Nonato Guedes
O governador da Paraíba, João Azevêdo, posicionou-se, ontem, de forma enérgica contra a orquestração golpista que está se alastrando pelo país por parte de segmentos políticos extremistas estimulados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que voltou a fazer cavalo de batalha em cima de pregações antidemocráticas, atingindo Poderes constituídos, sobretudo os que vão coordenar e supervisionar a realização das eleições diretas de outubro. O chefe do Executivo paraibano rechaçou, em particular, no contato com a imprensa, manifestações do deputado estadual Cabo Gilberto, bolsonarista-raiz, favoráveis a um golpe contra o Supremo Tribunal Federal e à intimidação ao Tribunal Superior Eleitoral na discussão sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas.
Azevêdo considerou um “contrassenso” pronunciamento desse tipo, defendeu menos tensionamento político e ressaltou a importância do fortalecimento das instituições democráticas do Brasil. “É absurdo que alguém que foi eleito num processo eleitoral normal, em uma democracia, esteja defendendo golpe. O que temos é que fortalecer as instituições para que respondam à altura a uma tentativa qualquer de desestabilização do processo democrático brasileiro”, verberou João Azevêdo. Ele não poupou o presidente Bolsonaro e aliados radicais de projeção nacional, asseverando que “é fora de propósito colocar em dúvida as eleições, os processos eleitorais, com o objetivo de criar instabilidade”. O deputado Cabo Gilberto incentivou um novo golpe militar em postagem nas redes sociais, insinuando que o Supremo Tribunal Federal estaria colaborando com o “caos”, tendo apagado posteriormente a afirmação. O presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino,(Republicanos) externou seu protesto contra posições políticas radicais.
A atitude do governador João Azevêdo pugnando pela democracia não constitui propriamente surpresa no cenário institucional do país. Desde quando foi candidato em 2018 ele se alinhou com as forças e as teses de esquerda, combatendo as propostas do então candidato Jair Bolsonaro à presidência da República. Eleito governador do Estado, sustentou a postura de independência, mesmo advertido do perigo de retaliações à Paraíba por parte do governo federal. Houve provocações do próprio Bolsonaro contra o gestor paraibano por causa de suas posições, mas não ocorreu retaliação mais grave. João Azevêdo não abriu mão dos seus pontos de vista nem mesmo quando um paraibano ilustre, o médico Marcelo Queiroga, foi nomeado ministro da Saúde e perfilou junto com o bolsonarismo radical. O governador demonstrou coerência e, de quebra, deu espaço para que a Paraíba não fosse prejudicada nas demandas urgentes, principalmente nas ações de enfrentamento à calamidade da covid-19.
Candidato à reeleição, mesmo rompido com o antecessor Ricardo Coutinho, que o lançou na política, e enfrentando o fogo cruzado ostensivo de facções petistas paraibanas, atiçadas pelo próprio Ricardo, que voltou à hostes da legenda e tem sêde de vingança, o governador João Azevêdo tem sido leal ao projeto de candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, chegando a perder aliados de primeira hora que não admitem apoiar Lula nas eleições deste ano por suposta incompatibilidade ideológica. A convicção de Azevêdo quanto ao apoio a Lula foi reforçada ou consolidada quando ele logrou voltar às hostes do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e, na sequência, quando o PSB teve o direito de indicar um filiado para vice de Lula, escolhendo o nome do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, recém-filiado. Azevêdo participou de eventos nacionais que selaram a aliança PT-PSB e se dispõe a cumprir agenda política-eleitoral no Estado, nessa perspectiva.
O deputado estadual Cabo Gilberto é considerado uma espécie de moderno “Cabo Anselmo” do pré-golpe militar de 1964, atuando como elemento provocador, na linha emanada pelo atual presidente Jair Bolsonaro para, efetivamente, alimentar o caos e erodir as bases da sociedade democrática. As ameaças dos golpistas avançam, atualmente, contra a própria realização das eleições diretas ao Palácio do Planalto, não obstante o presidente Jair Bolsonaro assegurar que concorrerá à reeleição. Na prática, o mandatário conspira para tumultuar o clima institucional, duvidando da eficiência das urnas eletrônicas sem apresentar provas ou evidências de possíveis fraudes e agora fustigando diretamente os ministros do TSE que vão comandar o processo eleitoral. Bolsonaro já sugeriu ao PL, seu partido, que contrate auditoria independente em torno das urnas e fica mobilizando apoiadores, como o fez até mesmo em João Pessoa, na semana passada, para se indispor contra as autoridades do Judiciário. Essa escalada golpista e antidemocrática começa a provocar reações em cadeia, independente do favoritismo de Lula nas eleições de outubro. O governador da Paraíba, João Azevêdo, com seu gesto, comprova que está do mesmo lado onde esteve na campanha passada – ou seja, perfilado com a democracia. Pelo seu papel no contexto, ele engrossa o coro dos que pregam que os golpistas “não passarão”.