O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em pronunciamento, hoje, na Assembleia Mundial da Saúde, da Organização Mundial da Saúde, omitiu o número de mortos pela Covid-19 no Brasil, festejou os resultados da política de combate à pandemia e declarou que uma das prioridades do governo de Jair Bolsonaro foi lutar contra a corrupção no seu setor. Para o colunista do UOL, Jamil Chade, Marcelo Queiroga fez um discurso transformado em palanque eleitoral. “Como se não estivesse na sede da ONU, o ministro ignorou todos os principais temas da agenda internacional, como a negociação de um novo tratado global contra pandemias, não citou a reforma da OMS, o debate sobre o regulamento sanitário internacional e não tocou no tema da guerra na Ucrânia”, acrescenta Chade.
Segundo o colunista, “a fala em Genebra do representante do governo de Jair Bolsonaro tampouco fez referências ao fato de que a principal mensagem da OMS é de que a pandemia não apenas não terminou, mas que os números voltaram a crescer em 70 países do mundo”. O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, chegou a afirmar, minutos antes da fala do brasileiro e usando o mesmo pódio, que a crise está longe de terminar. Com o segundo maior número de mortes do mundo desde o começo da pandemia e se aproximando de 670 mil vítimas, o Brasil participa nesta semana da principal reunião da OMS em Genebra e o ministro desembarcou com a missão de tentar desfazer a imagem de representar um governo negacionista.
O encontro ainda ocorre no momento em que o governo estabelece o fim da emergência no país, coincidindo com o início do processo eleitoral. Num tom triunfalista, Queiroga optou por usar o palco internacional para anunciar, sem citar os elevados números absolutos, o fato de o Brasil ter “reduzido em 90% os óbitos pela covid-19 no último ano”. Ao tomar a palavra, o chefe da pasta da Saúde permeou sua fala com alguns dos principais pontos das campanhas eleitorais de Bolsonaro e seus aliados. Ele insistiu em reforçar a tese de que o Brasil “defende fortemente a vida desde sua concepção”, numa oposição às propostas pela OMS para descriminalizar o aborto. O ministro ainda insistiu em reforçar o tema da soberania dos Estados, deixando claro que é um adepto apenas de um sistema multilateral. Ele, porém, concentrou seu discurso numa defesa da gestão do presidente diante da pandemia, sugerindo que o foco amplamente questionado em todo o mundo deu resultados. Ao falar dos investimentos no SUS, Queiroga pontuou: “O Brasil tem um dos maiores serviços universais de saúde do mundo”.