Nonato Guedes
Fontes ligadas ao governador João Azevêdo (PSB), que atualmente está licenciado do cargo e cumpre roteiro de férias na Europa, asseguram que a postura do chefe do Executivo quanto ao projeto de candidatura à reeleição ao Executivo paraibano é de confiança e que ele não teme maiores ameaças à nova disputa que vai empalmar em outubro, no primeiro turno. Ressaltam que ele não subestima eventuais adversários, não considera que defecções ocorridas no seu bloco político tenham constituído sangria eleitoral mais expressiva e, por fim, acredita no alcance que terá junto à opinião pública a sua mensagem baseada no que tem sido feito até agora no primeiro mandato e nas perspectivas que tendem a ser melhores na segunda gestão.
O pleito de 2022 assinala o verdadeiro batismo de fogo de João Azevêdo, que rompeu com o ex-governador Ricardo Coutinho (hoje PT), seu principal cabo eleitoral em 2018. Na campanha lá atrás, Ricardo não só enfeixou o comando da estratégia da campanha, promovendo as composições necessárias, como permaneceu à frente do próprio governo para ter segurança da continuidade do ritmo da máquina administrativa, sem prejuízo de Azevêdo e de outros postulantes que o então socialista apoiou no páreo majoritário e proporcional. Coutinho chegou a ser sondado e aconselhado a disputar um mandato de senador, com a alegação de que, teoricamente, seria dono de uma das duas vagas em jogo. Mas não se sensibilizou com as manifestações e obstinou-se em ficar no cargo até o último dia, contribuindo decisivamente para a vitória de João Azevêdo em primeiro turno.
Neste ano, João Azevêdo já não vestirá mais o figurino de “técnico” com que foi apresentado ao eleitorado nas diferentes regiões da Paraíba há quase quatro anos. Mudou de partido, marcou presença ativa nas eleições municipais de 2020 para prefeito, inclusive dividindo vitória em João Pessoa, principal colégio eleitoral, com o Partido Progressistas, e logrou concretizar uma grande meta que ambicionava – situar-se na base de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República. As mutações ocorridas na trajetória de Azevêdo foram dificultosas, a exemplo do movimento para retornar aos quadros do PSB e recolocar-se no campo da esquerda, deixando para trás a passagem pelo “Cidadania”, uma agremiação que foi útil quando ele teve que deixar o PSB e enquanto durou, até a deflagração da nova configuração partidária para o pleito 2022.
Houve baixas, sim, no esquema de sustentação política do governador. A mais barulhenta delas foi a do senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente do diretório estadual do MDB, que entregou cargo na administração e tomou-se de ânimo para encarar candidatura própria ao governo do Estado, confiante na exclusividade do apoio do ex-presidente Lula na Paraíba. A tática de Veneziano para tentar isolar o governador envolveu a aliança com o PT em torno do ex-governador Ricardo Coutinho, que se debate com o fantasma da inelegibilidade mas teima em tentar se registrar como candidato ao Senado nas próximas eleições. Houve, na sequência, a ruptura do deputado Efraim Filho (União Brasil), pré-candidato ao Senado, com o governador. O parlamentar, que largou cedo na corrida senatorial, tentou obter uma definição prévia de apoio de Azevêdo para se situar no contexto local, mas saiu da base de mãos abanando e, como represália, aliou-se ao deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), pré-candidato ao Executivo. Contabiliza-se, ainda, como baixa o desalinhamento da vice-governadora Lígia Feliciano (PDT), que ainda luta para se viabilizar no páreo ao governo, com sérios obstáculos a resolver.
O governador João Azevêdo não fez reposições à altura no quadro de aliados políticos para compensar defecções enfrentadas, mas não ficou parado e, uma vez tendo se assenhoreado do comando do PSB no Estado, investe na aliança com o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) ao Senado, aposta no apoio valioso do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena e pulveriza redutos adversários em cidades como Campina Grande atraindo descontentes com alianças não consensuais. No plano nacional, ele conta com o reforço do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que este venha a apoiar mais de um candidato na Paraíba (o outro seria Veneziano Vital do Rêgo). Mas é em termos administrativos, com o saldo que tem proporcionado nos primeiros quatro anos, que João Azevêdo busca se credenciar junto à sociedade e dela obter a renovação do voto de confiança para continuar no Palácio da Redenção.
Além de Pedro Cunha Lima e do senador Veneziano Vital do Rêgo, insinua-se ao páreo o comunicador Nilvan Ferreira, ex-MDB, ex-PTB, atualmente PL, que tenta capitalizar a condição de candidato oficial do presidente Jair Bolsonaro ao governo do Estado. De antemão, forças políticas que são contrárias a João Azevêdo já fazem, inclusive, projeções para aliança ou composição num virtual segundo turno do processo eleitoral paraibano, como parte de estratégia para intimidar o grupo do chefe do Executivo e, em paralelo, aparentemente demonstrar força no cenário local. Mas mesmo setores da oposição admitem que o governador pilotará uma espécie de “rolo compressor” nas próximas eleições, diante de resultados administrativos que estão carreando índices de aprovação em segmentos influentes do eleitorado. Mas, se não há temor de ameaças de desestabilização, em Palácio há postura cautelosa. A ordem é evitar o “já ganhou” e trabalhar com afinco para alcançar o triunfo esperado no Dia “D”.