Nonato Guedes
O pré-candidato do PL ao governo do Estado, Nilvan Ferreira, escolheu a tática de se repetir como franco-atirador na disputa eleitoral deste ano, abrindo fogo contra postulantes que, como ele, estão no campo da oposição ao esquema do governador João Azevêdo (PSB) e, com isso, fechando portas para prováveis alianças na hipótese de ascender ao segundo turno na disputa. Ele parece confiar demasiadamente no apoio que tem tido do presidente Jair Bolsonaro, pré-candidato à reeleição, por serem do mesmo partido e por comungarem ideias conservadoras, beirando o extremismo político. É o que explica o tom da metralhadora giratória disparada por Ferreira contra os pré-candidatos Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e Pedro Cunha Lima (PSDB), além do seu alvo preferencial – o governador socialista João Azevêdo.
Sobre Pedro Cunha Lima, filho do ex-governador e ex-prefeito de Campina Grande, Cássio, Nilvan alegou que as gestões da família “foram um fracasso”, o que remeteria, também, à única administração do poeta Ronaldo Cunha Lima no Palácio da Redenção na década de 90. O senador Veneziano Vital, por sua vez, chegou a ser caricaturado por Nilvan como “rei do lixo”, bem como inquinado por supostamente ter atrasado pagamento de servidores públicos na Rainha da Borborema, onde completou dois mandatos consecutivos. Por fim, quanto a João Azevêdo, a cantilena é repetitiva e abarca desde a denúncia de supostas omissões em pontos cruciais no plano administrativo ao suposto cometimento de irregularidades que não são esclarecidas de forma pormenorizada. É, mais ou menos, uma reprise da postura adotada por Nilvan em 2020, quando concorreu a prefeito de João Pessoa pelo MDB, avançou para o segundo turno e disse, de si próprio, ser “contra tudo isso que está aí”.
A iconoclastia aparente do comunicador do Sistema Correio de Comunicação segue a lógica bolsonarista de fingir desvinculação com grupos políticos tradicionais ou fisiológicos. No que diz respeito ao presidente da República sabe-se no que deu essa pantomima: na sua aliança escancarada com o “Centrão”, supra-sumo do fisiologismo político brasileiro já há algum tempo, de tal sorte que o mandatário candidato a ditador se tornou refém da facção mais desgastada do cenário vigente. No caso de Nilvan Ferreira, ele recebeu algumas respostas contundentes a insinuações assacadas, a mais virulenta delas originária do senador Veneziano Vital do Rêgo, que pôs a nu o “despreparo” do pré-candidato do PL para o debate sobre a Agenda Paraíba e cobrou-lhe mais originalidade, tanto no discurso como no teor das propostas que formula a esmo. O futuro de Nilvan nestas eleições é uma incógnita quanto à reprodução do “fenômeno” de 2020. Afinal, cada eleição é uma eleição. Por outro lado, Nilvan não tem interesse em recorrer à habilidade para se compor e alargar o círculo que possa torná-lo efetivamente competitivo na versão 2022.
Toda a coreografia que tem sido ensaiada ou posta em prática não se baseia necessariamente em pesquisas confiáveis de intenção de voto que assinalem um favoritismo do pré-candidato Nilvan Ferreira na disputa pelo governo do Estado. Ele pode vir a polarizar um dos eixos da oposição ao atual governo, mas há muito chão a ser percorrido para que, concretamente, venha a “deslanchar” no páreo eleitoral. Há sondagens extra-oficiais sinalizando posição de vantagem sua em áreas específicas do eleitorado de João Pessoa, por exemplo, mas não há indicações seguras sobre penetração ou receptividade em Campina Grande, segundo colégio eleitoral da Paraíba, que assiste ao embate entre dois filhos ilustres – o senador Veneziano Vital e o deputado Pedro Cunha Lima, este último apoiado pelo prefeito Bruno, que saiu vitorioso há dois anos. Nessa linha de raciocínio, Nilvan parece apostar no “imponderável”, o que é um dado considerado vago, muito vago, pelos analistas políticos.
O espírito desagregador que Ferreira fomenta, voluntária ou involuntariamente, reflete-se, ainda, na disputa ao Senado, em que, na sua chapa, desponta o nome de Bruno Roberto, filho do deputado federal Wellington Roberto, presidente estadual do PL. Já houve atritos entre o deputado Wellington Roberto e o pastor Sérgio Queiroz, pré-candidato a senador pelo PRTB, considerados de grosso calibre, com acusações do nível “falso profeta”, criando dificuldade de convivência entre figuras que dizem apoiar incondicionalmente o presidente Jair Bolsonaro e seu ideário. Nilvan tem percorrido uma trajetória partidária oscilante – entrou na política pelo MDB, migrou depois para o PTB, conseguindo tornar-se presidente estadual e acabou defenestrado, sendo acolhido no PL, onde recebe ordens do “clã” Roberto mas se impôs como preferido do presidente Bolsonaro para a disputa na Paraíba. Pedro Cunha Lima poderia ser um nome a somar com Nilvan num segundo turno, independente de qual cenário vingar, mas a estratégia kamikaze do comunicador apenas reforça a zona de sombra sobre sua viabilidade eleitoral e até mesmo sobre seu peso como cabo eleitoral influente na decisão do processo sucessório paraibano. Daí a desconfiança quanto ao potencial que Ferreira possa ter no pleito vindouro.