Nonato Guedes
O governador da Paraíba, João Azevêdo, estava em estado de graças, ontem, em Brasília, depois da fase de turbulência que enfrentou e na qual esteve ameaçado de ser alijado do campo da esquerda em que pretende pontificar nas eleições deste ano, quando disputa novo mandato ao Palácio da Redenção. Além de participar do Congresso Constituinte da Autorreforma do PSB em Brasília, no qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ovacionado ao lado do seu vice, o “socialista” Geraldo Alckmin, Azevêdo comandou articulações que praticamente selaram a escolha do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do “Progressistas”, como seu candidato ao Senado no pleito vindouro. Enfim, o governante demandou gestões com a cúpula do Republicanos para bater o martelo quanto à aliança com esse partido na disputa.
O diálogo com o Republicanos está sendo conduzido com habilidade extrema, em respeito à posição de deputados que, lá atrás, haviam firmado compromisso de apoio à pré-candidatura do deputado federal Efraim Filho (União Brasil) ao Senado e mantêm esse propósito, ainda que apoiando a candidatura do governador João Azevêdo à reeleição e não a do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) que se compôs com Efraim. O próprio presidente do Republicanos, deputado federal Hugo Motta, e o deputado estadual Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa, ainda verbalizavam nos últimos dias a intenção de continuarem “fechados” com Efraim, mas fontes do entorno de Azevêdo mencionam fatos novos em andamento capazes de produzir reviravolta no cenário local.
Do ponto de vista da sua posição no contexto político nacional, envolvendo a eleição à presidência da República, o governador João Azevêdo acabou ficando bem na fita, ao lado do ex-presidente Lula da Silva, cuja candidatura sempre quis apoiar. O chefe do Executivo enfrentou dificuldades no meio do caminho, opostas por ex-aliados como o ex-governador Ricardo Coutinho e demais expoentes do PT paraibano que renegam aproximação com o seu esquema e preferem aliar-se ao senador Veneziano Vital do Rêgo, pré-candidato pelo MDB. Esta semana, numa entrevista a órgãos da chamada “mídia independente”, Lula avançou algumas definições sobre a situação na Paraíba, descartando a hipótese de palanque único em apoio ao seu nome e listando um rol de políticos que considera como seus aliados, entre os quais o governador João Azevêdo. O pragmatismo de Lula foi expresso numa frase: “Eu não recuso votos”.
Vale ressaltar que, embora não tenha com o ex-presidente Lula o grau de intimidade que políticos como o ex-governador Ricardo Coutinho e o senador Veneziano Vital do Rêgo ostentam, o governador João Azevêdo não é um estranho no ninho nem no campo da esquerda nem na base lulista. Em 2018, quando concorreu ao governo do Estado, ele estava filiado ao PSB, então comandado por Ricardo Coutinho, e foi eleitor de Fernando Haddad, o candidato que substituiu Lula no páreo porque este se encontrava preso na Polícia Federal em Curitiba. Já como governador, Azevêdo se manteve no PSB até ser golpeado pelas costas por Ricardo Coutinho, em meio a um desaguisado político que a Paraíba conhece de cor e salteado. O ingresso no “Cidadania” foi o que restou a Azevêdo após o exame de outras opções e de variados convites. Mas sua obstinação, mesmo, era a de voltar ao PSB, de onde Ricardo já batia em retirada para fazer o caminho de volta ao PT. Tal desideratum se consumou em tempo, na fase preliminar para a campanha eleitoral propriamente dita, e Azevêdo ganhou um trunfo adicional com a entrada de Geraldo Alckmin no PSB com a condição de ser o vice de Lula.
Por mais que a postura de Azevêdo pró-Lula desagrade a alguns aliados seus, o governador dela não faz segredo e nem pretende recuar. Além, é claro, da expectativa de poder vir a ser favorecido por Lula na disputa à reeleição ao governo da Paraíba, Azevêdo lutou o tempo todo para marcar sua presença no campo da esquerda, mantendo léguas de distância do presidente Jair Bolsonaro e do bolsonarismo. Ele agiu estrategicamente para não ficar isolado no Nordeste, região onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva detém percentuais de favoritismo indiscutível, quer pelas suas origens, quer por ações empreendidas, a principal delas o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Estar ao lado de Lula tornou-se questão de honra para o governador da Paraíba, e ele foi, inegavelmente, bem sucedido na empreitada, desafiando os céticos e os opositores figadais.
Refestelado na base lulista, o governador parte, agora, para formatar melhor o projeto de sua chapa às eleições, que inclui, ainda, a escolha do candidato a vice-governador. Na jornada que empreendeu, Azevêdo sacrificou aliados que o acompanharam, de forma decidida, no seu teste de 2018 e impôs seu próprio cronograma, deixando claro que o condutor do processo de definição da chapa sempre foi ele. Nesse ponto, fez-se irresignado, ainda que a um custo que poderia ser fatal para suas pretensões. Da parte do deputado Aguinaldo Ribeiro, que por muito tempo jogou parado na conjuntura local, como se esperasse ser bafejado por fatores excepcionais, a hora é de arregaçar as mangas, integrar-se mais decididamente ao projeto de reeleição do governador João Azevêdo e apresentar-se como “lulista” desde criancinha. O jogo se encaminha para fases decisivas em que não será admitido titubeio de quem quer que seja, vencidas ou queimadas as etapas processadas até agora.