Nonato Guedes
Havia uma expectativa, primeiramente por parte do governador João Azevêdo (PSB) e, na sequência, por aliados seus, de que fosse mais pacífico o processo de composição da chapa majoritária por ele encabeçada para o desafio de pleitear a reeleição. O prognóstico levava em conta a expressiva base política de apoio costurada em torno do chefe do Executivo, atraindo, inclusive, figuras de destaque do Partido dos Trabalhadores, apesar da recalcitrância do grupo liderado pelo ex-governador Ricardo Coutinho que se apressou em defender a aliança com o MDB, tendo o senador Veneziano Vital do Rêgo, ex-aliado de João, na cabeça. A dados de hoje, a pendência sobre a posição do PT perdura, devendo ser resolvida na próxima semana pela Federação que congrega outras legendas de esquerda.
Noves fora o PT paraibano, que ficou distante do alcance de Azevêdo depois que Ricardo Coutinho voltou às suas hostes e lá foi investido como senhor de baraço e cutelo, enfeixando as principais decisões referentes à disputa majoritária, dado o próprio interesse de Coutinho em ser pré-candidato a senador desafiando a maldição da inelegibilidade que está posta no meio do caminho, Azevêdo tinha um leque de partidos disponíveis para acordos, no campo da esquerda, centro-esquerda e centro. Teve tempo de sobra e estrutura respeitável para montar esquema competitivo, segurando a posição de favoritismo que passou a ostentar na largada da pré-campanha. Mas líderes e partidos foram se afastando do radar das pretensões, mesmo que alguns permanecessem apoiando o projeto de reeleição do governador. Se por um lado isto desanuviou as pressões, por outro desfalcou Azevêdo de quadros, de tal sorte que está sendo cogitada solução caseira (ou doméstica) para o Senado.
Lembre-se, para efeito de análise, que havia dois pré-candidatos a senador com densidade gravitando na órbita de Azevêdo e até mesmo sustentando clima de rivalidade ou emulação que mantinha aceso o ânimo político entre as lideranças da base nos municípios do Estado. A referência, por óbvio, diz respeito ao embate travado pelos deputados federais Efraim Filho (União Brasil) e Aguinaldo Ribeiro (Progressistas) com um ano de antecedência pela vaga senatorial na chapa oficial. Efraim foi praticamente descartado porque o governador não lhe fez acenos concretos de apoio ou de estímulo a um projeto que até os adversários reconhecem como legítimo. Essa circunstância acabou empurrando o jovem parlamentar para o bloco da oposição, tendo sido aceito com honras pelo pré-candidato do PSDB ao governo, Pedro Cunha Lima. Aguinaldo, que criou fama de “jogar parado” embora não desse trégua a Efraim na pré-disputa, acabou decepcionando o próprio governador quando anunciou em alto estilo que não concorreria ao Senado e, sim, à reeleição à Câmara.
Houve outros episódios já bastante explorados e analisados na mídia, que desviaram energias do governador João Azevêdo em relação ao trato da questão política-eleitoral, como se ela fosse incompatível com a condução administrativa propriamente dita, da qual não se afastou em nenhum momento, tanto no combate à pandemia de covid como na expedição de ordens de serviços para execução de obras nas regiões interioranas. A impressão ainda reinante nos meios jornalísticos e parlamentares é que faltou a João a habilidade de montar uma coordenação política com antecedência para solucionar demandas que teriam que ser encaradas sem prejuízo da normalidade administrativa. Se a medida tivessse sido tomada e se tivesse havido mais competência de assessores políticos na formulação de metas e diretrizes, teriam sido evitados ou minimizados sobressaltos e atropelos que estão pululando e causando inquietação entre os aliados fiéis do governador do Estado.
Por último, e não menos importante, alega-se que o governador João Azevêdo perdeu muito tempo ocupando-se com a administração de conflitos com o PT da Paraíba para se manter na base de apoio ao pré-candidato a presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. A queda-de-braço permanente com Veneziano Vital do Rêgo (MDB), aliado ao ex-governador Ricardo Coutinho (PT) tem sido extremamente desgastante para os passos de Azevêdo rumo à montagem do seu palanque. Eventuais exigências de alinhamento incondicional que foram postas na mesa, relativas à sucessão presidencial, agravaram o quadro de acomodação, que poderia ter sido diferente. Não é o caso de especular que o governador perdeu vantagem no processo. Mas certamente perdeu tempo que poderia ter sido canalizado para estratégias certeiras e eficazes, permitindo-lhe voar em céu de brigadeiro na competição que corre o risco de tornar-se radicalizada no âmbito da Paraíba.