Nonato Guedes
Depois de passar cerca de um ano tentando viabilizar-se, na base do governador João Azevêdo (PSB) como pré-candidato ao Senado em dobradinha com o chefe do Executivo que disputará a reeleição, sendo “rifado” na pretensão, o deputado federal Efraim Filho, do União Brasil, está às voltas com novos acidentes de percurso, atritando-se com outras forças políticas influentes e colocando-se diante da ameaça de vir a ter sabotados espaços preciosos que procura preservar para concretizar o desideratum em relação ao Congresso. Ele foi atropelado ao ensaiar movimentos de aproximação e apoio à candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição, e a rasteira partiu de Bruno Roberto, também pré-candidato ao Senado e filho do deputado federal Wellington Roberto, presidente estadual do PL, partido a que se filiou o mandatário.
Bruno, em postagem que tornou pública em rede social, acusou Efraim de “oportunismo” no aceno para aproximação com Bolsonaro, já que, até então, não havia sido enfático ou afirmativo na declaração de apoio à recandidatura do presidente da República. Para ele, o deputado do União Brasil somente decidiu fazer esse gesto após “ter sido escorraçado” pelo governador João Azevêdo, referindo-se à exigência imposta pelo gestor para ter na sua chapa, exclusivamente, candidatos afinados no apoio à postulação do ex-presidente Lula ao Palácio do Planalto. Bruno Roberto salientou que ele é o pré-candidato oficial do presidente Jair Bolsonaro ao Senado na Paraíba e tem, inclusive, como candidato a primeiro suplente, o paraibano Tércio Arnaud, que até pouco tempo foi assessor do chefe de Governo no Palácio do Planalto. Isto, de fato, chegou a ser dito pelo próprio Bolsonaro, lá atrás, numa “live” que promoveu e na qual mencionou nomes de políticos paraibanos. Mas em outra “live” ele mencionou novos nomes de aliados na Paraíba, o que indica que, tal como o ex-presidente Lula, Bolsonaro quer apoio de “todo mundo” em nosso Estado.
A emulação entre o deputado federal Efraim Filho e o pré-candidato Bruno Roberto ganhou força e repercussão diante do anúncio sobre a iminente visita do presidente Jair Bolsonaro à Paraíba, no começo de maio, para inaugurar mais um trecho do projeto da transposição de águas do rio São Francisco. Efraim deu a notícia no papel de coordenador da bancada federal paraibana em Brasília, alegando ter tido acesso a informações privilegiadas sobre a agenda presidencial para os próximos dias. Bruno Roberto, entretanto, desdenhou dessa versão e informou que ele próprio ouviu em primeira mão do presidente da República o anúncio de sua visita à Paraíba, com o pedido para que fizesse divulgação a respeito. Bruno ainda acicatou Efraim, dizendo que o parlamentar do União Brasil não se expõe na Paraíba em defesa de Bolsonaro, sobretudo quanto às críticas que ele sofre dos opositores.
A verdade é que o deputado federal Efraim Filho sempre foi tido como integrante da base de apoio ao governo Bolsonaro, votando favoravelmente a inúmeras matérias de iniciativa do Poder Executivo na Câmara. Chegou a conquistar uma grande vitória quando o presidente da República sancionou um projeto de sua autoria, desonerando a folha de pagamento das empresas, dentro de uma estratégia para gerar mais empregos e oportunidades de absorção no mercado de trabalho. Efraim deu crédito ao presidente Bolsonaro pela sensibilidade em acolher sua propositura, que considerou um marco na relação trabalhista brasileira, especialmente em período de calamidade como o da pandemia de covid-19. Mas é evidente que o parlamentar procurou capitalizar, sobretudo, para si, os loiros da medida que teve ampla repercussão junto a segmentos carentes da população brasileira.
No geral, em termos políticos-ideológicos, o deputado Efraim Filho demonstra um perfil moderado, destoando, por exemplo, da linha radical adotada pelo presidente Bolsonaro e por apoiadores mais ortodoxos, que se confrontam permanentemente com o Supremo Tribunal Federal e com outras instituições, além de fazerem apologia de atos autoritários e demonstrarem desapreço, por via de consequência, em relação às liberdades democráticas. Essa postura de Efraim Filho o tem colocado, nas análises políticos, na centro-direita, seguramente longe de propostas extremistas ou incendiárias. Mas, por outro lado, o deputado tem sido firme na crítica ao PT e aos governos de Lula, tendo apostado na viabilidade de uma “terceira via” que representasse as forças de centro. Essa “terceira via” vai se tornando cada vez mais remota, e o próprio União Brasil não consegue chegar a um acordo sobre nomes para empalmá-la.
Tudo isto deixou Efraim, até então, na posição de franco-atirador em relação à eleição presidencial, mas ele sempre teve consciência de que esta não é a melhor posição, sobretudo quando o clima é de flagrante polarização, seguido de radicalização, que opõe a esquerda à direita no país. Preterido pelo governador João Azevêdo, que é discípulo de Lula, Efraim se compôs com o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), pré-candidato ao governo do Estado, e foi anunciado como seu candidato ao Senado. Os dois têm percorrido regiões da Paraíba tentando firmar o projeto político-eleitoral, mas enfrentam a concorrência do esquema de Azevêdo e outras divisões no próprio bloco de centro-direita. Efraim iniciou a jornada dizendo que a pré-candidatura ao Senado é um foguete que não dá ré. Para não dar ré nem perder substância ele precisa, urgentemente, encaixar-se no cenário da sucessão presidencial e, em termos locais, resolver de vez o apoio do Republicanos, que oscila entre seu nome ao Senado e de João Azevêdo ao governo. São imprevistos que nem de longe figuravam na pauta de Efraim para a travessia dos próximos meses, que serão decisivos para seu futuro.