Nonato Guedes
Já se disse que o projeto expansionista de poder do Republicanos, legenda presidida pelo deputado federal Hugo Motta, na Paraíba, é mais para a frente, quando poderá ocupar posições e cargos de destaque no cenário estadual. O movimento feito, ontem, pelo partido, abdicando de qualquer vaga na chapa encabeçada pelo governador João Azevêdo (PSB) sem, porém, romper com o governo que aí está, é sintomático da paciente e habilidosa estratégia que está sendo posta em prática para o futuro. Contribuiu para esse recuo a conjuntura política atípica que se verifica na Paraíba. A maioria dos expoentes do Republicanos, por exemplo, já assumira pacto com a pré-candidatura do deputado federal Efraim Filho (União Brasil) ao Senado, quando este ainda se encontrava na base de apoio ao governador João Azevêdo. Manteve a palavra empenhada em meio ao rompimento que arrastou Efraim para o leito da pré-candidatura do deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) ao governo.
Na prática, há um arranjo de conveniências políticas, restando confirmar se isto vai se manter em condições normais de temperatura e pressão durante a fase aguda da campanha eleitoral, quando a radicalização estiver correndo desenfreada entre grupos políticos rivais no Estado, ou se haverá problemas que acabarão por inviabilizar alianças ambíguas. O deputado federal Hugo Motta já havia deixado claro, justiça se faça, que o Republicanos não estava pressionando para conseguir indicar pré-candidato à única vaga de senador na chapa de João Azevêdo. Teria interesse na vice-governança, mas os fatos se sucederam de forma a prejudicar esse pleito, dada a reivindicação do Progressistas para ali se alojar, depois que o deputado Aguinaldo Ribeiro desistiu, também, de concorrer ao Senado, preferindo disputar a reeleição à Câmara.
O Republicanos tornou-se peça importante, decisiva mesmo, no processo eleitoral paraibano, à primeira vista, diante da capilaridade que alcançou em pouco tempo na realidade política do Estado. Ele se fortaleceu, particularmente, no período da janela partidária, quando parlamentares que estavam declaradamente na base do governador João Azevêdo migraram para lá em busca de melhores condições de acomodação, sobretudo os que são postulantes à reeleição. O próprio Hugo Motta foi cortejado para encampar, inclusive, projeto de candidatura própria ao governo e, de acordo com analistas políticos, poderia deter possibilidades concretas no curso da campanha. Mas nem a hipótese estava no seu radar nem ele quis dar algum passo para afetar a credibilidade do partido na mesa de negociações políticas para as eleições de 2022 na Paraíba. Não faltaram momentos cruciais no histórico das decisões do Republicanos para este pleito, mas o senso de equilíbrio do deputado Hugo Motta parece ter prevalecido acima de ambições pessoais ou de açodamentos políticos.
A conduta autonomista tomada pelo Republicanos viabilizou-se no vácuo das próprias indecisões do esquema governista para se estruturar com vistas à batalha política-eleitoral. O governador João Azevêdo, inegavelmente, contabilizou defecções inesperadas no seu bloco de sustentação, como as do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que acabou se lançando pré-candidato ao governo em aliança com o PT, e a do deputado Efraim Filho, que não sentiu firmeza quanto ao apoio à sua pretensão senatorial. Houve, ainda, o afastamento da vice-governadora Lígia Feliciano, que resolveu sobreviver politicamente no PDT, enquanto o marido, deputado federal Damião Feliciano, buscou guarida no União Brasil para tentar, pelo menos, assegurar condições de pleitear a reeleição à Câmara. A entrada do PP em cena, rivalizando abertamente com o Republicanos, agudizou a situação política no esquema governista.
Além do compromisso de apoio à reeleição do governador João Azevêdo e da manutenção do pacto com Efraim Filho para o Senado, o Republicanos apostará fichas na eleição de boas bancadas de deputados federais e estaduais. O partido já vem se estruturando há algum tempo nessa perspectiva, dentro da ótica de que a capilaridade no pleito proporcional pode oxigenar-lhe os espaços em disputas majoritárias futuras. De resto, o partido optou por não se envolver muito com inovações trazidas para o pleito deste ano, como o da formação de federação partidária, que em muitos Estados tem ocasionado conflitos irremediáveis entre parceiros aparentes de uma mesma jornada. Talvez o impacto da eleição presidencial, polarizada entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, tenha contribuído para reduzir tensões na esfera local/estadual, tornando os políticos mais pragmáticos em relação às metas que podem ser alcançadas, não às metas que sejam desejadas. Haverá um panorama inteiramente diferente nestas eleições, e, de modo geral, os políticos e as siglas procuram adaptar-se dentro das suas limitações. O futuro, compreendendo 2024 e 2026, é que pode alavancar ou não o Republicanos como força política emergente na conjuntura paraibana.