Nonato Guedes
As cúpulas nacionais do MDB, PSDB e Cidadania ainda gastam fosfato para tentar viabilizar o lançamento de uma candidatura à presidência da República que simbolize a tal “terceira via”, ou seja, uma alternativa à polarização que continua privilegiando os pré-candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), este como postulante à reeleição. Esse movimento, aparentemente, vai na contramão de todas as tendências ora verificadas junto a segmentos da opinião pública, que se dividem, de forma consolidada, entre os nomes de Lula e Bolsonaro, com vantagem do petista, mas com a novidade de reação espasmódica por parte de Bolsonaro, que pode vir a se converter em reviravolta espetacular, pelo menos na expectativa dos apoiadores do atual mandatário. O eleitorado parece não se sensibilizar com “terceira via”.
O passo mais recente das cúpulas do MDB, PSDB e Cidadania foi o de dar início a um estudo buscando definir o melhor nome para representar a coligação nas eleições presidenciais. Ao contrário das discussões anteriores entre os partidos, a nova análise é terceirizada, ficando a cargo do Instituto Guimarães Pesquisa e Planejamento e o resultado da pesquisa está previsto para ser apresentado no dia 18, conforme revela o site “Congresso em Foco”. Dois nomes assumem a liderança do bloco na corrida presidencial até o momento: pelo PSDB, o ex-governador de São Paulo, João Doria e pelo MDB a senadora Simone Tebet (MS). Outro nome que recebeu destaque em meio às discussões no ninho tucano é o do ex-governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, candidato à reeleição, que foi derrotado nas prévias presidenciais do PSDB mas tem apoio de grande parte das lideranças da agremiação.
O bloco contava até o mês de abril com a participação do União Brasil, partido resultante da fusão do DEM com o PSL, havendo possibilidade de uma candidatura ao redor de seu presidente, Luciano Bivar (PE). Este, porém, rompeu com a coligação no início de maio, anunciando sua própria pré-candidatura como opção da terceira via, em chapa com o ex-juiz Sergio Moro, que é ex-candidato a presidente da República pelo Podemos. A hipótese da “candidatura alternativa” é desdenhada na mídia e já não encontra ressonância nas citações de nomes que ocorrem em pesquisas de intenção de voto realizadas por diferentes institutos especializados. O cenário nacional é, declaradamente, de polarização e, inclusive, de acirramento entre as pré-candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva e do atual presidente Jair Bolsonaro, com possibilidade praticamente nula de reversão. Esse clima tem sido alimentado pelos primeiros incidentes ou casos de confronto que começam a ser registrados, numa prévia da radicalização intensa que tende a persistir, tumultuando o processo eleitoral brasileiro.
O terceiro colocado em pesquisas de opinião pública é o ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, do PDT, veterano de disputas presidenciais, mas a sua cotação não significa que ele represente uma “terceira via”. Partidos de centro ou de centro-esquerda que tentaram se contrapor a Lula e a Bolsonaro não emitem sinais de receptividade ou apoio a Ciro, que, ainda assim, se mantém no páreo e confia nas suas chances de quebrar a espinha dorsal da polarização. Os institutos de pesquisa revelam não haver indícios de que a “perspectiva Ciro Gomes” possa atrair apoiadores arrependidos de Bolsonaro ou de Lula, e, mais ainda, os chamados eleitores indecisos, que não têm ânimo, sequer, para comparecer às urnas porque avaliam que há uma pobreza de opções,, agravada pela repetição de nomes e de presumíveis propostas para solucionar os graves problemas da conjuntura nacional.
Faltou aos expoentes e defensores da chamada terceira via sensibilidade política para compreender a natureza do cenário dominante, bem como habilidade para costurar alianças e apostar em nomes efetivamente viáveis do ponto de vista do resultado eleitoral. Perdeu-se muito tempo, também, na “fogueira de vaidades” entre prováveis postulantes ao Palácio do Planalto, o que dificultou diálogos em alto nível e a elaboração de mensagens que calassem fundo junto à consciência de parcela significativa de votantes. Enquanto isso, o quadro segue dominado por Lula se apresentando como “salvador da Pátria” e evitando maior transparência sobre seu projeto de poder para a hipótese de um terceiro mandato na presidência da República, e Bolsonaro empenhado em uma guerra de guerrilha para motivar apoiadores e atraí-los para a orquestração contra as instituições judiciárias, dentro do objetivo de “melar” o desfecho do pleito presidencial. Talvez seja por tudo isso que os analistas convergem na opinião de que se trata da mais difícil disputa eleitoral desde a redemocratização pós-ditadura militar no Brasil. A polarização é um moedor de carne que triturou a tal terceira via no próprio nascedouro.