Nonato Guedes
Numa das falas que proferiu nos últimos dias, foi visível o esforço do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) para demonstrar que sua pré-candidatura ao governo da Paraíba no pleito deste ano não constitui uma aventura política, mas, sim, um projeto obstinado para mudar a realidade do Estado e imprimir um estilo novo de administração pública. Ele deixou claro que não está brincando de ser postulante e que possui maturidade suficiente para empalmar responsabilidades e desafios que uma candidatura ao Executivo estadual demanda. Fez estágio probatório relevante quando administrou Campina Grande, uma das mais importantes cidades do interior do Nordeste, por duas vezes e, em paralelo, tem se aplicado na vida pública nos diferentes mandatos exercidos, de vereador a deputado estadual, deputado federal e atualmente senador.
A pré-candidatura de Veneziano ao governo ganhou corpo após seu rompimento com o governo João Azevêdo (PSB), onde seu grupo chegou a ser contemplado com cargos que acabaram sendo devolvidos em meio à litigância política. As motivações para o rompimento, segundo justificou desde então, foram incompatibilidades que se acentuaram com a gestão de Azevêdo e, colateralmente, sua discordância do método de governo que é posto em prática e que, a seu ver, se caracteriza pela morosidade nas ações, sem uma dinâmica que possa contagiar a população a participar da construção de um novo Estado. Por assim dizer, Veneziano “esperava mais” da gestão de João, inclusive, por ser o governador um técnico que exerceu funções estratégicas no poder local, do planejamento aos recursos hídricos.
A circunstância de ter sido investido no comando do MDB paraibano com a morte do senador José Maranhão forneceu a Veneziano outro argumento para ganhar asas ou autonomia no cenário local, até mesmo pela posição de destaque que alcançou na conjuntura nacional, sendo, hoje, primeiro vice-presidente do Senado Federal. É um posto de observação privilegiado que abriu espaços para o senador Veneziano debruçar-se no conhecimento e análise das mais significativas pautas legislativas que estão em andamento e de detalhes da agenda do governo Jair Bolsonaro, que passou a recorrer mais ao Congresso depois que fechou a parceria com o Centrão, agrupamento fisiológico de notória repercussão. Como primeiro vice-presidente do Senado, o parlamentar paraibano já foi alçado em diferentes ocasiões ao comando propriamente dito do Congresso, fazendo-se peça destacada no pacto de governabilidade assumido pelo Poder Legislativo como forma de evitar vácuos institucionais que porventura provocassem situação de ruptura dos marcos legais vigentes.
A pré-candidatura ao governo da Paraíba decorreu da ambição legítima de se oferecer ao eleitorado como opção para governar o Estado e da necessidade de se impor dentro dos limites da liberdade individual de opção política. A administração de Azevêdo, na ótica de Veneziano, se desviara do roteiro de expectativas alimentadas no fragor da campanha eleitoral de 2018, e, em paralelo, o MDB tinha pretensões autonomistas que não se subordinavam à liderança de outrem. Embora não tenha tido tempo de estruturar melhor o partido para uma campanha majoritária da magnitude da que decidiu enfrentar, Veneziano apoiou-se em outros fatores que poderiam impulsioná-lo, a exemplo do destaque da sua própria imagem e da tradição residual do partido, marcante em regiões estratégicas do Estado, como a própria Capital. O achado maior para ele, entretanto, parece ter sido mesmo a costura da sua adesão à base do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Veneziano passou a investir na aproximação com Lula como fundamental para projetar-se no cenário político-eleitoral paraibano em 2022, competindo com o rolo compressor do esquema do governador João Azevêdo, também situado nessa base, e com a oposição renitente dos aliados do presidente Jair Bolsonaro. É possível dizer-se, hoje, que o senador emedebista é, no Estado, um dos maiores interlocutores do ex-presidente e líder petista, laço que se reforçou com a sua decisão de firmar aliança com o Partido dos Trabalhadores paraibano, abrindo espaços generosos na própria chapa majoritária. Nesse sentido, a aceitação do ex-governador Ricardo Coutinho como pré-candidato ao Senado, malgrado dilema de inelegibilidade que ele enfrenta, foi decisiva para a declaração de Lula de que seu candidato a governador na Paraíba é Veneziano. A atenção se volta para a habilidade que Veneziano precisará ter para formar a sua chapa, administrando vaidades paroquiais, e para o seu próprio desempenho numa contenda onde o governador João Azevêdo ainda tem fichas valiosas para pôr na mesa. Resta provado, com certeza, que não é uma aventura a pretensão de Veneziano.