Nonato Guedes
Uma reportagem da revista “Veja” aponta que na disputa pela Presidência da República a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva prevê vitória sobre Jair Bolsonaro (PL) com a maior diferença de votos da história do PT no Nordeste – cerca de 13 milhões de sufrágios a mais, bem acima do recorde até agora, os 11 milhões de Dilma Rousseff contra o tucano José Serra, em 2010. Wellington Dias, que deixou o governo do Piauí para concorrer ao Senado e fazer parte na coordenação da campanha de Lula, analisou: “Percebemos uma vontade cada vez mais forte do povo daqui de resolver logo no primeiro turno”. A matéria mostra que, apesar do favoritismo de Lula no Nordeste, candidatos do PT a governos regionais ainda patinam, mas têm espaço para crescimento.
– Quando há nomes consolidados, o trabalho é mais fácil. Na Bahia, em Pernambuco e no Ceará, nossos candidatos ainda são desconhecidos e o esforço, agora, é para integrá-los a Lula – reforçou Wellington Dias. O “pega-pega” nas disputas estaduais é tamanho que embaça um pouquinho o brilho da projeção da última pesquisa do Datafolha de que, na corrida para o Planalto, Lula ganha de 62% a 17% de Jair Bolsonaro no Nordeste, o que seria a sua maior vitória até hoje na região. Em alguns Estados, como a Paraíba, Lula está dividido entre dois apoiadores que pleiteiam o Executivo local. Aqui, o governador João Azevêdo (PSB) tenta a reeleição, enquanto o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que até pouco tempo foi aliado de João, postula o mesmo cargo em aliança com facção do PT paraibano, liderada pelo ex-governador Ricardo Coutinho, pré-candidato ao Senado.
Esta semana, Lula iniciou uma visita de três dias ao Nordeste, passando por Natal (Rio Grande do Norte), Maceió (Alagoas) e Aracaju (Sergipe). Um exemplo do seu equilibrismo político deu-se em Natal, envolvendo a sucessão paraibana: Lula teve conversa reservada com João Azevêdo, que participou de evento do Consórcio Nordeste, e, depois, encontrou-se com Veneziano e Ricardo Coutinho, gravando um vídeo em que anuncia apoio a esta última chapa e iminente visita ao Estado. A vinda de Lula à Paraíba tem sido sistematicamente retardada diante da radicalização entre os postulantes ao governo que apoiam sua candidatura à Presidência. A tática de Lula é focada no objetivo de não perder votos nem agravar sua situação em momento algum devido a gestos impensados. O governador João Azevêdo não dá sinais de que pretenda abandonar a frente lulista.
O UOL informa, entretanto, que Bahia, Ceará e Pernambuco dão dores de cabeça diferentes ao PT, com problemas a resolver em todos esses lugares – seja racha interno, baixa intenção de votos ou mesmo definição de alianças. Na Bahia, a escolha do PT por Jerônimo Rodrigues deu-se após desistência do senador Jaques Wagner (PT) de concorrer ao cargo que ocupou entre 2007 e 2014. Com isso, a chapa perdeu força para tentar continuar no poder (o PT venceu as últimas quatro eleições majoritárias no Estado). Ex-secretário de Educação, Rodrigues ainda não conseguiu emplacar nas pesquisas e sofreu com baixas na aliança. O maior desafio no Estado é fazer com que o petista consiga reverter a vantagem até a eleição. Em Pernambuco, o acordo com o PSB enfrenta resistência no PT, especialmente da ala mais ligada a Marília Arraes (Solidariedade), e no Ceará o PT nem sabe ainda se seguirá com a união com o PDT.
Para o cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco, o eleitor do Nordeste tem sinalizado ainda pouco interesse às eleições estaduais. Ele conceituou: “As pesquisas qualitativas mostram que o eleitor não está concentrado na eleição estadual. Ele está atento à eleição presidencial por conta da crise política e econômica”. Oliveira alega que, nesse cenário, as eleições locais estão abertas. “As pesquisas de intenção de voto hoje na região Nordeste não dizem nada”, argumenta. Com base nos prognósticos desses analistas políticos é que pré-candidatos como o senador Veneziano Vital do Rêgo se encorajam com eventuais chances no páreo ao governo da Paraíba. “Não tenho dúvidas de que estarei no segundo turno”, assegura ele, sem esconder satisfação com a parceria firmada com o PT local e a receptividade junto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.