Nonato Guedes
Com o fim das férias do governador João Azevêdo (PSB), que cumpriu périplo pelo exterior, recomeçam as demarches no bloco oficial para a costura da unidade em torno da chapa que ele vai encabeçar nas eleições de outubro, como candidato a um novo mandato, envolvendo não somente o apoio a ele mas, também, ao candidato ao Senado. O deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) deverá ser mesmo confirmado para a senatória e, a partir daí, integrar-se efetivamente à campanha pela reeleição de Azevêdo. A expectativa é de “enquadramento” de lideranças como a senadora Daniella Ribeiro (PSD), irmã de Aguinaldo, que insistiu, enfaticamente, em que não é da base liderada por João mas que se dispôs ao diálogo e engajamento no interesse do projeto familiar de conquistar mais uma vaga no Congresso.
Nos meios políticos locais afirma-se que “a hora da verdade” está chegando para o próprio Aguinaldo, que tem demonstrado a pretensão de disputar o Senado mas não tem feito movimentos mais significativos para viabilizar o projeto, a exemplo da liberação de redutos com votos a deputado federal para líderes que prometem apoiá-lo na empreitada maior. O principal reduto de Aguinaldo que é cobiçado é Campina Grande, por se tratar do segundo colégio eleitoral do Estado e que polariza disputa acirrada ao Senado, além de ter dois candidatos ao governo em contraponto a João Azevêdo (o senador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB, e o deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB). Falou-se muito em que Aguinaldo vinha “jogando parado”, mas seus aliados atribuem a menção a uma analogia com a movimentação mais ostensiva desencadeada pelo deputado Efraim Filho (União Brasil) e sugerem que Ribeiro fez contatos importantes e decisivos nos bastidores, cujos resultados vão se refletir na sua jornada.
Há uma expectativa sobre o posicionamento definitivo do “Republicanos”, partido presidido pelo deputado federal Hugo Motta, que chegou a declarar, por meio de alguns de seus membros, compromisso com a pré-candidatura de Efraim Filho, mesmo estando ele, hoje, integrado a uma chapa de oposição. Interlocutores do governador ressaltam que continua em voga o princípio da unidade da chapa majoritária, com o apoio, inclusive, à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem João Azevêdo está apalavrado. Aguinaldo Ribeiro, embora integre um partido do “Centrão”, que está na base do governo do presidente Jair Bolsonaro, não deverá ter dificuldades para apoiar Lula, já que fez parte da gestão petista de Dilma Rousseff como ministro das Cidades. O parlamentar foi útil na articulação, este ano, de entendimentos entre Azevêdo e a cúpula nacional do PT, furando o bloqueio que petistas paraibanos, liderados pelo ex-governador Ricardo Coutinho, tentam impor quanto a certas aproximações com Lula.
As definições sobre a candidatura de Aguinaldo Ribeiro e sobre os dois suplentes, bem como a respeito do nome para vice-governador na chapa de João Azevêdo, deverão envolver diretamente o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), que é o principal entusiasta da composição entre o atual chefe do Executivo estadual e o deputado “progressista”. Cícero foi eleito prefeito em 2020 com o apoio de Azevêdo, que, na época, já estava rompido com o antecessor Ricardo Coutinho e, de la´para cá, as relações administrativas e políticas têm sido estreitadas. O governador parece confiante no êxito do projeto político que está pilotando, depois que ganhou autonomia de voo para promover composições de acordo com seu figurino. O apoio à pré-candidatura de Lula ao Planalto está mantido independente de pulverização de palanques no Estado. O governador tem dito que nunca colocou como premissa a exclusividade de palanque.
No terreno do apoio a Lula, João Azevêdo duela com o senador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB, que até pouco tempo foi seu aliado mas rompeu e lançou candidatura própria ao governo. Veneziano tem reafirmado que se considera o principal candidato de Lula da Silva na Paraíba e tem reproduzido fartamente, em suas redes sociais, imagens ao lado do ex-presidente, com declarações de apoio e juras de afinidade com seu ideário. O senador paraibano ignora olimpicamente a pré-candidatura da senadora Simone Tebet ao Planalto dentro do seu partido, o MDB, enquanto incensa Lula como uma espécie de “redentor” do país. Veneziano é peça-chave no MDB nordestino para assegurar até o fim o apoio a Lula e, ao mesmo tempo, tem sido interlocutor privilegiado junto ao ex-presidente da República com informações sobre a dinâmica legislativa e as pautas polêmicas que estão em tramitação no Congresso.
Sobre o governador João Azevêdo, é otimista com relação à estratégia que tem norteado seus passos rumo à campanha eleitoral de 2022. Do ponto de vista administrativo, avalia que sua gestão tem apresentado resultados extremamente positivos, de que é exemplo o avanço no enfrentamento à pandemia de covid-19 no Estado, bem como o equilíbrio fiscal que voltou a ser atestado por órgãos do Tesouro Nacional, somado ao rol de obras e investimentos atraídos mesmo com as dificuldades ocasionadas por medidas excepcionais de isolamento social, que agora estão sendo flexibilizadas. É com o vasto “portfólio” de que dispõe que o governador paraibano pretende motivar adesões ao seu projeto para permanecer no poder e, ao mesmo tempo, derrotar forças políticas que ameaçam se unir num segundo turno para destroná-lo do Palácio da Redenção.