Nonato Guedes
A vice-governadora Lígia Feliciano tentava, nas últimas horas, contornar junto à cúpula nacional do PDT o impasse criado com a intervenção no diretório estadual do partido que destituiu do comando o seu filho, Renato Feliciano, e pôs em risco o seu projeto como pré-candidata ao governo. Lígia ficou refém na legenda porque já se fechou a janela partidária que possibilitaria a migração de políticos para outras siglas em condições de disputar mandato no pleito de outubro. O advogado Marcos Ribeiro, novo presidente do PDT da Paraíba, deu declarações a emissoras de rádio locais falando em “começar do zero” o trabalho de reestruturação da sigla e fugindo de compromisso com a permanência da candidatura de Lígia, insinuando que ela poderia ter que disputar a indicação internamente.
Até então, a vice-governadora tinha todo o respaldo por parte do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, para empalmar candidatura ao Palácio da Redenção, inclusive, com o argumento de que protagonizaria um feito histórico pela possibilidade de vir a se eleger a primeira governadora na história do Estado. Mas as coisas se complicaram quando o marido de Lígia, o deputado federal Damião Feliciano, migrou para o “União Brasil” na reta final da janela partidária alegando que teria dificuldades de reeleição à Câmara pelo PDT. O gesto foi entendido como uma traição à agremiação pedetista, que por mais de uma década esteve sob controle do “clã” Feliciano, além de ter significado, para analistas políticos locais, uma guinada ideológica radical da parte de Damião, que deixou o campo da esquerda para se fixar no campo da centro-direita. Ainda ontem, o deputado federal Efraim Filho, pré-candidato ao Senado, abriu as portas do União Brasil para Lígia e solidarizou-se com ela, embora Efraim esteja fechado com a pré-candidatura do deputado tucano Pedro Cunha Lima ao governo.
O interventor do PDT paraibano é presidente da Comissão de Ética Nacional do partido e atuou na assessoria do ex-governador Leonel Brizola, criador da sigla, que foi uma dissidência do PTB de Ivete Vargas. Marcos Ribeiro demonstrou que não conhece a realidade política paraibana e somente agora está procurando se inteirar sobre quem é quem no xadrez local. Ele é uma espécie de delegado da alta direção do partido para tentar fortalecer, nos Estados, a pré-candidatura do ex-ministro Ciro Gomes a presidente da República. A intervenção no diretório da Paraíba foi considerada “profilática” diante dos rumos contraditórios que vinham marcando o reinado dos Feliciano. No afã de ser candidata ao governo, Lígia abriu entendimentos com o PT e, nas entrevistas ou postagens em redes sociais, fazia mais elogios ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que ao ex-ministro Ciro Gomes. Diante desses fatos, a intervenção foi como um chamamento do feito à ordem. O PDT, em Estados como a Paraíba, vinha sendo propriedade de núcleos familiares e essa situação foi tolerada até o limite do possível.
Independente da inocuidade da mobilização que a vice-governadora Lígia Feliciano empreende, de última hora, para se manter pré-candidata ao governo na Paraíba, a verdade é que sua postulação já não tem mais o condão de agregar apoios para a campanha de 2022. Nesse aspecto, diz-se que o ano está perdido para os pedetistas locais, até porque, sob o domínio do “clã” Feliciano, o partido não avançou na própria organização e na montagem de diretórios, inviabilizando-se, por consequência, a própria formação de chapas majoritárias ou proporcionais, de que foi exemplo a “fuga” do deputado Damião da legenda para o União Brasil em busca de sobrevivência. Por outro lado, Lígia passou a perder força como alternativa no campo da esquerda depois que o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) apressou-se em firmar compromisso de aliança com o PT local, oferecendo a vaga de senador ao ex-governador Ricardo Coutinho na chapa que ele, Veneziano, se dispõe a encabeçar. A ida de Damião para o União Brasil reforçou as desconfianças quanto ao “esquerdismo” do clã então alojado no PDT.
Por causa da vice-governadora Lígia Feliciano, o PDT chegou a ser cogitado como hipótese com vistas a exercer protagonismo na conjuntura política-eleitoral paraibana este ano. Lígia está concluindo o segundo mandato como vice-governadora (o primeiro foi na gestão de Ricardo Coutinho). Em virtude de pretensões pessoais e familiares, a vice-governadora já há algum tempo estava “desalinhada” do esquema político do governador João Azevêdo. Lígia comemorou, triunfante, a postura de “independência” que, segundo ela, o PDT adquirira para avaliar corretamente o cenário local e, então, se posicionar. Da suposta “esperteza” ou “sagacidade política”, o “clã” Feliciano passou para a acomodação e, com isto, foi perdendo espaços e credenciais no jogo. Damião aparentemente escafedeu-se com o movimento de ingresso no União Brasil, mas Lígia parece inapelavelmente descartada na equação política de 2022 na Paraíba, tendo agora papel secundário, sem maior cacife, nas tratativas que continuam rolando entre políticos profissionais.