Nonato Guedes
Fontes políticas próximas ao governador João Azevêdo (PSB) passaram a admitir nas últimas horas que se torna imperiosa uma ação do chefe do Executivo para mediar o conflito que se alastra entre políticos do Republicanos, liderado pelo deputado federal Hugo Motta, e do Partido Progressistas, representado pelo deputado federal Aguinaldo Ribeiro, que passou a fazer parte do “núcleo duro” da campanha do gestor à reeleição. As duas legendas se enfrentam para conquistar espaços na chapa majoritária, sobretudo a vaga de vice-governador, mas a relação azedou de tal forma que há risco de ruptura mais grave na base oficial, comprometendo o próprio projeto da postulação de um novo mandato por parte de Azevêdo.
O PP, de que faz parte, também, um líder de expressão – o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, passou a focar na vice-governança depois que o deputado Aguinaldo Ribeiro refugou a hipótese de ser pré-candidato ao Senado, alegando justamente falta de unidade da base. Ribeiro contava com o apoio do Republicanos na senatória e ficou desapontado quando os liderados de Hugo Motta mantiveram, em sua maioria, compromisso de apoio à pré-candidatura do deputado Efraim Filho (União Brasil), que compõe a chapa oposicionista encabeçada pelo deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB). A posição autonomista do Republicanos irritou o deputado do PP, que chamou de oportunista a tática de “servir a dois senhores”. Já o Republicanos reagiu apontando o deputado pepista como “cristão novo” na base governista e acusando-o de já chegar querendo fazer imposições.
Em termos concretos, não interessa ao Republicanos, em princípio, lutar pela vaga de candidato a senador na chapa de João Azevêdo. O partido fechou compromisso com a pré-candidatura do deputado Efraim Filho desde o ano passado quando este ainda fazia parte da base de sustentação do governo João Azevêdo e, mesmo com o rompimento do expoente do União Brasil não recuou na palavra empenhada. Acertou-se com Efraim uma estratégia em que os deputados republicanos comprometidos com João Azevêdo permaneceriam com ele, sem prejuízo do apoio a Efraim para o Senado, o que é considerada uma metodologia arriscada pelo fato de que confunde os eleitores, sobretudo no interior do Estado. Seja como for, o equilibrismo vem sendo mantido e, ao que tudo indica, com o “placet” do próprio Pedro Cunha Lima, que é o candidato de Efraim a governador.
Essa composição esdrúxula, a bem da verdade, nunca agradou ao governador João Azevêdo, o primeiro a dar o grito de guerra em prol da unidade da chapa para a reeleição, tornando-a efetivamente homogênea e fortalecida aos olhos da opinião pública. A coesão ou homogeneidade passou a ser cobrada, na sequência, pelo prefeito Cícero Lucena, pelo deputado Aguinaldo Ribeiro e até por quem nunca se considerou integrante da base governista – a senadora Daniella Ribeiro (PSD), irmã de Aguinaldo, cujo nome invariavelmente é lembrado como alternativa para disputar o governo do Estado numa situação “de emergência”, caso o governador não lograsse promover a pacificação no seu entorno. No fundo, o PP e partidos aliados estão pressionando o governador João Azevêdo para atender suas próprias ambições e demandas, dentro da guerrilha de bastidores pela ocupação de espaços no cenário político estadual.
Em meio a tudo isso, o problema é que o tempo urge. O governador João Azevêdo não pode estar protelando indefinidamente decisões sobre a formação da chapa porque, já ficou provado que, quanto mais demora, mais perdas enfrenta. Foi assim com o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), com o próprio deputado federal Efraim Filho, com a vice-governadora Lígia Feliciano (PDT), sem falar em políticos recalcitrantes que evitam expor-se na liça mas nos bastidores não escondem sinais de desconforto ou insatisfação. O Republicanos tornou-se o fato novo na realidade partidária da Paraíba, da mesma forma como o PP de Aguinaldo e Cícero reforçou-se com a coligação e conquista de outros partidos. É uma decisão difícil para o governador João Azevêdo tomar, mas não há como ele fugir do desideratum. Se o tempo urge, a hora da verdade está chegando. Até porque, de resto, não há espaço vazio em política – e os adversários estão à espreita como pescadores de águas turvas para tirar proveito desse quiproquó.