Nonato Guedes
Presidente da República em exercício, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) dominou as atenções da mídia, ontem, ao prestigiar a abertura do São João de Campina Grande, que foi retomado após dois anos de interrupção devido à calamidade provocada pela pandemia de covid-19. Pacheco, que chegou a figurar na lista de prováveis ‘presidenciáveis’ nas eleições deste ano, tendo recuado da intenção de candidatura ao não deslanchar em pesquisas preliminares de opinião pública, impõe-se no cenário nacional pela postura equilibrada ou moderada e foi ao tom conciliador que recorreu em entrevistas à imprensa, pregando harmonia entre os Poderes. Ele tem se empenhado, por meio de gestos e ações, para dissolver focos de tensão e de radicalização política, sobretudo os que são fomentados pelo entorno do presidente Jair Bolsonaro (PL).
O presidente do Senado deixou claro que não vê, no radar, a possibilidade de golpe e fez profissão de fé na realização de eleições pacíficas este ano no Brasil, acrescentando ter a convicção pessoal de que o resultado será respeitado por todos. Para ele, a fala do próprio presidente Jair Bolsonaro, ontem, nos Estados Unidos, foi sintomática quanto ao respeito ao resultado eleitoral. Pacheco disse que Bolsonaro continua postulando a reivindicação de se ter, na ótica dele, uma clareza em relação às urnas, valendo-se, para esse desideratum, de uma auditagem paralela que seu partido está contratando. “Mas afirmo que as urnas são confiáveis, a Justiça Eleitoral é responsável e especializada e as eleições expressarão o resultado da vontade popular, com o acatamento por parte de todos”, enfatizou ele. Sobre o ensaio de sua provável pré-candidatura ao Planalto, apenas comentou que o PSD é um partido jovem no quadro institucional, em fase de formação, e que investe na geração de quadros renovadores e capacitados, que possam oferecer contribuição ao aprimoramento do cenário político.
Rodrigo Pacheco chamou a atenção para a luta que tem empreendido junto aos governadores de Estados com vistas a obter um consenso acerca da cobrança do ICMS dos combustíveis. Ele confirmou que o PLP 18/2022, fixando um teto de 17% para o ICMS dos combustíveis, deverá ser votado na próxima semana e tentará conter o aumento dos preços desses itens, observando que, em paralelo, o Senado se preocupa em encontrar fórmulas que minimizem as perdas orçamentárias em decorrência da diminuição do imposto. Reconhecendo que o preço atual de combustíveis é proibitivo para a sociedade, porque pressiona a inflação, Pacheco demonstrou, porém, confiança em relação a um entendimento. Assinalou não ser possível que perdure a situação atual, que ocasiona imprevisibilidade para os Estados. “Não é uma disputa de municípios com a União, mas a defesa do consumidor e contra a inflação”, resumiu.
A visita à Paraíba do presidente da República em exercício estimulou uma disputa por prestígio entre dois senadores da representação local – Daniella Ribeiro, que recentemente desfiliou-se do PP e ingressou no partido de Pacheco, passando a comandá-lo no Estado, e Veneziano Vital do Rêgo (MDB), pré-candidato ao governo e primeiro vice-presidente do Senado, que ascendeu interinamente à presidência da Casa com a investidura do seu titular no Executivo. Veneziano embarcou na mesma aeronave em que o senador mineiro viajou e gravou um vídeo para demonstrar proximidade com o parlamentar-presidente. Daniella, que foi, na verdade, a articuladora da vinda de Pacheco, para cumprir agenda no Encontro Nacional do Poder Legislativo Municipal das Capitais, teve deferência especial do convidado ilustre, em meio aos rumores persistentes de provável candidatura dela ao governo da Paraíba.
A senadora tem operado, em parceria com o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), para viabilizar o lançamento da pré-candidatura do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, seu irmão, ao Senado, pelo PP, numa composição com o esquema do governador João Azevêdo (PSB), que postula a reeleição, mas a articulação nesse sentido não tem avançado substancialmente a ponto, por exemplo, de consolidar a adesão em bloco do “Republicanos”, partido que abriga políticos fechados com a pré-candidatura do deputado federal Efraim Filho, do União Brasil. O impasse no deslanche da candidatura de Aguinaldo é que tem reforçado as especulações em torno de desistência dele à disputa, com a ascensão de Daniella à candidatura ao governo. Apesar de intensas conversas nas últimas horas, que agitaram os meios políticos, ainda não há registro de avanços sobre definições nesse campo.