Nonato Guedes
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato à Presidência da República, está preocupado em salvar sua posição de vantagem no cenário pré-eleitoral, evitando riscos provocados pela “guerra” que é travada por apoiadores ou aliados políticos nos Estados. Na visita a Pernambuco, Lula teve uma prévia do acirramento das brigas locais ou regionais e da ameaça de dispersão dos seus próprios votos na voragem dos conflitos paroquais entre adversários históricos ou ex-aliados que rivalizam pelo poder estadual. Essa dispersão nem de longe lhe interessa porque pode acabar favorecendo o presidente Jair Bolsonaro (PL), que é seu principal competidor. Em paralelo, o pré-candidato Ciro Gomes (PDT), está à espreita para extrair dividendos da confusão nos palanques lulistas.
Em certa medida, essa confusão já era prevista, mas havia a expectativa de que ela não refletisse diretamente na campanha do ex-presidente. A mídia nacional destaca que o ato público de Lula no Recife, ontem, escancarou a disputa pelo uso do seu nome nas eleições entre dois postulantes ao governo de Pernambuco: Danilo Cabral, do PSB, e Marília Arraes (Solidariedade). A viagem do líder petista ao Estado foi exigência do PSB, principal aliado do PT no plano nacional e que tem o candidato a vice na chapa de Lula, através do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O partido queria que Lula apresentasse Danilo como seu candidato para que ele ganhe cacife na corrida eleitoral. Os socialistas comandam Pernambuco desde 2007 e, naturalmente, estão empenhados em manter a hegemonia. Apoiadores de Lula, no entanto, levaram faixas com o nome de Marília ao ato promovido com o ex-presidente na noite de ontem na capital pernambucana.
Em alguns vídeos, como relatou o “Poder360” foi possível ver que o nome da deputada era entoado pela multidão e algumas pessoas diziam “Danilo não”. Durante os discursos iniciais, houve disputa de gritos para Marília e para Danilo. O prefeito de Recife, João Campos, e o governador Paulo Câmara, ambos do PSB, foram vaiados quando o senador Randolfe Rodigues (Rede-PA) mencionou seus nomes em discurso no início do ato. Danilo ainda enfrenta dificuldades para crescer nas pesquisas. Sua principal adversária é Marília, que deixou os quadros do PT em março para viabilizar sua candidatura ao governo local. De acordo com pesquisas recentes, a deputada lidera a corrida ao Palácio do Campo das Princesas, enquanto Danilo aparece em quinto lugar na maioria delas. Desde que lançou sua pré-candidatura, Marília Arraes tem usado a imagem do ex-presidente em suas peças publicitárias.
O PSB já reclamou mas o PT tem feito vista grossa até o momento. A deputada assegura que o seu partido, o Solidariedade, está na coligação nacional de Lula. Nos atos em que participou em Garanhuns e Serra Talhada, no interior do Estado, Lula afirmou que seu candidato em Pernambuco é Danilo Cabral e disse: “Eu não confundo minha relação pessoal com minha relação política”. A frase, segundo analistas, foi uma forma de explicar aos eleitores o apoio a Danilo em vez de Marília, que tem fotos e vídeos mostrando proximidade com o ex-presidente. É também uma forma de não atacar a ex-correligionária, a quem Lula já disse respeitar e ter carinho. Em junho, Marília lançou um jingle de campanha em que diz ser “guerreira de Arraes e Lula”. No mesmo dia, Lula gravou um vídeo para reforçar seu apoio a Danilo. Na semana passada, ela também aproveitou a visita do petista a Brasília e tirou fotos ao seu lado.
Em menor escala, a Paraíba é exemplo da briga fratricida entre apoiadores do ex-presidente da República. O confronto é visível entre o senador Veneziano Vital do Rêgo, pré-candidato a governador pelo MDB, e o governador João Azevêdo (PSB), que postula a reeleição. Veneziano tem tido desenvoltura junto a Lula graças à influência do ex-governador Ricardo Coutinho (PT) e já extraiu mensagem de apoio em vídeo por parte do ex-presidente. Mas João Azevêdo também tem imagens com o ex-mandatário e reitera que se considera integrante da base lulista, disponibilizando o seu palanque para o favorito nas pesquisas. Nas últimas horas, houve movimentos do PDT paraibano para firmar aliança com o governador João Azevêdo desde que este apoie a candidatura do ex-ministro Ciro Gomes. Os entendimentos ainda não avançaram concretamente e deverão esbarrar na questão de honra assumida por Azevêdo de estar ao lado de Lula. A prova dos noves em solo paraibano ficou para o dia quatro de agosto, quando está agendada a vinda do ex-presidente a João Pessoa para evento político. Azevêdo ainda não perdeu a esperança de ter sua própria agenda com Lula em algum momento da campanha eleitoral, o que só faz redobrar projeções e especulações entre líderes políticos locais.