Nonato Guedes
Com a confirmação do nome do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para companheiro de de Lula (PT), nas eleições de outubro, o PSB integrará a chapa como vice pela segunda vez. Em 1989, na primeira eleição direta após a ditadura militar, o ex-senador José Paulo Bisol (PSB-RS), morto em 2021, compôs a chapa de Lula derrotada por Fernando Collor de Mello, então PRN, hoje senador pelo PTB-AL. Mas em 2014, Lula cogitou o nome do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para vice de Dilma Rousseff na campanha à reeleição. Em depoimento para o livro “A Verdade Vencerá”, Lula admitiu que Campos poderia ser o próprio candidato a presidente da República com o apoio do PT, “se não tivesse atropelado a história”. O projeto político de Campos foi atropelado por uma tragédia – a sua morte em acidente aéreo em agosto de 2014, em Santos (SP). Ele, então, era pré-candidato a presidente da República pelo PSB.
Em 1989, a aliança petista também teve PSB e PCdoB. O PV chegou a ser anunciado no lançamento da candidatura, em março daquele ano. O plano era ter o ex-deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) como vice, mas após episódios de “preconceito social”, segundo a Fundação Perseu Abramo, a chapa acabou rompendo e o partido o lançou separadamente à presidência. Com isso, Bisol foi alçado a vice do petista. Em 1998, o PT juntou-se ao PDT com o ex-governador Leonel Brizola, também morto em 2004, mas foi derrotado em primeiro turno pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) pela segunda vez consecutiva, como mostra levantamento do UOL. Também não é a primeira vez que o petista forma chapa com uma figura política associada à direita. Essa foi a fórmula vitoriosa em 2002 e 2006, quando Lula ganhou a eleição e a reeleição ao lado de José Alencar, empresário, do PL. De perfil conservador, o então ex-senador também sofreu resistência por parte da esquerda e de apoiadores, como ocorreu com Alckmin.
Curiosamente, quem reuniu as maiores coligações entre os candidatos petistas não foi Lula, mas a ex-presidente Dilma Rousseff, que acabou sofrendo processo de impeachment em 2016, quando cumpria o segundo mandato. Em 2010, no auge da popularidade e da aprovação de Lula, o PT conseguiu reunir dez partidos em torno da sucessora contra o senador José Serra (PSDB). Em 2014, na reeleição, reuniu nove siglas contra o deputado Aécio Neves, do PSDB, que foi derrotado. Este ano, Lula voltou a reunir parceiros históricos na maior aliança de uma campanha desde 1994. Metade das seis siglas confirmadas na frente “Vamos Juntos pelo Brasil” já participou de uma aliança com o petista anteriormente. Até agora, já formalizaram apoio a Lula o PCdoB e PV, que formaram federação com o PT, o PSB, por meio do vice Geraldo Alckmin, o PSOL, Rede e Solidariedade. Ainda há possibilidade que outros partidos se juntem ao grupo.
A aliança foi lançada formalmente ontem em um evento realizado em São Paulo com a participação de militantes e lideranças políticas. O objetivo de Lula é formar uma espécie de “Novas Diretas”, com figurões de diferentes Estados e diversos partidos no mesmo palanque, “unidos pela democracia”. Esta é a maior aliança em torno do ex-presidente junto à campanha desde 1994 – naquele ano, a chapa puro-sangue, com o ex-ministro Aloizio Mercadante como vice, teve perfil semelhante, com PSB, PCdoB, PV, PPS (hoje Cidadania), PCB e PSTU. O PCdoB é o companheiro mais fiel. Coligou-se em todas as oito eleições presidenciais desde a redemocratização. Foi, junto ao Pros, o único partido a integrar a campanha de 2018, que, com Lula preso, indicou Fernando Haddad (PT) ao Planalto.
Sobre Eduardo Campos, Lula conta no livro que a relação entre ambos era muito forte. “Eu o tratava muito bem, e ele me tratava muito bem, a ponto de alguns governadores do PT ficarem com um pouco de ciúmes da minha relação com ele”, relatou. Ainda segundo Lula, as divergências com Eduardo Campos começaram na reeleição de Dilma. O ex-governador de Pernambuco, além de crítico de Dilma, dava sinais de querer ser candidato, ocupando espaços no cenário local. Numa conversa com Lula, chegou a dizer que o mandato de Dilma tinha que ser visto como uma peça de teatro com dois atos – e que o primeiro ato não estava bom. Lula não gostou de ouvir isso e parou de conversar com Eduardo Campos. “Nunca mais se recuperou a relação de amizade, nunca mais. Foi uma pena. Acho que o Brasil perdeu com isso”, avaliou Lula. Eduardo Campos chegou a telefonar para Lula, propondo: “Se você for candidato, eu não vou”, mas o ex-presidente já tinha fechado com Dilma. Campos acabou aliando-se a Marina Silva e, tempos depois da sua morte, o PSB voltou a se entrosar com o PT na eleição presidencial.