Nonato Guedes
Sem querer polemizar explicitamente com o Republicanos, cuja autonomia respeita, mas construindo falas com firmeza, o governador João Azevêdo (PSB) deixou claro, nas últimas horas, que a unidade da base oficial é uma espécie de “mantra” no projeto que empreende em busca de nova candidatura ao cargo. Para ele, a filosofia que alguns insistem em professar, “acendendo uma vela a Deus e outra ao inimigo”, no enredo da sua sucessão, é incoerente e, por isso mesmo, inadmissível para segmentos da opinião pública que acompanham os embates políticos com interesse e que são testemunhas da formação de chapas coesas na eleição majoritária, como condição para diferenciar aliados de adversários e para situar o próprio eleitor na perspectiva dos conflitos que estão sendo travados em pleitos importantes para a vida do Estado.
O desabafo do governador João Azevêdo foi, possivelmente, o seu último recado a políticos que lutam por chapa descasada, o que implicaria, por exemplo, no apoio à sua pré-candidatura à reeleição e, em paralelo, no apoio à pré-candidatura ao Senado do deputado federal Efraim Filho (União Brasil), que já foi aliado do atual governo mas rompeu e alinhou-se com o pré-candidato Pedro Cunha Lima (PSDB), de oposição, ao Palácio da Redenção. Abordado por jornalistas, o chefe do Executivo não titubeou em repetir o ponto de vista de que o “caso Efraim” é página virada. Conforme ele reiterou, o parlamentar tomou seu próprio rumo e faz pré-campanha de braços dados com líderes que lhe fazem oposição, não havendo espaço para a recomposição nesse contexto. O governador trabalha friamente com a análise de que política é dinâmica e que, a esta altura dos acontecimentos, pela dimensão que eles tomaram, não há como reexaminar cenários para efeito de acomodação.
Apurou-se que a manifestação do governador teve o objetivo, também, de “reenquadrar” políticos que se apresentam como seus apoiadores ou correligionários em regiões da Paraíba. No momento, Azevêdo está empenhado em fechar com o PP (Partido Progressistas) o cenário da vice-governança na sua chapa. Ele cedeu essa prerrogativa ao PP depois que o deputado federal Aguinaldo Ribeiro comunicou-lhe, e a toda a Paraíba, que abria mão da pré-candidatura ao Senado, preferindo investir na própria postulação à reeleição à Câmara. Como contrapartida, o PP pleiteou a vice, e as discussões no âmbito daquele partido estão se processando com a participação direta do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, que foi eleito em 2020 com o apoio de João Azevêdo. Sem o anúncio da deliberação do PP, o governador não dará nenhum passo para estimular competição no seu entorno. Mas também não aceitará, passivamente, focos desgastantes de atritos ou emulações.
Não sensibilizam, de forma alguma, o governador João Azevêdo, as articulações para um suposto retorno ao “status quo ante”, ou seja, a recolocação do deputado Efraim Filho na base oficial, com a chance de vir a ter o sinete do Palácio para candidatar-se ao Senado. Esse movimento vem sendo tentado por deputados estaduais que são candidatos a federal, herdeiros presumíveis dos votos de Efraim Filho à Câmara, mas que simultaneamente estão apalavrados com a pré-candidatura do chefe do Executivo a um novo mandato. Por trás da articulação – suspeita-se – está o desejo de tais políticos de se reforçar e garantir relativo conforto com a perspectiva de terem apoio na base do governador. A composição equivaleria a uma tática equilibrista que Azevêdo não está disposto a bancar nem tem interesse em estimular. Como explicou uma fonte, ontem, a aposta de João é mesmo na unidade, com todos os aliados rezando pela mesma cartilha.
Por fim, o governador João Azevêdo demonstra que não está preocupado com fotografias, áudios ou vídeos sinalizando ligações do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), seu adversário na corrida ao governo, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à Presidência da República. Ele passa a confiança de quem teve a oportunidade de conversar com o líder petista ainda na semana passada, analisando a conjuntura estadual. Nesse sentido, de acordo com Azevêdo, os augúrios são positivos – ou favoráveis para o seu governo e para a sua própria imagem como candidato à reeleição. É com disposições como essas que o chefe do Executivo adianta as demarches, movendo-se com habilidade no xadrez político paraibano para não perder favoritismo na corrida sucessória. Quem concordar com ele, que o siga sem relutância – eis o significado da sua mensagem.