Nonato Guedes
O deputado federal Efraim Filho fez movimentos conciliadores nas últimas horas para contornar arestas e não perder apoios importantes, de deputados e líderes políticos do Republicanos, ao seu projeto de se eleger ao Senado no pleito de outubro. O parlamentar, que está comprometido com a pré-candidatura do deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) ao governo, tenta segurar as adesões que lhe estão prometidas por parte de políticos que têm interesse em votar nele e no governador João Azevêdo (PSB) à reeleição. O sinal amarelo surgiu com declarações do presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino, ponderando que Efraim não deve fazer propaganda de seu candidato ao governo em atos de apoiadores de Azevêdo. A demarcação de limites é providência que se impõe, e logo, com o respeito a outras tendências de aliados no pleito majoritário.
Seguramente é difícil sustentar uma posição de equilíbrio no tocante a apoios a chapas descasadas. Mais do que isso, a candidatos que se apresentam em situação de confronto aberto, já que Pedro tem feito críticas acirradas à administração do socialista, enquanto Azevêdo e seus aliados mais fiéis não escondem restrições às duas gestões de Cássio Cunha Lima, pai de Pedro e um expoente da sua pré-campanha ao Palácio da Redenção. O Republicanos está sob fogo cruzado porque abriga parlamentares que seguem a liderança do governador e parlamentares que são franco-atiradores ou mesmo oposição declarada ao socialista. A estratégia de harmonização de conflitos exige bastante habilidade da parte de Efraim, que penhorou redutos do seu espólio eleitoral nos nomes de deputados ou candidatos filiados ao Republicanos, legenda que é presidida pelo deputado federal Hugo Motta.
O quiproquó que se instalou no cenário político paraibano tem origem no histórico de lançamento da pré-candidatura do deputado Efraim Filho ao Senado. O lançamento ocorreu à sombra do esquema político chefiado pelo governador João Azevêdo, do qual faziam parte o deputado do União Brasil e seu pai, o ex-senador Efraim Moraes, que ocupava uma secretaria na atual gestão do Estado. Isto se deu há praticamente um ano, período em que o deputado intensificou contatos políticos para garantir apoios e procedeu à distribuição de redutos da sua então base formada para a Câmara Federal, onde exerceu papel de líder de bancada e se projetou, seguindo os passos do pai, também ex-deputado federal e ex-deputado estadual, além da passagem pelo Senado da República. Se não pactuou seu apoio ao projeto de Efraim Filho, o governador também não o desestimulou. As coisas se complicaram quando o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP, entrou no páreo como pré-candidato ao Senado, postulando o apoio do chefe do Executivo, não obstante sua irmã, a senadora Daniella, ainda hoje repita que nunca foi da base governista na Paraíba.
Nos meios políticos, a expectativa de radicalização entre os deputados Efraim Filho e Aguinaldo Ribeiro sempre foi tida como inevitável, diante do conflito de ambições e da dificuldade de recuos com caráter de acomodação. Embora Efraim tenha sido criticado por supostamente precipitar o processo, a verdade é que ele carecia dessa estratégia não só para massificar o seu nome no quadro da disputa majoritária como porque precisava demonstrar sua própria parte no processo. O deputado do União Brasil explicou, várias vezes, que estava contrariando a praxe de imposição de candidaturas de cima para baixo e que partiu para se credenciar no estilo “céu aberto”, firmando e expondo de público os apoios ou as alianças indispensáveis para dar musculatura à pretensão. Quando a corda esticou, sem caminho de volta, o parlamentar manteve inabalável a postulação, mas avaliou ser tático deixar a base do governo por não dispor de garantias concretas de respaldo a tal projeto.
As versões dão conta de que fórmulas alternativas foram sugeridas ou oferecidas no contexto, entre as quais a possibilidade de Efraim compor a chapa majoritária do governador como candidato a vice, o que o deputado do União Brasil recusou de forma categórica diante dos avanços que considerou já ter construído para sedimentar a pré-candidatura ao Senado. Efraim Filho procurou, durante o período em que esteve na órbita oficial, fugir de enfrentamentos com outros pretendentes como o deputado Aguinaldo Ribeiro, até para não ser acusado de divisionista. Justificou que se fez costuras valiosas em termos de apoios, agiu por uma questão de sobrevivência, de vez que não tinha mais como retroceder na postulação senatorial, nem contava com o guarda-chuva governamental. Foi quando o parlamentar cunhou a máxima de que sua candidatura é como um foguete, “que não dá ré”. Tal divisa era imprescindível para ele até como fator motivacional, para não ceder à tentação de desistir e dar um passo menor, tanto mais arriscado em face do rumo que a conjuntura tomara.
Pode ser que o não alinhamento de Efraim com a pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República destoasse profundamente da cartilha do chefe do Executivo, criando óbices para uma combinação, mas alguns analistas não consideram que isto tenha sido determinante para a saída do deputado da base de Azevêdo. O que pesou mesmo, conforme fontes qualificadas, foi a insegurança do deputado do União Brasil quanto à adoção de seu projeto pelo governador – e, além disso, o investimento maciço feito por Efraim na execução de um sonho que, conforme confessou, já vinha acalentando há algum tempo. O rumo tomado pelo deputado na eleição ao governo, fechando com outro candidato, e de oposição, seguiu a lógica dos acontecimentos, não vindo necessariamente a constituir surpresa. Como Efraim deixou claro ainda ontem, em entrevista, o retorno à base governista atual é uma ideia que nem de longe passa pela sua cabeça.