Nonato Guedes
Desde que o Supremo Tribunal Federal devolveu a ele os direitos políticos, em abril de 2021, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) empreende uma verdadeira peregrinação pelo país, focada no objetivo de tentar voltar ao Palácio do Planalto, que ocupou por dois mandatos. Conseguiu vitórias importantes nessa caminhada, a principal delas o favoritismo que ostenta em pesquisas de intenção de voto, no confronto direto com o presidente Jair Bolsonaro (PL), que se anuncia pré-candidato à reeleição. Um levantamento do site “Poder 360” mostra que Lula já esteve em 25 cidades desde a reconquista dos direitos políticos e das condições de elegibilidade.
De posse do valioso salvo-conduto, Lula caiu em campo para articular apoios e acordos políticos que considera indispensáveis ao projeto de retorno à Presidência da República. Ele permaneceu 580 dias recolhido à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, prisão que foi determinada pelo ex-juiz Sergio Moro, depois confirmada por outras instâncias do Judiciário. Mesmo na prisão, Lula pôde receber visitas, tanto dos seus advogados, como de companheiros do Partido dos Trabalhadores, e de personalidades internacionais, além de uma infinidade de líderes políticos brasileiros, com os quais passou a dialogar sobre temas da conjuntura e sua reinserção no cenário, na perspectiva da soltura, de que nunca duvidou. Lula consolidou laços que resultaram, inclusive, num novo casamento, consumado já agora em liberdade, com a socióloga Rosângela da Silva, a “Janja”, militante histórica da agremiação petista. Ele nunca desacreditou das suas chances de reabilitação, nem tampouco da sua absolvição nos processos contendo denúncias de envolvimento em supostos atos de corrupção e lavagem de dinheiro.
Da sala especial da PF em Curitiba onde se manteve recluso, Lula assistiu a transformações de impacto na conjuntura nacional, a mais surpreendente delas a ascensão à Presidência da República do ex-deputado federal Jair Bolsonaro, um remanescente do chamado baixo clero no Congresso, que se converteu em símbolo de suposta mudança para parcelas da opinião pública mas que, à frente do cargo, revelou-se um fiasco, pelo despreparo na solução de graves desafios e pela insistência em priorizar o debate ideológico extremista. Colecionando altos índices de reprovação, ora ao seu modo de governar, ora à sua gestão propriamente dita, Jair Bolsonaro acabou contribuindo, a contra-gosto, para a reabilitação de Lula. O líder petista, por sua vez, credenciou-se até aqui como esperança de retomada do processo democrático no Brasil, diante de ameaças permanentes que Bolsonaro introjetou, sempre em clima de tensão com os Poderes constituídos e ataques à imprensa.
A terceira candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto tem atraído apoio emblemático de gregos e troianos – e a habilidade de Lula na articulação política de bastidores tem feito dele o elemento central da luta para apear Bolsonaro do poder. A primeira viagem de Lula foi no mês seguinte ao movimento do Supremo, anulando condenações que lhe haviam sido impostas: ele esteve em Brasília, de três a sete de maio. A capital federal foi o destino mais recorrente do ex-presidente até agora, contabilizando-se 11 dias em Brasília, onde aproveita para circular nos meios jurídicos e políticos, nestes últimos promovendo reuniões decisivas de costura de apoios com cúpulas de partidos, até mesmo com políticos que votaram pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O segundo destino mais frequente de Lula tem sido o Rio de Janeiro, não sendo considerado São Paulo, onde ele reside, no levantamento.
As viagens servem para fazer presente o nome de Lula na imprensa local e ele também fez viagens ao exterior, tendo estado nas europeias Bruxelas, Berlim, Madrid e Paris e nas latinas Buenos Aires e Cidade do México. Nesses casos, em vez de contato com eleitorado, há a exposição positiva do ex-presidente na mídia. O fato mais emblemático deu-se na França, em novembro de 2021, quando o petista foi recebido pelo presidente Emmanuel Macron no Palácio do Eliseu. O movimento serviu de contraponto à dificuldade que Jair Bolsonaro costuma ter para se relacionar com líderes de outros países. Nas viagens pelo Brasil, Lula costuma dar entrevistas para rádios de alcance regional e se fazer ouvido no interior. Nos próximos dias ele irá a mais 4 cidades, das quais três são capitais no Nordeste – Natal (RN), Maceió (AL) e Aracaju (SE). Continua sem prognóstico e sem explicação oficial uma visita de Lula à Paraíba, onde ele é apoiado por políticos que são adversários entre si na conjuntura local. Os apoiadores de Lula avaliam que a peregrinação por ele encetada poderá consolidar uma vitória sua já no primeiro turno.