Nonato Guedes
Aparentemente disposto a encerrar, de sua parte, a polêmica sobre quem é o candidato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Paraíba, se ele ou o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), este apoiado pelo ex-governador Ricardo Coutinho, o governador João Azevêdo (PSB) deixou claro, ontem, que não pulou de para-quedas na campanha do líder das pesquisas na corrida presidencial, nem tampouco se considera um intruso ou um estranho no ninho dentro da coalizão de forças pró-Lula. Em outras palavras, ele não arrombou portas, não forçou a barra para estar em palanque com Lula, nem está pressionando o ex-presidente a dar declarações constantes sobre seu posicionamento. Mas também não concorda com insinuações de que Lula vá desprezar seu apoio.
“Imaginar que Lula viesse à Paraíba e não subisse no meu palanque seria inusitado”, salientou João Azevêdo, ressaltando que também não faz questão de palanque exclusivo e que Lula pode ter cinco ou dez candidatos ao governo lhe apoiando. “O que puder agregar para ele (Lula) melhor”, resumiu o chefe do Executivo. O seu depoimento é o de que a adesão a Lula nas eleições deste ano não ocorre por mera conveniência ou por interesse pessoal de se beneficiar do prestígio dele como suporte para sua campanha à reeleição. Já havia decidido, desde o início da sua gestão, apoiar um projeto de oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro, sem ter, sequer, conhecimento de quem seria esse candidato. Tendo Lula se lançado, sentiu-se prontamente representado e tem procurado se engajar dentro do espaço que lhe cabe no contexto da conjuntura.
O senador Veneziano Vital do Rêgo, de público, e o ex-governador Ricardo Coutinho (PT), nos bastidores, têm atuado para desqualificar a importância do apoio de João Azevêdo à pré-candidatura do ex-presidente Lula, o que já provocou sucessivos adiamentos de visita do líder petista à Paraíba, embora Lula se repita em viagens a Estados como o Rio Grande do Norte e Pernambuco. Falando à rádio Líder FM, Azevêdo lembrou que Lula terá como companheiro de chapa o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que é seu companheiro de partido no PSB. “Alguém acha de bom senso que não haverá a possibilidade de estarmos juntos no palanque?”, indagou, para, em seguida, criticar a teoria da “exclusividade” de palanques. E mais: “Essa luta insana para dizer que é o exclusivo não vai acontecer de minha parte. Não vou escolher outro candidato por conveniência”.
Analisadas em retrospectiva, as declarações do governador João Azevêdo fazem todo sentido. Em 2018, quando foi lançado pelo ex-governador Ricardo Coutinho à sua sucessão, João estava filiado ao PSB. Era apresentado como um técnico com visão política progressista, alinhado com bandeiras de esquerda ou de centro-esquerda. Naquele ano o candidato do PT à presidência da República foi o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, e Azevêdo incorporou-se à campanha deste sem qualquer restrição. Quando, já governador, surgiu a perspectiva de Lula vir a ser o candidato, uma vez anuladas as condenações por ele enfrentadas, o governador da Paraíba alistou-se entre os primeiros a manifestar adesão. Nesse ínterim, João foi vítima de manobras patrocinadas por Ricardo, que lhe tomou o comando do PSB e o obrigou a se refugiar em outro partido (o Cidadania). Quando, porém, Ricardo saiu do PSB, João sentiu o terreno livre e movimentou-se para fazer o caminho de volta, o que se deu com aval da cúpula nacional socialista.
Verdade seja dita, não subsiste a versão de motivação oportunista de João Azevêdo para estar com Lula. Estranho seria se ele estivesse com o presidente Jair Bolsonaro, que o hostiliza, como, de resto, hostiliza outros governadores do Nordeste. Quando percebeu que o Cidadania poderia se encaminhar para uma junção com o PSDB, partido que na Paraíba é dirigido por adversários ferrenhos de sua administração, o governador reforçou sua posição pró-Lula e se colocou à disposição para eventos que porventura fossem programados para a Paraíba, sem, no entanto, vetar ou obstacular manifestações de apoio de outros líderes políticos interessados. O governador tem se mantido coerente, mas, infelizmente, sofre consequências da falta de uma manifestação oficial do próprio Lula sobre apoios que lhe são oferecidos. É isto que tem provocado celeuma e dado munição para que, de forma articulada, Veneziano e o ex-governador Ricardo Coutinho tumultuem o palanque pró-Lula na Paraíba, desviando-se da obrigação que lhes cabia, como eleitores de Lula, de fortalecer esse palanque.