Nonato Guedes
Desde que deixou a prefeitura de João Pessoa, sem conseguir eleger a sua candidata, a concunhada Edilma Freire, ex-secretária de Educação, à sua sucessão, Luciano Cartaxo faz movimentos para se reinserir no cenário político, enfrentando alguns atropelos. Um desses movimentos foi o caminho de volta aos quadros do PT, do qual se afastara em pleno desgaste de escândalos como o do mensalão, tendo pontificado por um tempo no PSD e posteriormente no PV. Luciano tentou viabilizar uma pré-candidatura ao governo do Estado este ano nas hostes petistas, mas não logrou respaldo e acabou anunciando sua pré-candidatura a deputado estadual, mandato que já exerceu. Aliados bem próximos garantem que a aspiração de ser novamente candidato a prefeito de João Pessoa permanecer no radar de Luciano – e, desse ponto de vista, a candidatura a deputado seria estratégica para ocupar espaços.
Em termos concretos, Cartaxo, que governou a Capital em duas gestões consecutivas, deparou-se dentro do PT com um antigo êmulo de batalhas internas, competidor hábil e engenhoso, que se projetou de forma fulminante no quadro local e que tem linha direta com o ex-presidente Lula: o ex-prefeito e ex-governador Ricardo Coutinho. Nos últimos dias, o “clã” de Luciano tentou opinar dentro do PT na formação de uma lista de quatro nomes para indicação do vice do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ao governo mas foi praticamente barrado. Na lista acabaram constando, com o aval de Ricardo, os nomes da ex-prefeita do Conde, Márcia Lucena, do ex-prefeito de Patos, Lenildo Morais, do presidente do diretório municipal petista em João Pessoa, Antônio Barbosa, e da professora Maria Luiza Alencar. Cartaxo admitiu, em entrevista a emissoras de rádio, seu desconforto por não ter sido ouvido nem cheirado pela cúpula petista em decisão tão relevante.
Nos bastidores, apurou-se que o ex-prefeito cogitava indicar nomes do seu círculo, como os da mulher, Maísa, ou do irmão gêmeo, Lucélio, para vice de Veneziano. O ex-prefeito confirmou ter sugerido ao presidente estadual do PT, Jackson Macêdo, que reunisse as lideranças partidárias antes do encontro da Executiva para começar a esboçar a lista, mas queixou-se que o pedido não foi levado em consideração. Relatou que imaginava que pudesse falar, propor, sugerir e avaliar tudo que estava acontecendo para ue depois a Executiva tomasse a decisão, o que não ocorreu. Em todo o caso, Cartaxo preferiu não passar recibo de derrota ou de abespinhamento. Pelas suas palavras, o episódio pertence ao passado, sendo, portanto, página virada, e sua torcida é para que o senador Veneziano faça a melhor escolha entre os nomes que figuram na relação que lhe foi submetida. O senador, até as últimas horas, não havia externado qualquer preferência, muito menos qualquer posição preliminar diante dos nomes oferecidos.
Embora tenha realizado gestões que, em tese, foram aprovadas por grande parcela da população pessoense – sem, necessariamente, apresentar grande impacto – o ex-prefeito Luciano Cartaxo aparenta ter dificuldades para construir uma liderança pujante no quadro político paraibano. Falta-lhe certa habilidade para manter alianças sólidas ou se impor para cargos relevantes. Chegou a ser candidato a vice-governador na chapa de José Maranhão, em 2006, na disputa contra Cássio Cunha Lima, e se investiu no posto quando, em fevereiro de 2009, Maranhão foi chamado pela Justiça a complementar o mandato de Cássio, que fora cassado pelo TSE. Mas já em 2010, quando Maranhão pleiteou a reeleição, escolheu outro nome do PT – Rodrigo Soares, para vice, na campanha em que foi derrotado por Ricardo Coutinho. O grande momento de reabilitação de Cartaxo foi sua vitória a prefeito da Capital em 2012, em oposição ao governo de Ricardo e contando com o decidido apoio do então prefeito Luciano Agra. Em 2016, veio a reeleição à prefeitura.
Nesse ínterim, Luciano Cartaxo chegou a ser cogitdo como candidato natural da oposição ao governo da Paraíba em 2018, juntamente com o prefeito de Campina Grand, Romero Rodrigues, então no PSD. Ambos optaram por permanecer nos cargos de prefeito até o último dia e conceberam uma chapa doméstica – o irmão gêmeo de Luciano, Lucélio, a governador, e a esposa de Romero, Micheline, a vice-governadora. A chapa foi derrotada inapelavelmente em primeiro turno por João Azevêdo, que, na época, era apoiado pelo governador Ricardo Coutinho, então no PSB. Hoje, no PT, o metro quadrado parece ser estreito demais para acomodar Cartaxo e Ricardo. No pleito deste ano, Coutinho tenta quebrar a inelegibilidade e garantir candidatura ao Senado. Seja qual for o desfecho da sua situação, já se especula que em 2024 Coutinho tentará retornar à prefeitura de João Pessoa. Fez isto em 2020, mas a candidatura estava contaminada por envolvimento em citações na Operação Calvário. Como é resiliente, ele não desistiu da obsessão. E deverá ter pela frente, no território do PT, Luciano Cartaxo, cujo radar, como se disse, foca a mesma ambição, ou seja, o Paço Municipal de João Pessoa.