Nonato Guedes
A persistência do impasse sobre confirmação da pré-candidatura do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) ao Senado deixa os meios políticos paraibanos perplexos, ganhando corpo a versão de que com a situação em banho-Maria quem acaba perdendo terreno é o governador João Azevêdo (PSB), que não avança na definição da chapa majoritária. É bem verdade que o chefe do Executivo sempre foi contra a precipitação de lançamentos ao pleito de 2022, o que não o impediu de assumir o projeto de candidatura à própria reeleição. Azevêdo ficou incomodado, particularmente, com a movimentação do deputado federal Efraim Filho (União Brasil) lá atrás, há cerca de um ano, como pré-candidato ao Senado – e o mal-estar acabou provocando a defecção do parlamentar, que, hoje, está de braços dados com uma chapa de oposição ao governo liderada pelo deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB).
Especula-se em algumas áreas que Azevêdo mantém firme o compromisso aparente de apoio à suposta pré-candidatura do deputado Aguinaldo Ribeiro como estratégia para não perder o apoio de um dos principais fiadores daquela postulação, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP). Sempre que é abordado pela imprensa, a cada semana, sobre o páreo ao Senado, Cícero repete o mantra favorável à candidatura de Aguinaldo, alternando os elogios à capacidade do parlamentar de representar o Estado naquela Casa do Congresso. Mas, de certo modo, a cantilena de Cícero cai no vazio porque nem Aguinaldo dá passos para alavancar a pretensão senatorial nem o governador se dispôs, ainda, a enfeixar a decisão sobre o assunto, chamando à ordem o feito e políticos da base governista que não fecharam com o nome de Ribeiro. No Republicanos, por exemplo, deputados estaduais e federais que dizem apoiar a reeleição de Azevêdo ainda se declaram apoiadores simultâneos da candidatura de Efraim Filho, mesmo com ele fora da órbita governista.
Nas últimas horas, como reflexo do impasse político que está instalado, surgiu a versão de suposto lançamento da pré-candidatura de Mersinho Lucena, vice-prefeito de Cabedelo e pré-candidato a deputado federal, como opção para o Senado. A notícia foi desmentida em círculos distintos e o próprio Mersinho, filho do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, tratou-a como mera especulação, dizendo que isto é natural no processo político paraibano. Uma outra versão insinuou que Mersinho poderia vir a figurar como postulante a vice-governador, caso a senadora Daniella Ribeiro, hoje no PSD e irmã de Aguinaldo Ribeiro, resolva concorrer ao Palácio da Redenção. Daniella tem dito com frequência que não se considera da base do governador João Azevêdo, embora não faça restrição a um eventual apoio do chefe do Executivo à possível pré-candidatura do mano a senador. A chapa Daniella-Mersinho constituiria uma espécie de “Plano B” para líderes de expressão que estão se sentindo órfãos de espaço na chapa majoritária oficial para as eleições de outubro.
Todo esse enredo acaba contribuindo para desmascarar o argumento de que o problema na chapa do governador João Azevêdo chamava-se Efraim Filho. O parlamentar do União Brasil, ao romper com o esquema governista, deixou o terreno livre para outros pretendentes – e, nas rodas políticas, imaginava-se que o maior interessado, ou o principal pretendente, seria o deputado Aguinaldo Ribeiro. Na prática, constata-se que, agora, Aguinaldo não joga sequer parado, como era do seu estilo na fase preliminar em que duelava com Efraim pelo apoio oficial. Ribeiro simplesmente deixou de jogar a corrida ao Senado, dando a entender que perdeu o ânimo ou o apetite. Esse movimento tem deixado o governador João Azevêdo na mão, ficando evidente que o socialista pisa em ovos quando o assunto é colocado na mesa por profissionais de imprensa ou por agentes políticos.
Não há precedente, no cenário político paraibano, de tamanha indefinição de chapa num esquema político faltando pouco mais de cinco meses para a realização das eleições em primeiro turno. O impasse, que está gerando ironias e piadas nos meios políticos locais, não afeta apenas o projeto do governador João Azevêdo, do ponto de vista de causar-lhe desgaste político inevitável, mas faz recrudescer o sentimento de apreensão entre os liderados do chefe do Executivo e entre pretendentes à Câmara Federal, que estavam de olho no espólio de Aguinaldo Ribeiro, na hipótese de rateio se ele viesse a assumir, mesmo, a pré-candidatura ao Senado Federal. Enquanto isso, o deputado federal Efraim Filho segue cumprindo agenda com diferentes líderes políticos em cidades e regiões do interior do Estado, bem como em João Pessoa e Campina Grande, e procurando “amarrar” em definitivo as promessas de apoio que lhe têm sido feitas. O deputado do União Brasil está, inclusive, à vontade para atuar como franco-atirador, enquanto o esquema do governador João Azevêdo dá sinais de falta de firmeza na composição da chapa que ele encabeçará em busca de um novo mandato.