Nonato Guedes
A aliança nacional que está sendo firmada entre o PSDB e o MDB para a sucessão presidencial, em apoio à pré-candidatura da senadora emedebista Simone Tebet (MS) à sucessão de Jair Bolsonaro, não empolga nem encontra receptividade entre líderes políticos paraibanos. O deputado federal Pedro Cunha Lima, presidente estadual do PSDB e pré-candidato ao governo, já informou que vai liberar o voto para presidente na seção tucana local. Pessoalmente, ele vinha apostando numa candidatura própria do PSDB – fosse a do ex-governador de São Paulo, João Doria, fosse a do ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Ultimamente, Pedro fez movimentos de aproximação com o presidente Bolsonaro, tendo sido hostilizado por bolsonaristas de primeira hora na Paraíba.
Já o senador Veneziano Vital do Rêgo, que comanda o diretório paraibano do MDB e é pré-candidato, também, ao governo do Estado, de há muito está fechado com a pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tendo sinalizado, inclusive, com formação de chapa em aliança com petistas locais, tendo o ex-governador Ricardo Coutinho como candidato a senador. Em paralelo, o nome da mulher do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, Maísa, é cotado como opção para vice na chapa de Veneziano. Luciano Cartaxo desligou-se dos quadros do PV e fez o caminho de volta à legenda petista, pela qual foi deputado estadual, vereador e prefeito eleito da Capital, seguindo o exemplo de Coutinho, que migrou do PSB de volta ao PT. Já o Cidadania, que deve integrar a coalizão nacional pró-Simone Tebet, deve continuar alinhado, na Paraíba, com o governador João Azevêdo (PSB), que, por sua vez, é da base do pré-candidato Lula da Silva.
De acordo com Veneziano, a aliança nacional PSDB-MDB é inviável na Paraíba, em termos de desdobramento, devido a incompatibilidades entre grupos como o seu e os Cunha Lima, ambos com atuação primária focada em Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado. Veneziano estava aliado ao governador João Azevêdo, em cuja gestão sua mulher, Ana Cláudia, ocupou uma secretaria de Articulação Municipal e cujo nome foi ventilado como opção para vice na chapa à reeleição do chefe do Executivo. O senador, porém, rompeu com João Azevêdo queixando-se de desprestígio e desatenção no encaminhamento de demandas ou pautas de interesse da Paraíba, que buscou viabilizar na própria condição de primeiro vice-presidente do Senado Federal. Havia, também, o desejo de Veneziano de aprofundar laços com o ex-presidente Lula e dele obter apoio nas pretensões locais, derivando, daí, o divisor de águas que ora se observa no cenário da Paraíba.
Em termos concretos, esta deverá ser a primeira vez na história do partido que o PSDB não lança uma candidatura própria à Presidência da República. A legenda chegou a governar o país na gestão do então presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e polarizou, por diversas disputas ao Planalto, a preferência do eleitorado brasileiro com o PT, indicando nomes como os de José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves, todos derrotados, por Lula ou pela ex-presidente Dilma Rousseff. Em 2018, o PSDB não chegou ao segundo turno presidencial, quando o então candidato Jair Bolsonaro (PL) saiu vitorioso contra o candidato petista Fernando Haddad. Quanto a Geraldo Alckmin, desfiliou-se do PSDB e assinou ficha de filiação no PSB, como condição para viabilizar sua candidatura a vice-presidente na chapa encabeçada por Lula da Silva. Os dois percorrem o país em pré-campanha.
O apoio do PSDB à candidatura de Simone Tebet, conforme o “Congresso em Foco”, passou por uma costura no Estado do Rio Grande do Sul. Lá, o MDB garantiu que retiraria a pré-candidatura ao governo do deputado estadual Gabriel Souza e, em troca, garantiria o apoio nacional. Apesar de negar, o ex-governador Eduardo Leite cogita disputar novamente o governo do Estado pelo PSDB. O acordo foi tratado pelo presidente nacional do MDB, Baleia Rossi e pela senadora Simone Tebet com o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo. Desde a retirada da candidatura do ex-governador de São Paulo, João Doria, especulava-se que o PSDB poderia lançar outro nome e sair da terceira via, grupo formado pelo PSDB, Cidadania e MDB. A coligação em torno de Simone Tebet nasce desgastada devido às divergências regionais e o próprio desempenho da candidatura na campanha é uma incógnita. Na Paraíba, dada a radicalização ao governo, Simone corre o risco de ficar sem palanque para apresentar propostas ou defender ideias.