A articulação pró-Lula ganha força à medida que a chamada “terceira via” perde espaços como alternativa à polarização com Bolsonaro, que deverá ser mesmo a tônica da disputa presidencial.