Nonato Guedes
Não há a mínima possibilidade de interferência ou de ingerência da cúpula nacional do PSB na formação da chapa majoritária encabeçada pelo governador João Azevêdo para concorrer às eleições de outubro na Paraíba. Foi o que deixou explícito o presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira (PE), em declarações à imprensa paraibana, em que se mostrou inteirado dos fatos políticos que se desenrolam em nosso Estado mas, ao mesmo tempo, evidenciou o prestígio que é conferido à liderança do governador João Azevêdo. Na sua opinião, o chefe do executivo da Paraíba poderá alcançar uma das mais expressivas vitórias da agremiação no pleito que vai se ferir e, sendo assim, o posicionamento é de respeito à estratégia que Azevêdo busca pôr em prática, de acordo com as peculiaridades locais.
Carlos Siqueira cravou o ponto-de-vista ao ser indagado sobre a questão do palanque de apoio à pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Paraíba, diante da insistência do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) de anunciar-se beneficiário da preferência do líder petista no cenário ao governo estadual. O fato novo, com supostas consequências na realidade paraibana, seria a articulação a partir de São Paulo para a retirada da pré-candidatura de Márcio França (PSB) ao Palácio dos Bandeirantes a fim de favorecer as pretensões do candidato petista, o ex-ministro Fernando Haddad. A mídia sulista insinuou que França teria imposto condições para tanto, uma delas passando pelo cenário da Paraíba, em proveito das pretensões de João Azevêdo. A especulação arrancou ironia de Veneziano, que considera o apoio de Lula ao seu nome “fato consumado”, por causa, segundo ele, de compromisso direto do próprio ex-presidente da República.
Não há indício ou perspectiva de que a polêmica sobre a posição do ex-presidente Lula na disputa eleitoral da Paraíba venha a cessar tão cedo, diante da radicalização nítida que separa os grupos do governador João Azevêdo e do senador Veneziano Vital do Rêgo, que, inclusive, foram aliados políticos até bem pouco tempo. A divisão acentuada se estende às hostes do PT local, onde uma ala capitaneada pelo ex-governador Ricardo Coutinho se diz fechada com Veneziano, tendo o próprio Ricardo como pré-candidato ao Senado, e outra corrente, liderada pelo deputado federal Frei Anastácio Ribeiro, está aliançada com o governador João Azevêdo. O ex-presidente Lula age, em relação a esse conflito paroquial, como algodão entre cristais, fazendo acenos simultaneamente para o governador João Azevêdo, cuja liderança, naturalmente, respeita, e para o ex-governador Ricardo Coutinho, com quem tem amizade pessoal. A estratégia de Lula é focada em não perder votos, o que o aproxima dos domínios do MDB local.
Enquanto o ex-presidente Lula vai tocando sua pré-campanha por outros Estados e “empurrando com a barriga” casos pendentes em Estados do Nordeste, como o da Paraíba, o governador João Azevêdo movimenta-se com prioridade para definir os nomes na chapa que vai liderar com vistas a assegurar mais quatro anos de permanência na esfera de poder. Houve um avanço em relação à definição para a vice, após a indicação, pelo Progressistas, do nome do vice-prefeito de Campina Grande, Lucas Ribeiro, para companheiro de chapa do governador. O impasse maior que perdura diz respeito à escolha para o Senado, depois que o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP, desistiu do projeto e preferiu investir na própria reeleição à Câmara. O governador tem um vasto cenário de possibilidades e de pretensões para esse posto, mas tenta acomodar o Republicanos, do deputado federal Hugo Motta, que pleiteava a vice e que está fechado ao Senado com o pré-candidato Efraim Filho, do União Brasil, convertido à oposição.
Essas demandas estão sendo equacionadas em conjunto com o grupo político que segue a orientação e as coordenadas políticas de João Azevêdo. Interlocutores avaliam que o fundamental, para ele, de imediato, é a demonstração de prestígio oferecida pela cúpula nacional do PSB, porque isto dá tranquilidade à montagem da estratégia mais ampla que o chefe do Executivo arquiteta para consolidar-se no páreo sucessório estadual. Convém recapitular que Azevêdo enfrentou “perrengues” dentro do PSB após sua vitória ao governo em 2018 devido a maquinações urdidas pelo antecessor Ricardo Coutinho, interessado em monopolizar todos os espaços. O atual governador teve que sobreviver dentro do Cidadania, mas os movimentos da conjuntura política criaram condições objetivas favoráveis para que retornasse às hostes socialistas, com todas as deferências. Encarapitado nessa legenda é que ele comanda os passos táticos indispensáveis ao fortalecimento e competitividade da candidatura que decidiu empalmar rumo a um segundo mandato, submetendo-se ao plebiscito do eleitorado paraibano.