Nonato Guedes
Como definiu o jornalista Luiz Carlos Azedo, em artigo noo “Correio Braziliense”, a chamada terceira via na sucessão presidencial de 2022 “é um mistério”. Sucedem-se os nomes de aspirantes a ocupar o espaço e quebrar a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas esses nomes não empolgam parcelas crescentes do eleitorado e vão sendo tragados pelo “efeito dominó”, abrindo mão de postulações ou sendo escanteados por partidos e forças políticas que batem cabeça para viabilizar uma candidatura “de centro”. O último a cair em desgraça foi o ex-juiz Sergio Moro, que chegou a surpreender com percentuais de pontuação na largada. Por incrível que pareça, quem ainda resiste é o ex-ministro Ciro Gomes, apesar de todo o “recall” de rejeição e a dificuldade em firmar uma imagem realmente confiável para o grande público.
O “mistério” sobre não vingar a terceira via como alternativa de poder tem a ver, na opinião de Luiz Carlos Azedo, com a mesmice da narrativa de centro, que não enfrenta o problema das desigualdades e da exclusão social. Contra Ciro, que é um político experiente e articulado, conspira o o próprio temperamento intempestivo, mas seu maior problema está no fato de que o projeto nacional-desenvolvimentista que encampou foi abduzido por Lula e não atrai as forças políticas de centro. “Ciro é uma espécie de patinho feio entre os candidatos da terceira via”, observa o analista. Lula, quando voltou à cena política, tomou como prioridade a estratégia de esvaziar ou neutralizar possíveis concorrentes que pudessem ameaçá-lo, sendo Ciro o principal deles.
Um caso intrigante, que provoca análises constantes e interpretações variadas, é a performance do ex-governador de São Paulo, João Doria, que inclusive venceu as prévias dentro do PSDB para indicação da candidatura, contra o também ex-governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul. A atuação de Doria à frente da administração paulista exibe resultados espetaculares, na infraestrutura, no desenvolvimento econômico, na geração de emprego, na educação, sem falar na saúde, principalmente na questão das vacinas contra a covid-19, em que o Estado foi pioneiro na produção e, na sequência, avançou na imunização. Doria, entretanto, não consegue capitalizar esses resultados em termos eleitorais. Hoje estão os dois, sem instrumentos de poder, tentando sensibilizar segmentos órfãos de opção, mas a fotografia não é boa, nem de um nem de outro, nas pesquisas de intenção de voto. No MDB, a senadora Simone Tebet tenta escapar do bombardeio de setores do partido que querem defenestrá-la logo no primeiro turno e correr para a candidatura do ex-presidente Lula. É uma incógnita, portanto.
A distância entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro, como lembra Azedo, vem encurtando, enquanto o espaço para uma candidatura alternativa nessa pré-campanha parece cada vez mais restrito. As pesquisas de opinião que t^~em sido realizadas apontam uma tendência de consolidação de votos, em razão de os candidatos serem mais conhecidos, porém, a eleição ainda está no estágio de “guerra de posições”, ou seja, de ocupação de espaços e acumulação de forças. Como, no Brasil, as eleições presidenciais são decididas numa “guerra de movimento”, quando a grande massa de eleitores efetivamente se envolve nos debates eleitorais e decide o que fazer, sempre há campo para expectativas de virada ou de surpresas. No geral, porém, o cenário para 2022 aponta para a irreversibilidade da polarização entre Lula e Bolsonaro, até porque são os que adquirem maior visibilidade, pelos feitos ou pelas polêmicas.
Lula considera-se, pelo teor das suas declarações, arauto de um movimento nacional de preservação do próprio regime democrático que não estaria mais confinado apenas ao Partido dos Trabalhadores, mas a outras legendas, inclusive no campo da centro-direita que o líder petista procura cortejar para vencer já no primeiro turno. Jair Bolsonaro aposta suas fichas no sentimento antipetista, que a seu ver parece mais encardido do que Lula imagina. Esse sentimento, diante das fragilidades da terceira via, alimentaria o crescimento do capitão na classe média para além do impacto do auxílio emergencial e outras benesses do governo na massa de eleitores de baixa renda. Setores que haviam se afastado do governo, por causa da pandemia, da recessão e declarações extremadas de Bolsonaro, estão começando a ver a sua reeleição com naturalidade, principalmente no meio empresarial. Para alguns analistas, os sinais são eloquentes de que a gangorra está cristalizada na eleição presidencial, sem chance para emergência de fatos novos. A conferir!