Nonato Guedes
O senador Veneziano Vital do Rêgo, pré-candidato ao governo da Paraíba pelo MDB, deixou claro, esta semana, que não cogita nenhum “Plano B” para candidatura ao Senado na sua chapa porque confia em que o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) logrará o aval da Justiça para se tornar elegível no páreo, nas eleições de outubro. Para Veneziano, “existem fundamentos jurídicos” na defesa de Coutinho que seriam suficientes para que ele obtivesse o aval jurídico de participar do pleito. E acrescentou: “A parceria, portanto, está mantida e nós não trabalhamos em nenhum momento desse projeto com qualquer plano alternativo”. A inelegibilidade do ex-gestor foi decretada em 2020 pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Mas Ricardo tem se movimentado com afinco, contando com o reforço de lideranças políticas nacionais de expressão do próprio Partido dos Trabalhadores, com vistas a reverter o cenário que lhe é desfavorável e prejudica suas pretensões. Nos termos da sentença de inelegibilidade proclamada pelo Tribunal Superior Eleitoral, Ricardo está inelegível até novembro próximo, impedido, portanto, de participar efetivamente das eleições. Não obstante, ele tem assumido a condição de pré-candidato ao Senado e participado de eventos juntamente com o senador Veneziano Vital do Rêgo. A mídia nacional chegou a registrar que Ricardo e o o pivô do “Mensalão do DEM”, o ex-governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal, vêm tentando encontrar uma saída para derrubar as punições nas Cortes de Brasília.
O site “O Antagonista”, ao divulgar os passos dos dois políticos para safar-se de ameaças de inelegibilidade que enfrentam, tachou Ricardo de “Cabral socialista”, numa alusão ao ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, que já se assumiu cleptomaníaco (ladrão) e ostenta um prontuário com condenações que somam mais de 300 anos por vários delitos contra o erário do Estado do Rio. De sua parte, o ex-governador paraibano foi prejudicado com a condenação no julgamento da Aije do Empreender e PBPrev, no período em que esteve à frente do Executivo estadual. Em paralelo, Ricardo Coutinho se depara com ações e processos que o envolvem em casos da “Operação Calvário”, que trata do desvio de recursos da Saúde e da Educação. Em 2020, Ricardo, mesmo já citado na Operação Calvário, mas sem trânsito em julgado de processos relevantes, conseguiu registrar-se como candidato a prefeito de João Pessoa, então pelo PSB, mas não ganhou passaporte, sequer, para ir ao segundo turno do pleito.
Na opinião dos analistas políticos, a derrota de Ricardo à prefeitura da Capital, para a qual fora eleito por duas vezes, em 2004 e 2008, começou a sinalizar o processo de desgaste da imagem do político, que foi governador por dois mandatos e em 2018 preferiu não se candidatar a nenhum cargo, optando por permanecer na cadeira até o último dia do período constitucional de gestão. Em contrapartida, ele apoiou a candidatura de João Azevêdo, que foi eleito em primeiro turno, e trabalhou decisivamente por candidaturas proporcionais de pessoas ligadas à sua liderança. Em termos partidários, Ricardo acabou deixando o PSB e voltando às hostes do PT, onde foi acolhido com o pleno aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dentro do PT, Coutinho tem se mobilizado para impedir maior aproximação do governador João Azevêdo (PSB) com Lula, mas não teve força para evitar que o chefe do Executivo figurasse na base aliada lulista após sua saída dos quadros do Cidadania, onde buscou sobreviver.
De acordo com o deputado estadual Anísio Maia, ex-petista, hoje no PSB, o ex-governador Ricardo Coutinho é uma espécie de “mandachuva” dentro do Partido dos Trabalhadores da Paraíba, sempre manejando os cordéis com desenvoltura no interesse dos seus projetos pessoais. O PT paraibano chegou a editar uma resolução política, recentemente, reafirmando a intenção de apoiar o senador Veneziano Vital do Rêgo ao governo, tendo Ricardo Coutinho ao Senado. Tal posicionamento foi possível após modificações feitas no comando do PT no Estado, que inviabilizaram a permanência de líderes petistas que haviam declarado apoio à reeleição do governador João Azevêdo. Lula tem pisado em ovos quando se pronuncia sobre a conjuntura específica da Paraíba diante do seu objetivo de estimular uma “frente ampla” para elegê-lo, atraindo, inclusive, partidos de centro. Mas o ex-presidente tem sido enfático no apoio a Ricardo e, ao que se sabe, trabalha nos bastidores colaborando com o mutirão para buscar a luz no fim do túnel capaz de retirar de Coutinho o selo da inelegibilidade, por enquanto impregnado na sua biografia.