Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (PSB) tem massificado a presença da administração estadual em Campina Grande, reconhecendo a importância da Rainha da Borborema no contexto do processo de desenvolvimento, daí levar obras e serviços, como voltou a fazer ontem, acompanhado de lideranças políticas. A ofensiva, naturalmente, faz parte da estratégia que o inquilino atual do Palácio da Redenção empreende para a reeleição no pleito de outubro e é reforçada com o objetivo de neutralizar duas candidaturas de expressão ao governo forjadas no segundo colégio eleitoral do Estado, as do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) e do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), este com aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que também tem Azevêdo na sua base de apoio.
A tática da oposição paraibana no pleito majoritário de 2022 repete modelo que foi adotado nas eleições de 2014, quando personagens de dois grupos influentes em Campina Grande lançaram-se à governança: os senadores Cássio Cunha Lima (PSDB) e Vital do Rêgo (MDB), dando combate ao então governador Ricardo Coutinho, que pleiteava a reeleição pela legenda do PSB e saiu vitorioso no conjunto da soma de votos apurados no território paraibano. Na época, Ricardo socorreu-se da doutora Lígia Feliciano (PDT) para compor sua chapa como vice, representando o colégio eleitoral campinense, operação que acabou sendo bem-sucedida, malgrado o ex-senador Cássio tenha contestado até judicialmente o resultado final, o que foi coonestado tardiamente pela Justiça Eleitoral, quando o segundo mandato empalmado por Coutinho já chegara ao final. Azevêdo, que foi apoiado por
Ricardo, manteve Lígia na chapa, na mesma vaga, com ela vindo, porém, a se desentender em pleno andamento da gestão.
Pedro, filho de Cássio, e Veneziano, irmão de Vital, reproduzem em outra dimensão e conjuntura a experiência eleitoral testada em 2014, dando a impressão de esforço combinado para encurralar o governador João Azevêdo num reduto que já decidiu muitas vezes a sorte do meridiano político do Estado e que é, sem dúvida, caixa de ressonância para outras cidades e regiões da Paraíba. O atual chefe do Executivo, em paralelo com suas próprias ações para firmar-se na Rainha da Borborema, procura alinhar-se a uma terceira força política campinense que é relevante – o “clã” Ribeiro, que tem como expressões a senadora Daniella, hoje no PSD, e o irmão Aguinaldo, do PP, pré-candidato ao Senado e ora no exercício do mandato de deputado federal.
O apoio do governador à postulação de Aguinaldo ao Senado já foi manifestado várias vezes e custou ao esquema oficial a perda de um quadro emergente – o deputado federal Efraim Filho, do União Brasil, que precipitou campanha, rompeu com Azevêdo e fechou aliança com o pré-candidato Pedro Cunha Lima, com quem tem percorrido municípios defendendo bandeiras de renovação. Além de Efraim, deixaram a base governista o senador Veneziano, que tinha a expectativa de emplacar a mulher, Ana Cláudia, como vice na chapa de João e acabou descobrindo um filão mais interessante: a sua própria candidatura a governador, situado na base lulista, e a vice-governadora Lígia Feliciano, que fez movimento errático para firmar-se no páreo governamental e acabou perdendo espaços de influência, enquanto o marido, o deputado federal Damião, migrou para o União Brasil em flagrante tentativa de sobrevivência política com a candidatura à reeleição.
Na sua ida a Campina Grande, ontem, atento ao sentimento de cobrança forte que é inato à cidade-Rainha da Borborema, o governador João Azevêdo insistiu em enfatizar o papel importante que o município tem no processo de desenvolvimento do Estado e, também, no processo de tomada de decisões sobre os rumos da Paraíba. Foi uma forma de realçar seu compromisso com o prestigiamento da cidade e suas reivindicações, compensando-a à altura no contexto que vigora no Estado. Há acenos ou expectativas de que, além de estar representada na chapa de Azevêdo com Aguinaldo Ribeiro ao Senado, Campina poderá voltar a ter a vaga de vice-governador, que é pleiteada pelo deputado Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa. Seja como for, os espaços do importante colégio eleitoral no esquema liderado pelo governador estão preservados, como espécie de condição sine-qua-non para que o projeto de reeleição possa sair fortalecido.