Nonato Guedes
O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), comparece nas eleições deste ano exibindo um novo figurino, no papel de aliado do governador João Azevêdo (PSB), e acena com engajamento proativo que resulte em vantagem expressiva para o chefe do Executivo no projeto de reeleição, neutralizando adversários como o senador Veneziano Vital do Rêgo, o deputado Pedro Cunha Lima, o comunicador Nilvan Ferreira. A Capital é estratégica nas campanhas eleitorais majoritárias não apenas pela capilaridade eleitoral que oferece, como maior colégio do Estado, como pelo efeito irradiador que possibilita, influenciando intenções de voto de eleitores não apenas da chamada região metropolitana mas, também, de outras regiões do interior da Paraíba.
Cícero ingressou na política por influência do poeta Ronaldo Cunha Lima, de quem foi vice na campanha de 1990, decidida favoravelmente em segundo turno, num embate com o ex-governador Wilson Leite Braga, que pleiteava retornar ao Palácio da Redenção. Exerceu a titularidade do governo por dez meses, completando a gestão de Ronaldo, que se desincompatibilizara para disputar cadeira no Senado. Sua mulher, Lauremília Lucena, foi vice de Cássio Cunha Lima, na primeira eleição que ele disputou em 2002, e Cícero chegou a ocupar secretaria de Estado na Era cassista. A dinâmica política, que tanto aproxima como afasta, cuidou de esgarçar a relação de Lucena com o “clã” campinense. Em 2020, quando voltou a disputar a prefeitura de João Pessoa, surpreendendo alguns “experts”, Cícero teve o já governador João Azevêdo como cabo eleitoral decisivo, vencendo a batalha no segundo turno em confronto acirrado com Nilvan Ferreira, que concorreu pelo MDB do falecido senador José Maranhão.
A relação institucional entre o prefeito de João Pessoa e o governador do Estado tem sido a melhor possível na história política-administrativa recente da Paraíba. Azevêdo procurou estar junto de Lucena desde os primeiros meses do terceiro mandato que empalma na edilidade pessoense, intensificando parcerias em setores estratégicos e executando uma bem-sucedida dobradinha no desafio de enfrentamento à pandemia de covid-19, quando a Capital chegou a ficar congestionada pela sua condição de referência maior no Estado em termos de assistência médica ou de atendimento na Saúde. Eventual divergência ideológica entre Azevêdo e Cícero, que se situam em extremos distintos da política, não afetou a parceria administrativa – e o resultado é que inúmeras ações conjuntas puderam ser colocadas em prática, em clima de harmonia que causa inveja a muitos gestores de cidades relevantes.
No campo político, o prefeito Cícero Lucena optou por não dificultar a estratégia concebida pelo governador João Azevêdo para tocar a sua própria campanha à reeleição, colocando-se, pelo contrário, como um colaborador atento e paciente, sem fazer pressão ou qualquer tipo de imposição. Isto não tem impedido Cícero de externar livremente seus pontos-de-vista, principalmente quanto à formação da chapa majoritária, o que faz tanto em conversas pessoais com o governador como, na sequência, em declarações à imprensa. O gestor da Capital procura atuar como disciplinado soldado ou militante do PP, que é comandado a nível local pelo “clã” Ribeiro – e foi assim que se empenhou para que o deputado federal Aguinaldo fosse viabilizado como candidato ao Senado dentro do esquema governista. Recuou, de forma tática, quando Aguinaldo desistiu da pretensão e assumiu projeto de candidatura, novamente, à Câmara Federal.
Ainda agora, o ex-senador Cícero Lucena tem deixado claro que o condutor natural do processo, na esfera oficial, é o governador João Azevêdo, e que confia na habilidade dele para acomodar interesses sem prejuízo das chances eleitorais. Confrontado, nos últimos dias, com a hipótese de ter o seu vice, Leo Bezerra, como opção para a chapa majoritária, não antepôs obstáculos e reiterou que sua postura de compromisso é a mesma, sem deixar de evidenciar a relação cordial que mantém com seu parceiro de gestão. Em outra frente, Cícero Lucena aposta fichas e seu empenho na pré-campaha do filho, Mersinho, atual vice-prefeito de Cabedelo, para uma vaga na Câmara Federal, contribuindo com seu quinhão influente para viabilizar vitória nas urnas em três de outubro. O prefeito já teve a oportunidade de dizer que a vida pública proporcionou-lhe grande aprendizado e que teve abertura para recolher lições e amadurecer pessoalmente. Para além disso, Cícero investe no seu próprio futuro político. Aposta na continuidade de João Azevêdo para respaldar a sua aspiração de ser reeleito em 2024, quando deverá enfrentar políticos que, como ele, já passaram pelo Paço Municipal e que também ambicionam um retorno em grande estilo.