Nonato Guedes
No dizer dele, o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à sua pré-candidatura ao governo da Paraíba está sacramentado desde o final do ano passado. Mas como ainda não houve manifestação oficial, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ainda não é considerado o “ungido”, embora tenha avançado substancialmente na interlocução com o ex-mandatário e na articulação com expoentes do PT, tanto a nível nacional como a nível local. Haverá uma situação atípica nas eleições porque o governador João Azevêdo (PSB), candidato à reeleição e do qual Veneziano foi aliado até pouco tempo também estará na base de apoio à pré-candidatura de Lula no Estado. Esse cenário exigirá mais habilidade de Lula do que dos candidatos ao seu apoio – e ontem já se falava na hipótese de Lula não vir à Paraíba, pelo menos no primeiro turno da disputa eleitoral.
Veneziano, que votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff mas ganhou canal privilegiado com Lula depois que este deixou a prisão em Curitiba, é peça importante no projeto de Lula para atrair o apoio fechado do MDB do Nordeste à sua postulação à presidência da República. O parlamentar paraibano não toma conhecimento da pré-candidatura própria da senadora Simone Tebet (MS), que está posta dentro do MDB. Optou por “colar” em Lula e constantemente tem tido a sorte de achar brecha na agenda do ex-presidente para estar ao seu lado. Nas suas redes sociais, Veneziano abusa da divulgação de fotos em que aparece abraçado a Lula, numa cordialidade de dar inveja a políticos paraibanos do próprio PT que se contentam com um “olá” do favorito nas pesquisas.
Assessores do governador João Azevêdo, atualmente licenciado do cargo, em férias pelo exterior, insistem em acreditar que a parada não está ganha por Veneziano e calculam que a integração do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSB, suposto pré-candidato a vice de Lula, à campanha do petista, produzirá oscilações na estratégia lulista. O ex-presidente, por essa ótica, terá que dar atenção especial ao PSB, que é o partido com quem de fato compartilhará a administração, ainda que esta venha a ser loteada em fatias com outras agremiações. Lula já deixou claro que Geraldo Alckmin, como vice, não terá papel decorativo, nem como candidato nem como eleito/empossado, se isto vier a acontecer. Cumprirá missões delegadas pelo próprio Lula e vai atuar na atração de segmentos ligados, por exemplo, às forças produtivas ou de mercado, para que uma terceira gestão lulopetista seja fortemente respaldada e fique imune a tormentas ou cogitações de impeachment. A importância do papel de Alckmin para luta deverá ter efeito colateral para favorecer o PSB, dentro da lógica franciscana do que é dando que se recebe, da qual políticos de diferentes matizes não abrem mão.
O senador Veneziano Vital do Rêgo tem feito a sua parte no sentido de assumir-se como aliado incondicional do ex-presidente Lula na Paraíba. Dessa estratégia engenhosa fez parte o seu movimento no sentido de promover aliança local com o PT, encampando sem restrições a pré-candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho ao Senado, mesmo com o fantasma da inelegibilidade rondando essa pretensão, devido ao envolvimento do outrora socialista em processos da Operação Calvário. A aposta maior do emedebista, porém, continua sendo no “cacife” de Lula para lhe transferir votos na disputa pelo governo da Paraíba. É um fato questionado nas rodas políticas paraibanas devido à dificuldade de Lula de transferir votos em nosso Estado, embora, pessoalmente, seja favorecido. Seja como for, Veneziano continuará se fazendo obstinado nas táticas que concebeu para tentar chegar ao Palácio da Redenção.
No seu retorno da Europa, enquanto isso, o governador João Azevêdo terá que correr para compensar eventual tempo perdido no atual período de recesso a que se entregou. Afirma-se que ele não está parado e que, mesmo de férias, atua politicamente por controle remoto, interferindo em algumas decisões que envolvem partidos e definições de apoio a chapas majoritárias para o pleito vindouro. Especula-se que há ‘digitais’ de Azevêdo no recente turbilhão que acometeu o PDT e que defenestrou o “clã” Feliciano de um comando exercido por mais de uma década nas franjas do território estadual. Fato é que o governador não pode mais ser subestimado no cenário ao contabilizar-se a vitória espetacular que lhe possibilitou voltar às hostes do PSB quando tudo parecia perdido para ele e o seu grupo político.
Quanto a Veneziano, segue o script do desideratum que traçou para si próprio e que comporta alternativas. Não sendo eleito governador, já que a disputa promete ser acirrada, permanecerá no exercício do mandato no Senado Federal, na posição de destaque já alcançada e que poderá ser reforçada na hipótese de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pela proximidade que logrou conquistar com o líder petista, Veneziano tem tudo para ser prestigiado numa hipotética terceira gestão de Lula, quer no campo da articulação política, quer enfrentando outros desafios que se apresentarem mais ajustados à realidade atual. Em política, perder uma eleição não significa, necessariamente, perder o poder. Que o digam notáveis da cena nacional que tiveram a capacidade de se reinventar e sobreviver quando emergiram de “acidentes de percurso”, digamos assim…