Nonato Guedes
Os deputados federais Pedro Cunha Lima (PSDB), pré-candidato ao governo do Estado e Efraim Filho (União Brasil), pré-candidato ao Senado, ensaiaram passos, ontem, no rumo de uma maior aproximação com o presidente Jair Bolsonaro (PL) por ocasião de sua visita à Paraíba, certamente desencantados com o fracasso da “terceira via” em que apostaram para a sucessão presidencial como contraponto à polarização entre o capitão e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na prática, os dois políticos paraibanos enfrentaram rivais no palanque bolsonarista, como os pré-candidatos ao governo Nilvan Ferreira e ao Senado Bruno Roberto, ambos do PL. Efraim chegou a ser vaiado em Itatuba por apoiadores bolsonaristas.
Até então, Pedro e Efraim mostravam-se arredios quanto a engajamento no páreo presidencial dentro da estratégia de tentar passar ao largo da polarização, contra a qual tinham restrições. Ainda assim, os dois sempre foram considerados como integrantes da base bolsonarista no Congresso, votando favoravelmente em plenário à maioria dos projetos encaminhados pelo governo federal. Efraim chegou a ter audiência com o presidente para viabilizar a sanção de um projeto de grande impacto social – a desoneração de impostos para empresas de inúmeros segmentos de atividade, a fim de aliviar a carga tributária e possibilitar a geração de emprego e renda pelo setor produtivo, bem diversificado no país. Pedro fez críticas pontuais a ministros como os da Educação, mas, no geral, manteve-se alinhado com Bolsonaro, assumindo posição contra os governos petistas.
Em termos políticos-eleitorais, o desenrolar do cenário nacional tem mostrado que a “terceira via” é uma miragem e que têm sido em vão os esforços para vestir o figurino em postulantes de projeção que se anunciaram. O União Brasil de Efraim, resultado da fusão entre DEM e PSL, tentou emplacar a pré-candidatura do ex-juiz Sergio Moro, que se enredou em polêmicas no seu currículo profissional e perdeu substância em pesquisas de opinião pública que têm sido realizadas. O derretimento da popularidade de Moro levou o União Brasil a cogitar, agora, o nome do deputado Luciano Bivar (PE), que não tem grande expressão no quadro nacional. O PSDB, por sua vez, está às voltas com impasses desde as prévias internas, que apontaram vitória do ex-governador de São Paulo, João Doria, e foram contestadas pelo grupo ligado ao ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Correndo por fora, a senadora Simone Tebet (MS) tenta emplacar candidatura própria no MDB mas enfrenta fortes resistências, sobretudo de senadores nordestinos como o paraibano Veneziano Vital do Rêgo, comprometido com Lula.
Diante da falta de perspectiva e mantendo-se atentos ao fato de que a eleição presidencial terá, mesmo, influência nos Estados, como consequência da polarização irreversível desenhada, os deputados Pedro Cunha Lima e Efraim Filho optaram por se aproximar do palanque de Bolsonaro, mesmo conscientes de que tal palanque está congestionado pelos chamados “bolsonaristas-raiz” e pelos antilulistas que estavam dispersos e órfãos no campo da direita e da centro-direita. O presidente não se faz de rogado e, a exemplo do ex-presidente Lula, não recusa apoios nem votos. Mas deixa claro que não se envolve na mediação de conflitos locais, principalmente em Estados de menor dimensão como a Paraíba. A tática de Bolsonaro, que não está errada, é a de deixar que seus apoiadores se cozinhem nas próprias banhas, desde que o engalfinhamento não prejudique o escoamento de votos para sua candidatura.
De resto, a visita do presidente Jair Bolsonaro à Paraíba, com direito a pernoite no hotel de trânsito do Grupamento de Engenharia de João Pessoa, serviu para agitar a bolha bolsonarista no Estado. No discurso, o mandatário voltou a criticar governadores do Nordeste pela adoção de medidas de isolamento social em plena pandemia de covid-19, salientando que seu governo não recorreu a essa solução extrema nem dificultou empregos para parcelas carentes da população. Bolsonaro, também, foi duro nas críticas a governos petistas, inclusive, quanto ao ritmo das obras do projeto de transposição de águas do rio São Francisco, insinuando que houve desperdício por falta de planejamento. Na sua live semanal, Bolsonaro voltou a atacar sem provas o sistema eleitoral brasileiro na noite de ontem e disse ter sugerido ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que o partido contrate uma empresa externa para fazer auditoria “antes das eleições” de outubro deste ano. É mais um capítulo na guerra midiática que Bolsonaro sustenta com o Tribunal Superior Eleitoral, respingando no Supremo Tribunal Federal, como tática de sensibilização dos apoiadores que lhe dão o segundo lugar em pesquisas na disputa contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A desconfiança de Bolsonaro quanto à segurança do sistema eleitoral está virando obsessão doentia.