Nonato Guedes
A cúpula nacional do Partido Socialista Brasileiro, presidida por Carlos Siqueira, avalia como preocupante a chamada crise dos palanques de apoio à pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Paraíba, com favorecimento à postulação do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ao governo, devido à sua aliança com os petistas locais, em detrimento do governador João Azevêdo (PSB), que pleiteia a reeleição. A vinda de Lula ao Estado está sendo anunciada para o dia 4 de agosto, véspera da convenção do PSB, e a alegação da cúpula socialista é que o governador João Azevêdo é referido como favorito no páreo, segundo pesquisas extra-oficiais cujos números não foram repassados para a imprensa.
Mais do que se apegar a pesquisas, o PSB leva em consideração a aliança firmada com o PT em apoio ao ex-presidente Lula e que resultou na escolha do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como pré-candidato a vice, depois que ele se filiou à agremiação socialista como condição para estar no campo da esquerda na campanha eleitoral vindoura. A queixa dos socialistas, aí incluído o deputado federal Gervásio Maia, presidente do partido na Paraíba, é que o acordo nacional não está sendo cumprido no âmbito local, o que pode agravar consequências no curso da campanha. Tem sido cogitada, inclusive, a interferência, no caso dos palanques, do ex-governador Geraldo Alckmin para resolver o “imbroglio” ou, se for o caso, para vir à Paraíba oferecer suporte ao governador João Azevêdo. Seja como for, o caldo entornou e a situação talvez precipite um divisor de águas quanto à corrida presidencial no Estado.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta conciliar correntes políticas adversas nos Estados que apoiam a sua candidatura, mas ele mesmo tem consciência de que as disputas regionais são muito arraigadas e de difícil equacionamento, até porque envolvem contradições locais e embates acirrados, muitas vezes entre ex-aliados. Na Paraíba, Veneziano foi, até pouco tempo, aliado de João Azevêdo, até que decidiu romper com o governo e lançar-se contra o governador. Arrastou para o seu projeto o ex-governador Ricardo Coutinho (PT), que em 2018 foi considerado artífice da eleição de Azevêdo mas que rompeu logo no início da atual gestão por desavença sobre seus espaços de influência no poder. Desde então, Veneziano e Ricardo têm se dedicado a infernizar a vida do governador João Azevêdo. O MDB cedeu a vaga de pré-candidato a senador a Coutinho, mesmo sabendo da sua inelegibilidade atual, que ele procura reverter em instâncias superiores da Justiça. O ex-presidente Lula prestigia Ricardo por sentimentos de gratidão.
Líderes petistas locais acusam o governador João Azevêdo de não ter feito movimentos concretos, proativos, no sentido de, pelo menos, evitar hostilizar ou melindrar o PT na Paraíba. Pelo contrário, o chefe do Executivo teria operado com vistas a dividir o agrupamento petista, atraindo uma ala “mais sensível” para a base do seu governo e partindo para o enfrentamento com o que chamou de ala dissidente, comandada por Ricardo Coutinho e representada por Jackson Macêdo, dirigente estadual da sigla. Só que o bloco de Ricardo tem influência junto à presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e o próprio ex-governador da Paraíba tem linha direta com o ex-presidente Lula. Esse emaranhado de posições fez com que Lula adiasse seguidas vezes a sua vinda ao nosso Estado, na expectativa de uma trégua na briga entre apoiadores. Mas o próprio Lula tocou fogo no parquinho quando, pressionado, deu declaração em vídeo apoiando a pré-candidatura de Veneziano ao governo.
O deputado Gervásio Maia, aliado do governador João Azevêdo, já preveniu que poderia ter sido encontrado um outro jeito de lidar com a escolha do ex-presidente Lula pela pré-candidatura de Veneziano. “Não havia necessidade de Lula tratar dessa forma”, ponderou. Gervásio tem razão porque o tratamento dispensado a Azevêdo pela direção nacional do PT e pelo próprio Lula não é, realmente, o tratamento dado a um aliado. Mais parece que o governador é inimigo, embora seja conhecida a sua luta titânica para voltar ao PSB e situar-se no campo da esquerda e da base lulista. Nos meios políticos, a impressão que vai se formando é que não há fórmula milagrosa para o “caso da Paraíba”. Diante disso, o próprio poder de ingerência de Lula seria mínimo. O quadro se encaminha mesmo para que Veneziano seja o candidato do ex-presidente, restando a Azevêdo apenas a condição de usar imagens ao lado de Lula no seu Guia Eleitoral. A hipótese de reviravolta espetacular nesse cenário é vista como um ponto fora da curva.