Nonato Guedes
A vice-governadora Lígia Feliciano, que ainda resiste politicamente no PDT, acabou mesmo ficando sem espaço para ser protagonista nas eleições de 2022. A direção nacional pedetista, através do novo dirigente estadual Marcos Ribeiro, descartou interesse numa virtual pré-candidatura de Lígia ao Senado em suposta aliança com o esquema do governador João Azevêdo (PSB). Ela já havia tentado se viabilizar como opção para concorrer ao governo do Estado, buscando o apoio do Partido dos Trabalhadores, mas o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) foi mais rápido e, além de atrair o ex-governador Ricardo Coutinho para sua chapa, como postulante ao Senado, estreitou laços com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e obteve deste a promessa de apoio na corrida ao Palácio da Redenção.
Num curto espaço de tempo, no cenário político paraibano, a doutora Lígia logrou ser vice-governadora por duas vezes consecutivas – primeiro, compondo a chapa de Ricardo Coutinho em 2014 e, na sequência, integrando a chapa de João Azevêdo em 2018. Nas duas oportunidades, convém ressaltar, sua escolha foi confirmada praticamente na undécima hora dos prazos para definições em convenções partidárias. Ela se impôs não apenas pela condição estratégica como representante de Campina Grande, mas também pela sua competência e por outros atributos como a sensibilidade de mulher para com as causas sociais dos mais necessitados. Foi uma fase áurea para o PDT sob o comando dos Feliciano na Paraíba, a partir de Campina Grande, tendo como expoente, além de Lígia, o marido, deputado federal Damião, conhecido pela habilidade e livre trânsito nos meios políticos.
O “clã” Feliciano, porém, desandou a cometer movimentos erráticos na conjuntura local, que acabaram lhe custando a credibilidade e a perspectiva de ocupação de espaços. Nas eleições municipais para prefeito em 2020, o grupo rompeu com a orientação política do governador João Azevêdo em João Pessoa, negando apoio à candidatura de Cícero Lucena (PP) e aliando-se ao então prefeito Luciano Cartaxo. A chapa apoiada por Cartaxo tinha a sua concunhada Edilma Freire, ex-secretária de Educação, na cabeça, e Damião e Lígia indicaram a filha Mariana, de quase nenhuma atuação política em João Pessoa, para a vice. A chapa passou longe do segundo turno, que acabou polarizado entre Nilvan Ferreira, então no MDB, e Cícero Lucena. Da parte do esquema de Azevêdo ainda houve ensaio de reaproximação com o “clã”, mas a tentativa revelou-se inviável. No começo deste ano, o “clã” entregou cargos que ocupava na administração, ficando liberado para examinar posicionamento que melhor conviesse no quadro local.
Foi quando Lígia apostou no seu próprio cacife para ser pré-candidata ao governo do Estado, posição em que se colocou durante certo período, com postagens nas redes sociais que pareciam indicar uma postulação irreversível. Faltou, em paralelo, um trabalho competente de mobilização para fortalecer os quadros do PDT no cenário político paraibano, e notou-se certa ambiguidade na posição referente à sucessão presidencial, com Lígia deixando de defender a pré-candidatura do ex-ministro Ciro Gomes, do seu partido, e buscando aproximação com a pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. Foi um erro de cálculo porque, a esta altura, o campo estava minado e a cogitada adesão de Lígia não empolgou o petismo local, atraído pelo canto de sereia do senador Veneziano Vital do Rêgo, com seu pragmatismo mais eloquente. Lígia ficou sem chão e o marido, pressentindo o pior, aproveitou a janela partidária para migrar de partido, fixando-se no União Brasil, numa guinada ideológica radical. O União Brasil está aliado à pré-candidatura de Pedro Cunha Lima (PSDB) ao governo do Estado.
Em relação à trajetória da doutora Lígia Feliciano na vida pública paraibana, é indiscutível que tem sido marcante. Nas gestões de Ricardo Coutinho e, sobretudo, na de João Azevêdo, cumpriu com êxito missões administrativas focadas na atração de investimentos e de investidores do exterior para atuação no Estado da Paraíba. A contribuição relevante por ela desempenhada chegou a ser reconhecida, fora de embates políticos, pelos dois administradores que já foram aliados no passado. Essa performance é suficiente para credenciar Lígia a ocupar qualquer mandato importante nos quadros de poder em âmbito regional – quer como representante no Senado, quer como ocupante do cargo principal do Executivo. Infelizmente, os passos estratégicos que foram trilhados constituíram equívocos políticos fatais para o projeto de protagonismo que era cobiçado. Lígia Feliciano corre o risco de abreviar melancolicamente sua carreira política, contrariando projeções de analistas e expectativas de admiradores ou correligionários.