Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (PSB), pré-candidato à reeleição, emitiu sinais, ontem, em declarações à imprensa, de que está ultimando a formação da sua chapa priorizando como máxima a unidade do esquema político que segue a sua liderança. Dentro desse contexto, a costura da pré-candidatura do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) ao Senado, na sua chapa, terá que ser revestida da garantia de coesão, para que não haja desagregação que confunda a opinião pública e prejudique o êxito no combate, nas urnas, contra candidaturas adversárias. Azevêdo procura precaver-se de problemas como os que, segundo fontes do seu entorno, teriam sido criados pelo deputado federal Efraim Filho (União Brasil) ao precipitar, com um ano de antecedência, a postulação senatorial para, ao final, fechar com a pré-candidatura do deputado Pedro Cunha Lima (PSDB), que faz oposição ao governo.
Também não agrada, visivelmente, ao chefe do Executivo, a postura de parlamentares do seu esquema que reafirmam compromisso com sua pré-candidatura à reeleição mas, para o Senado, ainda traem vontade de compor-se com o pré-candidato Efraim Filho. Na sua opinião, é uma postura inadmissível, tendo em vista que Efraim já tomou seu rumo, ou melhor, um novo rumo, na conjuntura política paraibana, situando-se no espectro da oposição ao governo que ele, Azevêdo, empalma. O cenário atual, no entendimento do governador, não comporta mais vacilações ou ambiguidades, embora seu esquema possa se dispor a analisar um ou outro caso específico, de dualidade de posições. Mas o mantra que perdura é o da unidade em todas as esferas, incluindo a corrida presidencial, em que o gestor paraibano se põe como aliado e seguidor da pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Recorde-se, aliás, que um dos fatores a dificultar o enquadramento do deputado Efraim Filho na órbita política de João Azevêdo foi a afirmação expressa do governador de que só aceitaria, na sua chapa, expoentes que assumissem idêntico compromisso de apoio à candidatura do ex-presidente Lula da Silva. Conquanto não tivesse, ainda, oficializado declaração de voto no atual presidente Jair Bolsonaro, o deputado do União Brasil já vinha se posicionando de modo a deixar claro que, com Lula, não seguiria, diante de divergências históricas do seu antigo partido, o PFL-DEM, com os petistas de carteirinha. Seu pai, Efraim Morais, que chegou a ocupar secretaria na administração de João Azevêdo, travou embates memoráveis na tribuna do Congresso contra defensores do governo Lula e foi o mentor de uma CPI, a dos Bingos, que o ex-presidente tratou com ironia, qualificando-a como “CPI do fim do mundo”.
Os movimentos ensaiados com sofreguidão pelo governador paraibano para retornar aos quadros do PSB como forma de estar na base de apoio à candidatura de Lula da Silva constituíram a derradeira sinalização, na direção de Efraim Filho, de que sua acomodação na chapa oficial tornara-se problemática, daí a relutância do chefe do Executivo em assumir apoio à pré-candidatura do expoente do União Brasil, resguardando-se para posições mais claras com o desdobramento dos acontecimentos políticos na esfera local. De lá para cá, além dos ruídos no diálogo entre Azevêdo e Efraim, houve choques, também, com o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que, não obstante apoiar Lula, dava curso a projeto expansionista, no âmbito local, que colidia com as pretensões de Azevêdo no quadro de poder. Veneziano protagonizou guinada histórica ao se recompor com o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) e lançá-lo pré-candidato ao Senado na chapa que o emedebista passou a encabeçar ao governo do Estado.
Um último movimento que poderia perturbar Azevêdo, segundo se insinuou, partiria da vice-governadora Lígia Feliciano (PDT), que tentou, sem êxito, viabilizar candidatura ao governo estadual com o apoio do PT. Nesse aspecto, Veneziano foi mais rápido do que Lígia, embora não tenha logrado isolar Azevêdo da base de apoio lulista. A maré estava tão favorável a Azevêdo que o PDT paraibano acabou mudando de mãos, com a destituição do “clã” Feliciano do comando que enfeixava há mais de uma década, o que levou o deputado federal Damião a buscar abrigo no União Brasil, enquanto sua esposa está inviabilizada para a disputa majoritária de outubro. O novo comando do PDT no Estado já dialoga com o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP) e tende a manifestar apoio à candidatura de Azevêdo a um novo mandato, numa reconfiguração de impacto na conjuntura local.
Nas declarações, ontem, João Azevêdo ignorou as especulações de que a senadora Daniella Ribeiro, hoje presidente do PSD da Paraíba, possa vir a ser pré-candidata ao governo do Estado em oposição à sua pretensão e ao seu governo. Com o apoio que tem reiterado ao deputado Aguinaldo Ribeiro para senador não há motivos, de fato, para o chefe do Executivo sentir-se ameaçado por quaisquer investidas do “clã” a que o parlamentar pertence. Considerando todos esses fatores, e outros mais que podem surgir com a evolução da conjuntura, é que o governador já se permite falar em junho como período ideal para o anúncio de definições referentes à chapa majoritária que vai encabeçar. Aparentemente, os retoques finais começam a ser dados, incluindo a escolha de candidatura a vice-governador, que até aqui tem despertado menos agitação que a corrida para o Senado Federal.