Nonato Guedes
Desde que o deputado federal Efraim Filho (União Brasil) bandeou-se da base oficial para o bloco de oposição, o governador João Azevêdo (PSB) ganhou tempo para proceder acomodações indispensáveis à formação da chapa que vai encabeçar nas eleições de outubro, envolvendo definições para a vice-governança, a vaga de senador e respectivos suplentes, dentro do figurino que convém ao chefe do Executivo e aos seus interesses pessoais. Azevêdo impôs condicionantes para a participação na sua chapa, como o alinhamento com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto. Efraim, que corteja o Senado e está, agora, na chapa do candidato a governador Pedro Cunha Lima (PSDB), não se enquadrava no “script” traçado por Azevêdo e foi ágil ao pular do barco, pressentindo a dificuldade para ocupar espaço inerente à sua pretensão.
Aparentemente a “deserção” do deputado Efraim Filho da base governista foi um alívio para Azevêdo, que se sentiu liberado de pressões para montar esquema identificado com sua orientação e liderança para a disputa majoritária. O governador passou a apostar fichas, então, na pré-candidatura do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) a senador, confiante em que o nome seria palatável para as hostes da esquerda diante do fato de que o parlamentar foi ministro das Cidades do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, alvo de impeachment no segundo mandato. A participação no governo Dilma constituía, sem dúvida, em crédito a favor de Ribeiro, mas em desfavor dele labora o voto pelo impeachment da ex-mandatária, o que o coloca no papel de algoz do petismo e no rol dos “golpistas” que assim votaram, tal como denominados pelo ex-presidente Lula. Ocorre que Aguinaldo seria beneficiário da indulgência de Lula, que já deixou claro que não faz caça às bruxas nesta temporada pré-eleitoral e que releva atitudes dissonantes cometidas por aliados de hoje do petismo. O senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo (MDB), pré-candidato ao governo do Estado, também votou pelo impeachment de Rousseff como deputado federal mas é admitido na base de Lula e do PT em 2022.
Abstraindo o pragmatismo de Lula na política de alianças para voltar à presidência da República, avultam de forma persistente, na mídia, as definições referentes ao cenário pré-eleitoral na Paraíba para a temporada em curso. Azevêdo desponta, com o reforço da máquina e das ações de governo, como favorito no páreo, estando em aberto, porém, teorias sobre segundo turno e sobre candidaturas viáveis que podem emplacar ou não para essa rodada. Pela oposição a Azevêdo, buscando um segundo turno, destacam-se, além do senador Veneziano Vital, que foi aliado do governador até recentemente, o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) e o comunicador Nilvan Ferreira (PL), este mais cotado em algumas pesquisas para ser o “anti” numa batalha decisiva. Nilvan se apresenta como o candidato principal do bolsonarismo, vindo, na sequência, Pedro Cunha Lima, que, no entanto, sofre hostilidades de bolsonaristas ortodoxos.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem agido com extrema habilidade política ao se mover no território da disputa paraibana, ora fazendo declarações elogiosas a Veneziano, que acena com uma aliança com o PT tendo o ex-governador Ricardo Coutinho na chapa como candidato ao Senado, ora emite acenos ou gestos positivos na direção do governador João Azevêdo, que é, confessadamente, seu eleitor. Essa estratégia tem sido eficiente, pelo menos, até agora, para obstacular a vinda de Lula a um Estado onde tem alta popularidade e no qual tomou posições claras em pleitos recentes da história política. De concreto, Lula galvaniza apoios da parte de políticos que se tornaram adversários entre si, como João Azevêdo e Veneziano, e o líder petista é celebrado por essa capacidade de atrair os opostos num Estado pequeno como a Paraíba, no contexto da Federação. Ou seja, em termos de Paraíba, Lula não está no prejuízo, o que lhe deixa à vontade para decidir quando vem, ou não, ao Estado.
O fato é que, se o governador João Azevêdo goza de tranquilidade relativa para compor sua chapa, a candidatura oriunda do Palácio da Redenção está vulnerável a sobressaltos ou abalos dentro do próprio esquema. Até hoje, o Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, não se decide sobre apoio à chapa integral liderada pelo governador, mantendo apenas o compromisso com este, enquanto, para o Senado, abre uma janela que favorece o deputado Efraim Filho, dissidente, não o deputado Aguinaldo Ribeiro ou quem quer que seja “nomeado” por João para companheiro de jornada. Nos bastidores, a realidade, que não é repassada ao chefe do Executivo, é de insegurança por parte dos aliados, muitos dos quais terão mandatos em jogo este ano e precisam de definições seguras para poder montar suas próprias bases ou estruturas. Se não houver profissionalismo na condução por parte do esquema oficial, o que parece, hoje, um ganho, pode vir, amanhã, a significar sangria ou perda substancial na montagem do projeto para a reeleição que se ensaia na Paraíba. Nesse jogo, não há favoritismo absoluto de ninguém, eis a verdade.