Nonato Guedes
Mesmo não sendo candidato a mandato eletivo no pleito deste ano, o ministro da Saúde, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, desponta como um dos mais ativos e influentes ‘”abos eleitorais” da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição, atuando em palanques e no Guia Eleitoral, sobretudo, no Estado de origem, mas com raio de ação por outras unidades da Federação. No último domingo, dia Primeiro de Maio, Queiroga ofereceu uma prévia do seu ativismo político ao participar, em João Pessoa, de uma carreata organizada por apoiadores do presidente da República, que disseram propugnar a defesa da liberdade e condenar o suposto ativismo judicial, referência a atitudes de ministros do Supremo Tribunal Federal que o chefe da Nação tem contestado.
Queiroga já emitiu sinais de que tem vocação e até mesmo ambição política. Lá atrás, ele chegou a ser cogitado como candidato a diferentes cargos na Paraíba – de governador a senador, passando por deputado federal. O próprio presidente Jair Bolsonaro chegou a incentivá-lo a entrar na política, garantindo que se ele o fizesse teria seu apoio direto. Mas foi o próprio Queiroga quem desistiu da intenção de concorrer, justificando preferir permanecer à frente do Ministério, onde ainda teria missões relevantes a cumprir. Nos meios políticos, atribuiu-se a desistência de Queiroga à insegurança quanto ao seu êxito eleitoral – e em outras áreas falou-se em “apego excessivo” por parte dele ao cargo que ora ocupa e que o coloca permanentemente na mídia. De concreto, anunciou-se que um filho do ministro, Cristóvão Queiroga, irá substituí-lo disputando vaga na Câmara Federal.
O ministro, que já teve um irmão eleito para a Câmara Municipal de João Pessoa, está afastado da Paraíba há algum tempo, tendo sido, antes de assumir o ministério, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, onde defendeu pautas corporativas, inclusive, em debates polêmicos no plenário da Câmara dos Deputados. Vem daí o seu trânsito junto à classe política, nele sendo reconhecido, também, “jogo de cintura” que ficou patenteado no seu posicionamento frente a questões polêmicas, sobretudo as que envolvem a política de Saúde Pública da gestão Bolsonaro. Uma característica de Queiroga que ganhou pontos junto a Bolsonaro, segundo se apurou, é o seu alinhamento incondicional ao chefe, que o fez, no exterior, atritar-se com manifestantes em defesa do presidente da República.
Ideologicamente, Queiroga tem estado cada vez mais afinado com as ideias extremistas de direita propagadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Na sua fala em João Pessoa no último domingo, criticou políticas socialistas e o aborto e, ao mesmo tempo, defendeu as políticas atuais de Saúde Pública que estão sendo executadas sob seu comando. Atacou expoentes do Partido dos Trabalhadores e disse que se não houvesse um governo Bolsonaro o Ministro da Saúde não seria ele, mas, sim, um nome identificado com o regime cubano. Aproveitou o embalo para criticar programas de saúde de governos petistas que possibilitaram a contratação de médicos cubanos para atuar no Brasil, segundo ele, em detrimento de profissionais especializados deste país. Para ele, as políticas públicas petistas atenderam a outros interesses, não “à soberania nacional”. A linha de raciocínio de Queiroga reproduz o discurso que Bolsonaro dirige aos seus apoiadores, dando conotação ideológica a questões de caráter geral da sociedade brasileira.
Marcelo Queiroga, em outro evento recente na Paraíba, desta feita em Campina Grande, teceu duras críticas ao chamado Consórcio Nordeste, integrado por governadores da região alinhados com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aludindo a suspeitas de corrupção envolvendo a entidade, principalmente na compra de respiradores durante a pandemia de covid-19. Embora, como ministro, não tenha discriminado Estados do Nordeste nas medidas de combate à covid e, sobretudo, na campanha de vacinação contra o coronavírus, Queiroga tem batido de frente com o Consórcio Nordeste, que considera um organismo paralelo interessado em competir com o governo federal na gestão da Saúde Pública, além de supostamente revestido de coloração ideológica de esquerda. Dirigentes e expoentes do Consórcio já rechaçaram, de público, as acusações que pairaram na mídia.
A postura beligerante de Marcelo Queiroga tem lhe rendido críticas ou opiniões desfavoráveis na própria Paraíba, nas intervenções de ouvintes de emissoras de rádio e televisão, opinando que ele chegaria ao ponto de desgastar a imagem do Estado lá fora com seu ativismo acendrado na defesa do bolsonarismo. O ministro não parece incomodado em pagar esse ônus, tanto assim que eleva o tom cada vez mais, à medida que o calendário pré-eleitoral avança e torna-se próxima a campanha para disputa à Presidência da República. Seus adeptos e os aliados de Bolsonaro na Paraíba vibram com a postura de Queiroga e avaliam que ele ganhará projeção como orador na campanha que vem pela frente, especialmente quando estiver no radar a controvérsia sobre atos e omissões do governo do presidente Jair Bolsonaro à frente do primeiro mandato. Se vai conseguir arrebanhar votos para o presidente, é outra história.